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Informação e análise
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Racha entre evangélicos pode respingar em Bolsonaro

Choque entre frações neopentecostais leva a inédita disputa pelo comando da Frente Parlamentar Evangélica, com chance de sequelas para presidente-candidato

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 dez 2021, 14h49 - Publicado em 26 dez 2021, 08h00

Há um racha entre líderes evangélicos, com reflexos no Congresso. É provável que o choque entre frações neopentecostais resulte, em fevereiro, numa inédita disputa no voto pelo comando da Frente Parlamentar Evangélica, com possibilidades de sequelas na campanha de Jair Bolsonaro. Em 2018, Bolsonaro se elegeu com o dobro de votos nesse segmento em relação com o adversário  do PT, Fernando Haddad.

Frentes são formas de associação comuns no Legislativo — atualmente existem mais de quatro dezenas. Suprapartidárias, são heterogêneas, e agregam deputados e senadores em questões de interesse comum ao eleitorado que representam.

A frente evangélica se distingue pelo poder de mobilização. Principalmente, quando se une a outros grupos de origem religiosa, como o dos parlamentares católicos, em aspectos da agenda conservadora sobre família, aborto e drogas, ou em questões estratégicas comuns, como ocorreu três semanas atrás na votação para isentar templos da cobrança de um tributo, o IPTU.

Isoladamente, é a força de maior potencial de influência dentro do Congresso, supera a Frente Parlamentar da Agropecuária.

Tem 194 deputados federais inscritos, de diferentes partidos. Em tese, dispõe de mais votos no plenário da Câmara do que o maior partido, o União Brasil (fusão do PSL com o DEM), que nasce em janeiro com 82 deputados. Reúne sete senadores, metade do que possui o MDB, dono da maior bancada no Senado, e um a menos que o União Brasil.

Sua característica é a diversidade na representação suprapartidária dos interesses de quase duas mil denominações, frequentadas por cerca de 20% da população que se autodeclara cristã evangélica. Mas essa,  também, é a gênese da sua maior dificuldade: é rara a atuação coesa e uniforme dos  associados.

A disputa pelo comando da frente, posição de prestígio político, ocorre entre alas da maior das congregações, a Assembleia de Deus, composta por centena e meia de agrupamentos nacionais autônomos, com cerca de 13 milhões de integrantes.

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Dois líderes estão em confronto aberto pela presidência: Samuel Ferreira, herdeiro do Ministério Madureira, e Silas Malafaia, da Vitória em Cristo.

São pastores com poder de influência sobre frações da bancada de deputados evangélicos. Em 2019, Ferreira indicou o deputado Antonio Cezar Correia Freire (PSD-SP), conhecido como Cezinha de Madureira, para presidir a frente.

Madureira foi eleito por aclamação, como é habitual nesse núcleo parlamentar. O mandato é de dois anos, mas teria sido combinado que , no ano eleitoral de 2022, ele entregaria a presidência da frente ao grupo do pastor Malafaia, que no deputado Sóstenes Cavalcante (União Brasil/RJ) seu principal representante.

Mas o Ministério Madureira, mudou de ideia. Há dez dias Ferreira comunicou a Jair Bolsonaro que pretende lutar pela permanência do seu deputado no comando da frente parlamentar.

Malafaia, que celebrou o casamento de Bolsonaro, reagiu duramente. Havia engendrado uma máquina eleitoral no Rio, com Sóstenes na direção do diretório estadual do União Brasil, que lhe permitiria alavancar candidaturas de deputados na base do bolsonarismo. E o comando da frente seria relevante nessa alavancagem eleitoral.

Sóstenes Cavalcante, deputado federal pelo União Brasil do Rio e candidato ao comando da frente evangélica durante o ano eleitoral
Sóstenes Cavalcante, deputado federal pelo União Brasil do Rio, candidato ao comando da frente evangélica durante o ano eleitoral— (Mariana Ramos/Câmara dos Deputados)

Malafaia cobrou o acordo, segundo ele expresso em ata assinada. “Vamos aguardar para ver se eles têm caráter ou não, e vamos reagir conforme a decisão deles” — anunciou ao Estadão.

A primeira evidência do racha no plenário da Câmara foi percebida na semana passada, durante a decisão sobre a “urgência” de votação da liberação do jogo do bicho, cassinos, bingos, loterias e apostas eletrônicas.

É discutível a “urgência” da Câmara para votar o fim da proibição de jogos decretada há 80 anos, e a partir de um projeto de legalização que vagueia por lá há 30 anos e nove meses. É notável, sobretudo, a pressa na decisão em coincidência com o calendário eleitoral de 2022.

Tradicionalmente, os grupos evangélicos se opõem à liberação dos jogos. Desta vez, aliados de Malafaia acusaram a ala de Madureira de contemporizar com o Centrão, interessado em permitir cassinos, em troca da isenção de IPTU para os templos. Eles negam.

A coesão desses grupos será testada em fevereiro, na votação do projeto de lei para liberar os jogos. É quando se prevê  o confronto entre os pastores Ferreira e Malafaia pelo controle do comando da frente parlamentar. Há uma guerra em curso na cúpula da ala evangélica neopentecostal bolsonarista.

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