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Emergência

Se Lula tem plano para enfrentar Trump, não se sabe. O Congresso está parado há noventa dias

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 mar 2025, 16h15 - Publicado em 7 mar 2025, 06h00

Ele queria no 1º de abril, contou, mas alguém lembrou que esse é o Dia dos Tolos (April Fools’ Day). Não se sabe onde, quando ou por que começou a celebração da pegadinha, gozação ou deboche. Sobram lendas sobre a origem. No Brasil, uma delas remete ao jornal mineiro A Mentira, que circulou na primeira manhã de abril de 1828 com a notícia da morte do imperador Pedro I, desmentida na edição seguinte.

Donald Trump achou mais conveniente marcar para a quarta-feira, 2 de abril, o início das “tarifas recíprocas” no comércio exterior. Na mira, apontou, estão países que impõem taxas nas compras de produtos made in USA até quatro vezes acima dos impostos aplicados pelos Estados Unidos sobre as importações. Destacou Brasil, Índia, Coreia do Sul e União Europeia em discurso no Congresso.

No foco estão os produtos agrícolas e insumos industriais. “Eles têm usado tarifas contra nós por décadas”, disse, acrescentando: “Tudo o que eles cobram de nós, cobraremos deles; agora é a nossa vez de começar a usá-las”. Em mensagem direta aos agricultores americanos, escreveu com ênfase nas maiúsculas: “Preparem-se para começar a ter muitos produtos agrícolas para serem vendidos DENTRO dos Estados Unidos. As tarifas sobre produtos externos entrarão em vigor em 2 de abril. Divirtam-se!”.

Trump está iniciando uma guerra comercial em escala mundial, aparentemente com muitos danos. Não é boa notícia para o Brasil, cuja economia se sustenta em portos fechados — a taxa média brasileira nas importações (11%) é quase o triplo da americana.

O país perdeu o novo ciclo de modernização industrial e regrediu à condição de exportador de produtos agrícolas, minerais e insumos industriais do início do século passado. Isso se reflete na planilha do comércio com os Estados Unidos, equilibrada num fluxo de negócios somando 40 bilhões de dólares para cada lado.

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Está evidente, porém, a vulnerabilidade brasileira à guerra de Trump: 8 em cada 10 dólares obtidos nas vendas ao mercado americano correspondem a petróleo, semiacabados (ferro, aço e ligas metálicas) e produtos agrícolas — a agricultura responde por um terço do total das exportações, com notável aumento em valor (23%) no ano passado.

“Se Lula tem plano para enfrentar Trump, não se sabe. O Congresso está parado há noventa dias”

A retórica da Casa Branca sobre o redesenho do comércio global contém ameaça latente à base produtiva de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Esses estados foram responsáveis por 75% das vendas brasileiras aos EUA em 2024; faturaram 30 bilhões de dólares.

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É prudente não subestimar o impacto de um conflito comercial a partir da aplicação de “tarifas recíprocas”. Esses cinco estados, no alvo das intimidações de Trump, concentram quase dois terços do produto interno bruto (PIB) nacional.

Vale lembrar: neles reside metade do eleitorado, o que realça a dimensão política do desafio brasileiro com a nova política de Washington, nacionalista e pragmática, cuja premissa é o desprezo pelos acordos desde o crash da Bolsa de Nova York, em 1929.

A solução óbvia está na procura de mercados alternativos, mas não é tão simples, sobretudo quando todo o mundo resolve se mover como manada. No caso brasileiro, a situação é mais complexa por causa dos impasses nos outros dois grandes mercados do mapa-­múndi, a China e a União Europeia.

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Há um acordo relevante com a União Europeia, negociado durante duas décadas e assinado recentemente, mas segue travado pelo lobby da agricultura francesa. E pode enfrentar novo desarranjo com a decisão da Argentina de sair do Mercosul, se Javier Milei conseguir um acordo de livre-comércio com Trump.

Com a China, o Brasil já está numa posição de grande dependência, comparável à de um século atrás quando só vendia café e, basicamente, para os Estados Unidos. Na década passada destinava 15% das exportações ao mercado chinês. Agora, é o dobro. Pequim se tornou o provedor de 1 em cada 3 dólares que irrigam as finanças, sustentam o consumo e o emprego verde-amarelo. A dependência brasileira se agrava na altíssima concentração das exportações (77% do total) para os portos chineses em apenas três produtos — soja (31%), minério de ferro (23%) e petróleo (23%).

Até agora, nada se sabe sobre o que pretende o governo brasileiro nessa nova ordem global. Lula tem a obrigação de apresentar seu plano para debate, mesmo que seja o “Plano C”, aquele que prevê não ter nenhum plano. Deputados e senadores deveriam interromper o prolongado ócio remunerado de verão. Já completaram noventa dias em férias. Talvez não tenham percebido, mas está em jogo a segurança econômica do país.

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Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 7 de março de 2025, edição nº 2934

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