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José Vicente

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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.

A solução para o caso de racismo no Google: dor no bolso e punição

Em um país no qual a escravização deixou profundas feridas, a resposta de todos tem que ser a execração pública e a responsabilização na Justiça

Por José Vicente
Atualizado em 16 Maio 2024, 00h01 - Publicado em 8 jun 2023, 10h46

Se alguém pudesse ter dúvidas da necessidade de a sociedade colocar freios na tentativa de alcance de verdadeira soberania estatal e na irresponsabilidade integral pelas ações e omissões pretendido pelas chamadas big techs, essas dúvidas não existem mais. As onipotentes e arrogantes grandes empresas de tecnologia que monopolizam e dominam o mercado produzindo impactos profundos e diretos na vida, na privacidade e na liberdade dos indivíduos e da sociedade. Elas produzem benefícios, mais produzem da mesma maneira danos e malefícios de toda a natureza. A tentativa de intervenção no processo de debate e discussão da lei de liberdade, responsabilidade e transparência na internet, e o pagamento de mais de dois milhões pelo Google na tentativa de influenciar a opinião e garantir seus interesses e privilégios dá a exata dimensão dos riscos que todos, cidadãos e sociedade estão expostos.

Todavia o episódio de racismo explícito em que a empresa Google recepciona, acolhe, divulga e impulsiona um aplicativo com jogo que simula a escravidão, propõe ao jogador ser um proprietário de escravos e estimula que pessoas negras devam ser castigadas ao longo das partidas, é uma daquelas ocorrências que soma a arrogância, à repugnância e revolta que precisa e deve indignar e ofender todos os brasileiros. O Google retirou o jogo do ar, mas a atitude não é suficiente.

Num país onde a escravização deitou feridas abertas e incuráveis, onde as pessoas são definidas, selecionadas e hierarquizadas como inferiores e superiores pela cor da pela negra ou branca, e onde os negros são invisíveis, apagados e excluídos dos cargos medianos de empresas que se vangloriam de estarem filiadas à filosofia da responsabilidade social e racial, como é o caso explicito da Google, que sequer possui funcionários negros em números adequados, a resposta de todos tem que ser a execração pública e a responsabilidade draconiana.

Como define o mandamento legal, o resultado de que depende a existência do crime é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem qual o resultado não teria ocorrido. Assim, todos e mais ainda seus dirigentes devem ser chamados à responsabilidade e devidamente apenados pelo relaxamento, desleixo e descaso, e, sobretudo profundo desrespeito com mais de 100 milhões dos negros brasileiros.

A ação de reparação de danos no valor de 100 milhões impetrada pela ONG Educafro deve ser seguida por tantas outras e a justiça precisa e deve não só acolher como punir de forma exemplar uma empresa que soma a arrogância comercial com sua incúria racial, numa profunda transgressão de suas finalidades econômicas empresárias e com os propósitos basilares de respeito a dignidade da pessoa humana.

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