O bolso delineia as intenções de voto da ampla maioria (75%) dos eleitores, mostram as pesquisas realizadas nos últimos oito meses.
Significa má notícia para o governo em fim de mandato, exposto à crítica de um eleitorado empobrecido na maior inflação (10,3%) em seis anos.
Efeito disso na vida real: o valor do salário mínimo (R$ 1.212,00) já não é suficiente para pagar a compra mensal de duas cestas básicas de alimentos na cidade de São Paulo. A capital paulista abriga nove milhões de pessoas com título de eleitor no bolso, mais que o eleitorado de 21 Estados.
A corrosão no bolso se reflete na deterioração do apoio ao governo. Em janeiro, a situação ficou ainda mais crítica para Jair Bolsonaro, candidato à reeleição.
É o que mostra pesquisa da Quaest/Genial divulgada ontem, com duas mil entrevistas pessoais realizada entre 3 e 6 de fevereiro.
Aumentou o número de eleitores que declara ter perdido a capacidade de pagar as próprias contas durante o último trimestre.
Essa percepção é generalizada entre os que possuem renda familiar de até cinco salários mínimos (R$ 6.060,00) por mês.
Eles constituem a ampla maioria (75%) dos eleitores. Somam 110 milhões de votos, entre os 147 milhões registrados na Justiça Eleitoral.
Os mais pobres acham que ficaram ainda mais empobrecidos. O sentimento declarado de perda de capacidade financeira avançou com mais vigor, de 60% dos entrevistados no início para 65% no final de janeiro, entre pessoas cuja renda mensal familiar vai até dois salários mínimos (R$ 2.424,00) por mês. Representam 53 milhões — 36% do eleitorado nacional.
Também cresceu, de 45% para 48%, no extrato com renda mensal familiar de mais de dois até cinco salários mínimos (R$ 2.425,00 a R$ R$ 6.060,00). Neles tem-se o retrato de 57,3 milhões, ou 39% do total de eleitores.
Juntos, compõem maioria decisiva na avaliação negativa (51%) do governo Bolsonaro, mais que o dobro da aprovação (22%) registrada na pesquisa. São determinantes, igualmente, na reprovação (53%) do desempenho dele na presidência (“está pior do que esperava”, indicaram).
A contrapartida é a transferência para os adversários do presidente-candidato das expectativas de resolução política dos principais problemas que identificam na vida dos brasileiros.
Até agora, o principal beneficiário é Lula. Ele não disputa uma eleição há década e meia, mas tem sido hábil em exaltar seu período no governo (2003 a 2010) como uma espécie de legado portador de um futuro promissor ao bolso do eleitorado.
Porém, o quadro geral ainda é gelatinoso: 48% dos consultados se dizem indecisos e, entre os que indicam preferência por algum candidato, 40% dizem que mudar é possível “caso algo aconteça”.