Joe Biden enlaçou e enquadrou Jair Bolsonaro.
Em abril, na reunião de cúpula sobre mudanças climáticas, Biden nem ouviu o que Bolsonaro tinha a dizer. Saiu da sala antes do presidente brasileiro se apresentar.
Agora, vai abrir um canal direto com os governadores estaduais.
Na quinta-feira, John Kerry, o negociador de Biden para assuntos sobre meio ambiente, tem um encontro virtual marcado com os governadores Wellington Dias (PT-PI), Renato Casagrande (PSB-ES), João Doria (PSDB-SP), Eduardo Leite (PSDB-RS), Reinaldo Azambuja (PSDB-MS) e Flávio Dino (PSB-MA).
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São todos de oposição a Bolsonaro. Na reunião representam, também, outros 15 governadores estaduais interessados em negociar diretamente com o governo americano um conjunto de iniciativas de preservação ambiental que abrangem desde o saneamento público àquilo que chamam de “ativos verdes” — biomas do Sul, Sudeste e da Amazônia.
Kerry foi senador e ex-secretário de Estado no governo Obama. Na versão oficial, a conversa foi pedida pelos governadores sob a justificativa de sondagem de um “aporte técnico e financeiro adequado” do governo e de empresas privadas dos Estados Unidos para uma dúzia de projetos ambientais, preparados especificamente para essa reunião.
Na prática, Washington vai inaugurar uma linha de comunicação direta com os governadores, atores políticos cuja relevância foi realçada na catástrofe pandêmica, está refletida nas pesquisas de opinião — todos têm nível de aprovação muito superior ao de Bolsonaro — , e tendem a desempenhar papel fundamental nas eleições do próximo ano, como candidatos ou aliados influentes.
Bolsonaro hostilizou Biden abertamente durante toda a campanha eleitoral americana, no ano passado. Até insinuou a possibilidade de ele ter roubado a eleição do ex-presidente Donald Trump, de quem se considerava aliado. Foi um dos últimos a admitir a vitória do adversário de Trump.
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Não se pode dizer que a Casa Branca esteja dando o troco, porque seria atribuir a Bolsonaro uma relevância no mapa-múndi que não possui. Mas na cena proliferam marcas de competência da diplomacia americana, há cinco meses operando em silêncio.
Subestimar Biden é sempre arriscado. No legado invisível da Copa de 2014 ficcou uma operação política bem-sucedida, que ele conduziu em absoluto silêncio quando era vice-presidente. Foi a reaproximação de Dilma Rousseff e Barack Obama.
Estava com 71 anos e já carregava a fama de um tipo heroico para os humoristas. Candidato a vice, na campanha de 2008, Biden foi a um comício em Columbia (Missouri). E convocou ao palanque um aliado local, Chuck Graham: “Levanta-te, Chuck, deixe que eles te vejam!” Graham sorriu, e continuou na sua cadeira de rodas.
Às vésperas da eleição, em Nashua (New Hampshire), teve um ataque de “sincericídio” sobre a sua escolha: “Hillary Clinton é tão qualificada, ou mais qualificada do que eu para ser vice-presidente dos EUA. Francamente, acho que poderia ter sido melhor escolha do que eu.”
Um ano antes, em maio de 2013, Biden desceu em Brasília com o convite de Obama para Dilma Rousseff visitá-lo em Washington. Semanas depois O Globo revelou a espionagem americana, a partir da “estação” das parceiras NSA e CIA em Brasília. Dilma cancelou a visita.
Seguiu-se um balé diplomático de oito meses, e Obama entregou a Biden o ato final. Durante a Copa, ele desembarcou no Brasil, assistiu a um jogo da seleção americana, subiu morros do Rio e, em seguida, desceu até o Planalto. Ficou algumas horas, conversou com Dilma e voltou a Washington.
Dias depois, Dilma deu uma entrevista à repórter Christiane Amanpour, da CNN. Surpresa: ela não só isentou Obama pela espionagem como culpou o antecessor na Casa Branca, o republicano George W. Bush, por aquilo que chamou de “processo” no período pós-atentados terroristas de 2001.
Biden ganhou a Copa de 2014 dentro do Palácio do Planalto.