O clima é de festa no interior. Nunca se ganhou tanto dinheiro no campo: prevê-se faturamento trilionário no agronegócio neste ano.
A receita do setor deve ultrapassar R$ 1,2 trilhão, calcula a Confederação Nacional da Agricultura com base nos resultados do primeiro trimestre. Assim, haveria aumento de 15% no volume de caixa em comparação com ano passado, que já foi recorde.
As exportações somaram US$ 13,57 bilhões no mês passado. Foi o melhor abril de todos os tempos, pelos dados oficiais disponíveis desde 1997. Aumento de 39% em relação ao ano passado.
Entre janeiro e abril, foram US$ 36,8 bilhões em vendas externas, representando 45% de tudo que o país vendeu ao exterior. Gastou-se US$ 5 bilhões em importações, alta de 9,4% em relação aos primeiros quatro meses do ano passado.
O tempo segue favorável aos negócios, estimulados pela valorização das commodities agrícolas e pela maxidesvalorização do real.
O outro lado dessa temporada de multiplicação de lucros é o avanço da inflação doméstica. Nos doze meses contados até março, os preços dos produtos alimentícios subiu 11,7%, tendo-se como referência o Índice de Preços ao Consumidor (IPC).
O impacto na renda domiciliar é grande para ampla maioria dos brasileiros, porque gastos com alimentação consomem cerca de 60% dos orçamentos das famílias.
Mas é boa notícia a mudança de rumo no campo. O ciclo atual é oposto ao de 2017-2019, quando a renda na agricultura e na pecuária caiu em média 20% (descontada a inflação), mesmo registrando-se um crescimento de 19% na produção.
Os reflexos da bonança estão visíveis nas fazendas e nas empresas de serviços.
Na produção, caso exemplar é o da família Maggi. Está aumentando em 34% a sua área de cultivo de grãos e fibras em Mato Grosso, onde já produz 1,1 milhão de toneladas por ano.
Ampliou o terreno em 62 mil hectares, equivalente ao tamanho da cidade de Foz do Iguaçu, na aquisição de 14 fazendas do grupo argentino El Tejar.
A transação foi confirmada pelo órgão estatal regulador da concorrência (Cade) no final de março, pouco depois da bem sucedida estreia da trading Amaggi no mercado de capitais, com emissão de US$ 750 milhões em títulos “sustentáveis”.
Além do ciclo de safras e preços recordes, e do aumento das compras chinesas (80% da soja brasileira), o grupo tem sido beneficiário de um aumento constante de padrões de eficiência. Maior produtor e exportador de soja, colhia 56 quilos por hectare em 2015, avançou para 64 kg/ha e deve ultrapassar 66 kg/ha neste ano.
Os efeitos dessa temporada próspera, naturalmente, se estendem aos fornecedores de máquinas e insumos (fertilizantes, defensivos e sementes). As encomendas de novas máquinas avançam ao ritmo de 40% por mês, desde janeiro.
Redes varejistas estão em plena expansão. A AgroGalaxy, controlada pelo fundo Aqua Capital, vendeu pouco mais de R$ 4 bilhões no ano passado, 30% acima do patamar de 2019. Tem uma centena de lojas e planeja abrir mais 60, entre o Paraná e o Maranhão.
O ciclo é benéfico, também, porque está induzindo a maior rapidez nas decisões empresariais sobre a transformação tecnológica dos negócios no campo.
Preocupados com a possibilidade de vir a perder parte do seu poder de competição no mercado mundial, fazendeiros e fornecedores se tornaram os principais agentes da pressão política sobre o governo Bolsonaro para acelerar a montagem da rede de internet 5G no país. O governo corre para demonstrar interesse. Mês passado começou testes de 5G em Rondonópolis (MT).
Velocidade e estabilidade da rede de comunicação se tornaram cruciais nas fazendas, onde máquinas identificam doenças nas plantas, medem o teor de argila e o nível de fertilidade do solo, indicam e monitoram a gestação e as doenças dos rebanhos.
Há pelo menos 350 empresas de serviços tecnológicos para agropecuária com projetos investimentos à espera da operação da rede 5G no país.