Jair Bolsonaro teme os efeitos das palavras “racionamento”, “blecaute” e “apagão”, proibidas no governo. Também não pretende adotar medidas de contenção compulsória do consumo de energia, prefere a espontaneidade da “economia voluntária”.
Como na pandemia, o problema com a energia é a realidade. Ontem, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) advertiu que “é imprescindível” aumentar a oferta de energia em 5,5 gigawatts médios entre setembro e novembro, para assegurar o abastecimento. Não é pouca coisa.
Significa que o déficit previsto de eletricidade nos próximos três meses é equivalente a 39% da quantidade de energia produzida pela Usina de Itaipu em tempos normais, com 20 turbinas geradoras e 14 GW de potência instalada em operação contínua para abastecer 16 Estados, principalmente o parque industrial do Sudeste.
A situação se agrava, segundo o ONS, na “degradação das condições de armazenamento” de água nos reservatórios das hidrelétricas, principalmente na região Sul, onde revisões de estimativas meteorológicas indicam menor volume de chuvas entre agosto e novembro do que nesse mesmo período do ano passado.
O risco de racionamento aumentou, com impacto numa economia em agonia fiscal e ainda em recuperação da crise sanitária. São inevitáveis, e crescentes, os reflexos diretos na inflação — a taxa beira dois dígitos mensais, corrói as economias das famílias pobres e já arrasta a candidatura de Bolsonaro, como mostram pesquisas de intenção de voto.
O governo insiste em dissimular o aviso de perigo. Sem clareza com a sociedade, não pode esperar solidariedade.