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Crise e corrupção deixam Bolsonaro insone e aliados inquietos

Alguns dos principais aliados no Congresso começaram a reavaliar as perspectivas de manutenção do poder com o candidato à reeleição

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 jun 2022, 08h11 - Publicado em 23 jun 2022, 08h00

Desceu do carro e deu alguns passos esfregando os olhos, parecendo sonolento, abatido.

—Está cansado, presidente? — perguntou um dos visitantes, na porta do Palácio da Alvorada, sob o pôr do sol de ontem.

— Eu tô é broxa mesmo — respondeu rindo. — Apanhar 24 horas por dia não é fácil, não.

Jair Bolsonaro está insone há meses. Atravessa madrugadas enviando mensagens, contam assessores.

O humor oscila. Em público, se esforça para mantê-lo, como ocorreu ontem numa jornada dominada pelo noticiário sobre a prisão do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro.

Ribeiro e uma dupla de pastores evangélicos, Arilton Moura e Gilmar Santos, foram presos sob suspeita de negócios ilícitos no repasse de verbas do Fundo Nacional de educação para prefeituras. O trio tem laços de amizade com a família Bolsonaro.

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Qualquer que seja o desfecho do caso, a partir de agora Bolsonaro terá que lidar com o tema da corrupção no seu governo durante a campanha eleitoral.

Pode ter sido a pior numa manhã de insônia, mas até à noite não foi a única má notícia recebida pelo candidato à reeleição.

Com o governo sem rumo na crise inflacionária, que corrói o bolso dos eleitores e impede o seu avanço nas pesquisas eleitorais, Bolsonaro viu frustrado o plano combinado com o presidente da Câmara, Arthur Lira, para desviar o foco — e a culpa — do descontrole da inflação.

Teve a ideia de induzir Lira a criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para amplificar acusações à Petrobras e ao adversário Lula, do PT, na crise de preços dos combustíveis. O presidente da Câmara topou, mas acabou recuando.

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Para criar uma CPI na Câmara é necessário o aval de 171 deputados. Na terça-feira, o líder do Partido Progressistas no plenário, deputado André Fufuca, escreveu um apelo aos 56 deputados do PP para que evitem assinar a requisição da CPI. Seguia uma orientação de Lira.

A bancada mostrou disciplina. Ontem, só um deputado do PP havia assinado — Ricardo Barros, que é o porta-voz de Bolsonaro na Câmara.

O governo contou 134 aliados na subscrição do requerimento de CPI. Sem os deputados do PP, dependeria das assinaturas dos adversários eleitorais.

A oposição estava animada, disposta a ajudar numa trapalhada governamental singular — o governo criar uma CPI para investigar o próprio governo, em plena temporada eleitoral.

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Integrantes do PP alertaram Lira sobre os riscos de se associar a uma investigação que, inevitavelmente, iria resvalar no partido.

O PP teve um longo prontuário na Operação Lava Jato, com detalhes sobre o envolvimento dos seus líderes na corrupção em escala industrial que abalou as finanças da Petrobras na década passada. Foi o partido recordista em prisões e condenações.

Quando Bolsonaro voltou para casa insone, a CPI já era tratada como miragem do inverno seco em Brasília.

Por trás dessa notícia, havia sintomas de desalento entre seus alguns aliados no Congresso, por causa de um governo sem rumo na crise e com uma candidatura à reeleição patinando nas pesquisas.

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A uma centena de dias da eleição ninguém aposta que Bolsonaro seja um candidato sem possibilidades de crescimento eleitoral.

É certo, no entanto, que alguns dos seus principais aliados estão inquietos. Começaram a debater as perspectivas de manutenção do poder. Nessa reavaliação concluíram que, no momento, as chances não são boas —  são “precárias”, na elegante definição de um par deles.

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