Lula convidou os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal para uma reunião na tarde desta terça-feira, 17. Vai anunciar ações ambientais.
Há incêndios em 20 Estados, registra o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Isso significa fogo se alastrando por 74% do país.
Ontem, Lula promoveu uma breve discussão sobre o que fazer nessa emergência, que começou três meses atrás.
É eloquente a imagem dessa reunião do presidente com ministros. O governo, literalmente, ficou sem horizonte: da sala no Palácio do Planalto quase nada se enxergava pelos janelões de vidro por causa da fumaça densa que encobria Brasília.
Lula se enredou na política ambiental. Gastou 20 meses no governo tratando a crise climática com superficialidade e contradição.
Cristalizou-a na moldura de um evento, a conferência da ONU em Belém, no próximo ano, como se fosse tema de um festival na Floresta Amazônica.
Ao mesmo tempo, fomentou um embate político sobre a preservação da estrutura econômica baseada em combustíveis fósseis, a partir da exploração de petróleo na Amazônia.
Passivo, assistiu à ofensiva combinada do PT e do centrão, dentro do Congresso, para desidratar o Ministério do Meio Ambiente.
Compassivo, interveio no final para resgatar Marina Silva quando ela já havia perdido formalmente quase todo o espaço de poder do ministério — incluída uma fatia substancial do orçamento.
É a forma que Lula escolheu para governar impasses na política ambiental.
A mensagem que transmitiu está refletida no crescimento significativo da avaliação negativa feita pelos eleitores sobre a sua atuação na área de meio ambiente.
O Ipec, por exemplo, acaba de confirmar um crescimento no coro de críticas: em abril, 33% julgavam “ruim” ou “péssimo” o desempenho de Lula em questões ambientais; na semana passada, a reprovação era feita por 43%. O que significa aumento de 10 pontos percentuais em apenas cinco meses.
Poderia ter sido diferente, caso houvesse seguido o próprio discurso e transformado a política ambiental no eixo da administração.
“O combate às mudanças climáticas terá o mais alto perfil na estrutura do próximo governo”, anunciou depois de eleito, em novembro de 2022, na conferência da ONU no Egito.
Encerrava uma campanha eleitoral na qual tivera o cuidado de apresentar com ênfase a ideia de um governo centrado na política ambiental — da economia à diplomacia.
Em gesto simbólico, acenou com criação de uma “autoridade climática”, uma agência estatal independente, com autonomia para capitanear a guinada política e administrativa (embora seja conhecida a sua aversão a órgãos estatais autônomos). Esqueceu esse projeto, relegando-o ao jogo de poder entre ministros. Vinte meses depois da posse, voltou a falar na “autoridade climática”.
Depois da posse, tudo continuou onde estava. A prioridade ao meio ambiente como vitrine da política externa foi substituída por uma agenda irrealista de mediação de conflitos — entre eles, as guerras da Rússia com a Ucrânia; de Israel com o Hamas; e, ainda, a “normalização” da ditadura venezuelana na paisagem da América do Sul.
Deu tudo errado. E, com o aumento das fragilidades do governo na política ambiental, Lula ficou exposto ao fogo, fuligem e fumaça dominantes na paisagem em dois terços do país.
Na crise, o governo passou a procurar alguém para culpar. Semana passada, disseminou boatos sobre uma “ação orquestrada” na qual incluiu governadores da oposição com interesses em garimpo de ouro.
Táticas assim permearam a ação do governo anterior. Bolsonaro culpava organizações não governamentais pelos incêndios e alardeava uma conspiração planetária para “roubar” a Amazônia.
Na semana passada, Lula não gostou de ouvir a crítica de Yakuy Tupinambá, líder comunitária de Olivença (BA), ao encontrá-la no Museu Nacional, no Rio. Ela foi direta na avaliação que fez em público e diante dele: “Um governo enfraquecido, acorrentado às alianças e conchavos para se manter no poder”.
Descontada a carga ácida, é uma síntese em 13 palavras da percepção dominante e traduzida em diferentes pesquisas de opinião.