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Informação e análise
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O deputado Bolsonaro chega ao quarto processo de cassação

Em defesa prévia, ele se resguardou numa argumentação flácida: mais uma vez, diz que não disse o que disse, tentou dizer ou escreveu

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 abr 2022, 12h58 - Publicado em 5 abr 2022, 08h00

Eduardo Bolsonaro, deputado federal  por São Paulo e candidato à reeleição pelo Partido Liberal, apresentou ontem sua defesa prévia ao quarto processo de cassação de mandato registrado no Conselho de Ética da Câmara nos últimos três anos.

Alegou ter feito “uma piada” sobre a prisão e a tortura durante a ditadura enfrentadas pela jornalista Miriam Leitão. Na época, ela estava grávida.

Piada, informam os dicionários, é o que se diz com a intenção de fazer rir.

O deputado se resguardou numa argumentação flácida: mais uma vez, diz que não disse o que disse, tentou dizer ou escreveu.

Essa, talvez, tenha sido a única nota de humor no episódio: ele se repete na autoqualificação de alguém que não se pode levar a sério por se retratar ridículo — uma piada de má qualidade.

É o que mostra o histórico dos seus três processos de cassação por violação constitucional arquivados na Câmara, um ano atrás, pela benevolência, às vezes relutante ou eventualmente interessada, de aliados do governo do seu pai.

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Ele nega, de novo, ter feito apologia, defesa, justificativa ou elogio da tortura (sujeito oculto na sua “piada”) como política de Estado, a gangrena do regime militar, como descreveu Elio Gaspari no magnífico “Ilusões Armadas”..

Mais de seis mil casos estão catalogados. São exemplos do primitivismo policialesco, da banalidade da perversão, da desordem e da indisciplina nas Forças Armadas.

O elogio da tortura na ditadura prestigia uma burocracia da violência que tornou possível, por exemplo, um capitão ascender rapidamente ao posto de “marechal” na hierarquia do crime no Rio de Janeiro.

O deputado não só exalta ditadura, tortura e torturadores, para, repetidamente, se desmentir. Em público, até foge deles.

Às vésperas do Natal de 2018, na esteira de uma votação recorde (1,8 milhão, a maior parte na cidade de São Paulo) e com o pai eleito presidente, viajou ao Chile para encontros com nostálgicos do ditador Augusto Pinochet.

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Durante a visita, recebeu uma carta-convite de alguns dos torturadores da polícia política do antigo regime.

“Queremos que nos ajude junto ao seu pai para que possamos nos organizar na defesa daqueles valores e princípios que nos representam e que foram traídos pelos que elegemos” —  escreveram. “Queremos aproveitar sua passagem pelo Chile para convidá-lo a nos visitar no presídio de Punta Peuco para que constate a idade avançada e o estado de saúde em que soldados na reserva, como seu pai, estão cumprindo pena”.

Eduardo Bolsonaro refugou. Fez do silêncio sua resposta à súplica por solidariedade dos militares presos e condenados por tortura e assassinato.

Restou indelével a mútua identificação. É fator subjetivo, já destrinchado pela filósofa Hannah Arendt em “Eichmann em Jerusalém”, clássico sobre a burocracia da violência e da banalidade do mal: “Muitos não eram nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais.”

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