Chefes Yanomami estiveram em Boa Vista no fim de semana. Relataram a intensificação dos ataques armados na reserva indígena nos últimos 15 dias. Um dos atentados não foi contra os índios. No alvo estavam agentes da Polícia Federal que investigavam rotas de garimpo ilegal.
Na semana passada, índios e policiais haviam confirmado às repórteres Kátia Brasil, Emily Costa e Elaíze Farias, da agência Amazônia Real, uma novidade nessas ações armadas: a participação de integrantes do grupo narcotraficante Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ele avança no patrocínio do garimpo ilegal de ouro, no suprimento dos garimpeiros e no controle das principais rotas de navegação fluvial dentro da reserva Yanomami. É uma operação de baixo risco em comparação, por exemplo, ao roubo de banco em áreas urbanas. E proporciona alta lucratividade, que sustenta a expansão da principal frente de negócios, o tráfico de drogas.
Rica em ouro, a reserva Yanomami está sendo explorada e degradada por grande número de garimpeiros invasores. Imagens de radar e satélites indicam que mais da metade da devastação provocada se concentra nas margens de um só rio, o Uraricoera.
Na escala atual, informa o Instituto Socioambiental, essas atividades requerem organização empresarial com uso de maquinário pesado, caro, e manutenção de uma rede de apoio (terrestre, aérea e fluvial) de características semelhantes à de um empreendimento de mineração de médio porte.
Há uma evidente perda de capacidade dos órgão públicos de proteger a reserva Yanomami. A falência do poder estatal nesse tipo de conflito em toda a a Amazônia apenas atesta o vazio da retórica da burocracia, em Brasília, sobre desregulamentações ou formalização de atividades de garimpo. Jair Bolsonaro planeja visitar uma área mais controlada do outro lado, no Amazonas.
A disputa na terra Yanomami já não está restrita a garimpeiros, os índios e o Estado. Se tornou um confronto de quadrilhas do crime organizado, “facções” do narcotráfico: os bandos brasileiros enfrentam, também, grupos armados venezuelanos vinculados a organizações narcoguerrilheiras, que passaram a dominar todo o entorno da rodovia de 930 quilômetros, entre Boa Vista e Ciudad Bolivar.