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Na mesa de Lula: ameaças de Milei ao Mercosul e de Maduro à Guiana

Crises simultâneas de Norte a Sul levam governo brasileiro a correr contra o tempo para conter danos na política para a América do Sul

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 19h58 - Publicado em 21 nov 2023, 08h00

O governo corre contra o tempo para conter danos na política para a América do Sul.

A eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina, levou Lula a apelar a Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, para concluir rapidamente as negociações comerciais entre a Europa e o Mercosul, pendentes há duas décadas.

Na hipótese otimista, esse acordo estaria selado em quinze dias, até a quinta-feira 7 de dezembro, quando o Brasil passa a presidência temporária do Mercosul ao Paraguai.

Setenta e duas horas depois, no dia 10, Milei assume o governo argentino. Na campanha, ele anunciou a saída do bloco, com acordos exclusivos de livre comércio, e redução a zero dos impostos sobre importações argentinas. Resultaria na demolição do pilar principal do bloco — a política de taxa comum que Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai aplicam sobre compras feitas fora do bloco. Sem Argentina, dificilmente haveria razão para um acordo Mercosul com a Europa.

Enquanto a crise contratada com o vizinho do sul ganhava forma com a eleição de Milei, no domingo, o jogo da política externa brasileira se complicava na fronteira norte, com a Venezuela simulando um referendo para legitimar a anexação de dois terços do território da Guiana. A ditadura de Nicolás Maduro marcou a consulta para 3 de dezembro.

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Horas antes do ensaio em Caracas, o presidente da Guiana Irfaan Ali anunciou ter assumido “compromissos com sócios estratégicos” para enfrentar eventual “agressão militar” venezuelana.

Ali evitou nomear países, mas quando lhe perguntaram se teria apoio militar dos Estados Unidos, do Reino Unido, Holanda e outros países europeus, respondeu ter “assegurado” a assistência necessária em caso de guerra. “Acreditamos que a Venezuela não vi agir de maneira imprudente”, disse, “mas se atuar com imprudência, acionaremos nossos sócios estratégicos”.

A Guiana é uma província petrolífera recém-descoberta pela Exxon, dos EUA, com áreas em licitação também para empresas europeias. O país pediu intervenção emergencial da Corte Internacional de Justiça, da ONU. Em audiência nesse tribunal, específico para disputa entre nações, representantes do governo da Guiana apresentaram dados, fotos e videos sobre a mobilização militar da Venezuela na fronteira —  um dos videos militares da Venezuela descrevem a construção de base aérea.

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A ditadura comandada por Maduro está usando a ameaça de invasão da Guiana como arma política doméstica. Lançou o referendo — considerado inconstitucional — horas depois de confirmada a vitória de María Corina Machado líder da oposição nas prévias partidárias para a eleição presidencial do ano que vem. Ela venceu com 2,2 milhões de votos (92% do total), surpreendendo o governo e a maioria dos líderes oposicionistas.

Diante da possibilidade de uma derrota eleitoral, a cleptocracia comandada por Maduro improvisou referendo sobre a anexação de 160 mil quilômetros quadrados da Guiana na região de Essequibo, onde está a maioria dos depósitos de petróleo. Com essa consulta legitimaria a decretação de estado de defesa, com mobilização militar nacional, requisição de bens e propriedades particulares e, claro, a suspensão das eleições.

A realização de eleição presidencial em 2024 foi acertada em longa negociação com o Brasil, Estados Unidos e Colômbia, entre outros. A Venezuela aceitou quando os EUA toparam retirar parcialmente as sanções econômicas, impostas há duas décadas.

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O acordo poderá ser anulado se o regime ditatorial de Maduro insistir em impedir a candidatura de María Corina Machado ou usar qualquer outro tipo de artifício para se manter no poder, avisou o secretário de Estado americano Anthony Blinken, na quinta-feira. Lula chamou assessores para discutir a situação. Um deles, Celso Amorim, vai a Caracas conversar com Maduro.

Crises ao norte, entre Venezuela e Guiana, e ao sul, com a eleição de Milei na Argentina, estão impondo ações rápidas para contenção de danos e obrigando a mudanças de rota na política do governo Lula para a América do Sul.

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