General contou como enredo de golpe dominou governo Bolsonaro
Julgamento no STF poderá revelar reuniões de Bolsonaro com civis seduzidos pela ideia de uma aventura autoritária quatro décadas depois da redemocratização

Jair Bolsonaro manteve uma rotina de discussões com auxiliares civis e chefes militares sobre as alternativas para um golpe de estado desde a derrota eleitoral para Lula, em outubro de 2022. Foi o que contou o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, em depoimento no Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (19/5).
Freire Gomes confirmou a trama de um governo que não aceitava a derrota nas urnas. Bolsonaro e auxiliares promoveram uma “série de reuniões” com os comandantes militares sobre o uso das Forças Armadas para interferir na cena política, impedir a posse do adversário legitimamente eleito e, no final, continuar no poder.
Não deu certo, ele contou, porque a alternativa do golpe de estado foi rejeitada várias vezes pela maioria dos oficiais-generais integrantes dos comandos do Exército e da Aeronáutica.
O general Freire Gomes não apresentou fatos novos em comparação ao relato que já havia feito à polícia, mas descreveu um parte do enredo melancólico das últimas oito semanas de Bolsonaro no poder.
Foi nesse período que o flerte com a ruptura institucional acabou banalizado na rotina do Palácio da Alvorada, onde o presidente derrotado na reeleição se manteve recluso. A ideia de golpe de estado se tornou dominante na agenda governamental até mesmo com a formatação de decretos, segundo o ex-comandante do Exército.
Ainda se conhece pouco sobre aquele transe político e seus protagonistas. O julgamento que está começando no STF poderá lançar luz, também, sobre a série de reuniões de Bolsonaro, a partir de junho de 2022, com civis seduzidos pela ideia de aventura autoritária quatro décadas depois da redemocratização.