Já começou a campanha para as eleições de 2026. Reunida nesta segunda-feira (28/10) para um balanço preliminar das perdas e danos na eleição municipal, a direção do Partido dos Trabalhadores chegou à primeira conclusão sobre a próxima disputa eleitoral: o PT vai precisar de Lula, de novo, como candidato à reeleição.
Para alguns dirigentes, é questão de de sobrevivência eleitoral, e condição essencial à necessária reinvenção – para alguns, refundação – do partido. “Devemos fazer uma aliança muito mais ao centro, ampliar, para reeleger o presidente Lula”, anunciou a deputada federal Gleisi Hoffmann, que comanda o Diretório Nacional até maio do ano que vem.
Lula completou 79 anos no último domingo, dia em que assistiu à consolidação nas urnas de uma significativa derrota dele e do seu partido. Em termos pessoais, já conta mais da metade da vida na luta pelo poder, no papel de candidato permanente do PT. Agora, enfrenta o dilema de se candidatar ou não à reeleição em 2026, quando completará 81 anos de idade.
Não é decisão simples. Em tese, Lula ainda tem vinte meses para decidir se vai ou não à reeleição. O debate iniciado no PT, por um lado, pode ser favorável ao seu interesse de longevidade no poder. No entanto, a pressão dentro e fora do PT tende a lhe impor dificuldades crescentes para conduzir a permanência ou a sucessão.
Qualquer sinalização sobre candidatura à reeleição vai representar, para o governo, um custo político extra. De imediato, dividiria o Congresso, onde o governo até agora navegou com relativa tranquilidade e, na essência, aprovou tudo o que quis.
A lógica da reeleição de Lula, como indica a presidente do PT, que no partido é vista como porta-voz dele, significa reeditar e “ampliar” a “frente ampla” que garantiu vitória contra Bolsonaro em 2022. Ela existiu na campanha, mas morreu de desidratação logo depois, ainda no período da transição quando Lula entregou ao efetivo domínio petista as áreas-chave de governo.
Essa nova “frente ampla” poderia vir a ser útil como ferramenta na reinvenção do PT, como sugerem alguns dirigentes do partido, porque obrigaria a uma revisão do conceito de hegemonia petista em momentos eleitorais e, sobretudo, na operação de governança, num regime de coabitação de fato.
Esse exercício retórico tem dificuldades de avanço entre dirigentes petistas. Boa parte teme que a ampliação de alianças com partidos de centro e frações de centro-direita privilegie Lula, como candidato à reeleição, à margem dos interesses do PT ou, eventualmente, contra o PT.
É risco intrínseco na lógica hoje predominante da refundação partidária.
Uma alternativa seria manter tudo como está e, mais adiante, indicar a aposentaria de Lula do ofício de candidato permanente do PT. O risco implícito seria o de o governo acabar antes do mandato, pela simples falta de perspectiva de poder – como ocorreu no final do mandato de Fernando Henrique Cardoso, que foi sucedido por Lula. Além disso, haveria uma luta fraticida pela indicação do candidato petista ou aliado para disputar a presidência em 2026.
A ironia é que, aos 44 anos de idade, o PT continua dependente de Lula no ofício de candidato petista permanente.