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Humor do eleitor

Mais de um terço dos paulistanos diz ter ‘vergonha’ e ‘medo’ na eleição

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 out 2024, 12h02 - Publicado em 4 out 2024, 06h00
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    Urna eletrônica  (Roberto Jayme/TSE)

    São 156 milhões de brasileiros em ação nas urnas. É mais gente do que a população da Rússia ou do México, e mais de três vezes a da Argentina.

    Massa em movimento sempre tem o poder de provocar terremotos. O resultado político dependerá do humor do eleitor entre a casa e o local de votação. Em São Paulo e em mais uma centena de cidades, ele vai fazer esse trajeto duas vezes neste mês.

    Há uma pitada de ironia melancólica na decisão de voto. Pesquisadores da Quaest começaram a semana nas ruas da capital paulista com uma pergunta: “Qual é o seu sentimento em relação à eleição municipal deste ano?”.

    Mais de um terço (35%) revelou um misto de “vergonha” e “medo”. Representam 3,8 milhões no universo de eleitores paulistanos que se dizem constrangidos por atravessar cinco semanas expostos a uma campanha burlesca, intoxicada por propostas malucas, como a da construção de teleféricos numa cidade plana, e inflada por um marketing de pastelão cenográfico, com murros e cadeirada.

    Políticos podem se sentir confortáveis fingindo que não estão entendendo a ambiguidade na atitude dos eleitores diante do prato feito “para hoje” nas urnas, cozinhado numa organização partidária fragmentada e fragilizada, e as suas preocupações com o futuro. O risco permanente é de esse divórcio entre a omissão das lideranças e as aflições do eleitorado resultar em curto-circuito na política. Em 2013, por exemplo, tudo parecia calmo e tranquilo até que a voz rouca das multidões invadiu as ruas.

    Os eleitores, hoje, mantêm um relativo otimismo na vida pessoal e familiar, indicam pesquisas como a recém-­concluída pelo Ipespe para a federação de bancos. Porém, dizem estar seriamente preocupados com as perspectivas oferecidas pelo conjunto institucional compreendido como “governo”, ou seja, a representação do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, nas decisões tomadas em Brasília, nas capitais estaduais e nos municípios sobre a saúde pública, o meio ambiente e os rumos da economia.

    A maior inquietação é com o Sistema Único de Saúde. Principalmente, para quem só pode recorrer ao SUS, como é o caso da ampla maioria de eleitores enclausurada na pobreza e limitada na mobilidade social porque só possui educação básica.

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    “Mais de um terço dos paulistanos diz ter ‘vergonha’ e ‘medo’ na eleição”

    Para os que sobrevivem com renda máxima de dois salários mínimos (cerca de 2 800 reais por mês), o sistema de saúde pública é sinônimo de aborrecimento permanente. Na capital do país, onde não há eleição municipal, quase 2 000 pessoas esperam até seis meses por diagnóstico e tratamento de câncer.

    O governo errático, com ajuda do Congresso e do Judiciário, está estimulando um avanço rápido da percepção de que reina anarquia na política pública para o meio ambiente. A máquina político-administrativa disfuncional na realidade dos incêndios em vinte estados, numa estiagem severa, levou a qualidade ambiental ao topo da lista de preocupações dos eleitores. Ultrapassou a segurança pública, pela primeira vez, e com o dobro de menções de inquietude no Sul e no Centro-Oeste na sondagem do Ipespe para a Febraban.

    Nesse quadro, tem-se ainda a predominância de uma expectativa de alta nos preços dos alimentos nos próximos meses, sobretudo entre mulheres (74%); de aumento dos impostos (61%); de crescimento do endividamento familiar (61%); e de elevação dos juros (54%).

    Não é pouco para um país que há mais de três décadas se atropela nas tentativas de escapar da armadilha da baixa renda. São 94 milhões de brasileiros inscritos no cadastro oficial para acesso aos programas de assistência financeira do Estado.

    Eles representam a maioria (67%) da população em idade apta para o trabalho. É contingente semelhante à população do Egito, uma das quinze nações mais populosas. Detalhe relevante: mais da metade (57%) desses brasileiros já depende do Bolsa Família para sobreviver.

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    O aumento da dependência do Estado como provedor da subsistência coletiva indica a precariedade de uma economia em que sete em cada dez dos novos empregos criados entre janeiro e julho tiveram um salário médio de admissão pouco superior a 2 000 reais por mês.

    A opção é ter o próprio negócio. Virou sonho de praticamente metade da população, como comprar casa ou viajar, atestam pesquisas do Sebrae. Era aspiração de um terço antes da pandemia, agora é de um em cada dois brasileiros. Os que conseguiram se mantêm na informalidade, reclamando da demora e do alto custo da burocracia municipal.

    Candidatos a prefeito e vereador tiveram a chance de acenar com propostas realistas para mudanças. Agora, não têm motivos para se queixar dos resultados das urnas.

    Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

    Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913

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