Para Guedes, estatal do trem-bala e das ferrovias é “centro de corrupção”
Valec é uma das dez empresas do ministério comandado por Tarcísio de Freitas, que ontem foi convidado por Bolsonaro a se candidatar ao governo de São Paulo
Paulo Guedes, ministro da Economia, disse em Dubai que a empresa estatal Valec já deveria ter sido fechada. Definiu-a como um “centro de corrupção”.
A Valec é uma das dez empresas no organograma do Ministério da Infraestrutura, comandado por Tarcísio de Freitas. Por coincidência, ontem ele foi convidado por Jair Bolsonaro a se candidatar ao governo de São Paulo.
Guedes não deu detalhes sobre “o centro de corrupção” da Valec. Pelos dados do Ministério da Economia, essa estatal tem 650 funcionários, orçamento acima de R$ 600 milhões e depende do Tesouro Nacional para manter as portas abertas.
Está envolvida no principal projeto de infraestrutura do governo Bolsonaro, a recuperação da malha ferroviária perdida há quase um século.
Tem histórico de corrupção, no qual se destaca o antigo Partido da República, atualmente Partido Liberal, condômino do Centrão, que é o esteio parlamentar do governo. O PL tem tradição de domínio de áreas-chave em ministérios e estatais do setor de infraestrutura. Conserva influência, por exemplo, na Infraero, especializada em aeroportos.
É o mesmo PL ao qual Bolsonaro quer se filiar, junto com uma troupe de parlamentares que dele dependem para renovar mandatos no ano que vem. As negociações são feitas diretamente com Valdemar Costa Neto, virtual dono dessa organização política — às vezes em “intensa troca”de mensagens, como ocorreu no fim de semana.
A Valec despontou em múltiplos inquéritos no rastro do Mensalão, no governo Lula. Era presidida por José Francisco das Neves, o “Doutor Juquinha” ou simplesmente “Juquinha”, personagem do enredo político de Goiás.
“Doutor Juquinha” estava no MDB , comandado a estatal goiana de energia, e, na ascensão do PT ao poder central, migrou para o PR/PL de Costa Neto. Chefiou a Valec em empreitadas ferroviárias que resultaram na sua prisão. Zelou pelo projeto do trem-bala, estimado em R$ 35 bilhões (preço de 2007), na época uma obsessão da então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
O trem-bala não saiu do papel, “Doutor Juquinha” foi se entender com a Justiça e a Valec continuou no mapa da administração federal, dependente do Tesouro. Hoje está no centro da maior empreitada planejada no governo para Bolsonaro exibir como trunfo na campanha de 2022: o projeto de recuperação da malha ferroviária nacional.