O governo dos Estados Unidos resolveu ampliar ações de vigilância e repressão ao fluxo de financiamento de organizações Hezbollah, Hamas e máfias na América do Sul.
Brendan Boundy, coordenador da seção de Anticorrupção do Departamento de Estado, desembarcou em Assunção nesta terça-feira (31/10). Vai tentar convencer o presidente Santiago Peña a aumentar a cooperação do Paraguai em iniciativas para redução dos canais de lavagem de dinheiro.
Desde os atentados da al-Qaeda em Nova York e Washington, em 2001, o governo americano classifica o Paraguai como área-chave e mapeia o movimento financeiro regional de grupos terroristas e de máfias — entre elas, PCC e o Comando Vermelho —, que partilham meios, interesses e lucros no contrabando de drogas, armas, munições, cigarros, remédios e produtos eletrônicos.
Em janeiro, por exemplo, o Departamento do Tesouro vinculou o ex-presidente paraguaio Horacio Cartes à lavagem de dinheiro do Hezbollah. Ele é banqueiro e possui fábricas de cigarros em Cidade do Leste, na fronteira com o Brasil e a Argentina. Durante décadas foi sócio do brasileiro Dario Messer, preso em 2017 na Lava Jato por manter uma rede financeira clandestina em meia centena de países a serviço de empreiteiras envolvidas em corrupção na Petrobras .
EUA e Argentina definem o grupo libanês Hezbollah como terrorista, o Brasil não. Há evidências judiciais da participação do Hezbollah, em parceria com a Guarda Revolucionária do Irã, em dois atentados em Buenos Aires, nos anos 90. Resultaram na morte de 107 pessoas e mais de 500 feridos, com destruição parcial da Embaixada de Israel e demolição completa da sede da associação israelita argentina (AMIA).
O ex-presidente paraguaio suas empresas e familiares foram proibidos de operar no circuito bancário americano e ele recebeu a inusual qualificação de “pessoa significativamente corrupta” em documentos oficiais.
Cartes é o empresário mais rico e o político de maior influência no país. Foi decisivo na eleição do atual presidente, Santiago Peña, economista, que tem se esforçado para aparentar equidistância sem comprometer o apoio do Partido Colorado, dominante no Paraguai há 136 anos.