Cresce a dependência da China e Bolsonaro perde apoio no campo
Nunca o Brasil esteve tão dependente de Pequim. Convulsões anti-chinesas de Bolsonaro levaram à corrosão da sua base ruralista, que foi vital em 2018

Nunca o Brasil esteve tão dependente da China quanto no governo Jair Bolsonaro.
De cada dez dólares que o país fatura no exterior, três têm origem do mercado chinês.
A dependência cresceu, apesar das convulsões anti-chinesas de Bolsonaro. Elas não apenas abalaram as relações com o governo de Pequim, como também provocaram a uma corrosão da sua base ruralista, que foi vital na eleição de 2018.
Entre janeiro e abril do ano passado, a China comprou 27% dos dez produtos mais exportados pelo Brasil. Pagou US$ 18 bilhões no período.
Abril de 2020 terminou com Bolsonaro e alguns ministros insultando os chineses numa reunião no Palácio do Planalto, culpando-os pelo avanço da pandemia — algo parecido a culpar os brasileiros pela disseminação da dengue ou da chicungunha.
Nos primeiros quatro meses deste ano, a China aumentou para 30,1% a sua participação nas compras dos dez produtos brasileiros mais vendidos no exterior. Pagou US$ 24,7 bilhões.
Quando maio começou, Bolsonaro repetiu os espasmos anti-chineses. A China já se tornara destino final de 73% das vendas brasileiras de soja; de 63% de minério de ferro; de 58% do petróleo bruto e de 55% da carne exportada pelo Brasil.
Quinta-feira passada, na CPI da Pandemia, Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, relatou uma reunião com o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming. Ele deixou claro o “inconformismo” do governo de Pequim com as persistentes ofensas de Bolsonaro e de alguns ministros.
O Butantan é parceiro da empresa chinesa Sinovac e, como o consórcio Fiocruz/Astrazeneca, depende da produção chinesa de insumos para fabricar sua vacina (Coronavac).
Covas testemunhou na CPI sobre as consequências práticas da obsessão de Bolsonaro em responsabilizar a China pelas agruras do próprio governo, que perdeu o controle da gestão na pandemia.
“Isso se reflete nas dificuldades burocráticas [para a obtenção de insumos para a vacina]” — contou. “Eram resolvidas em 15 dias. Agora, [leva] mais de mês. Nós, que estamos na ponta, sentimos. Negar isso não é possível.”
O conflito aberto por Bolsonaro deixa sequelas na política doméstica, principalmente entre integrantes do lobby ruralista no Congresso, que atuaram como esteio eleitoral de Bolsonaro em 2018.
É uma bancada parlamentar expressiva, tem pouco mais de duas centenas de votos na Câmara, se divide entre partidos que compõem o Centrão e costuma operar unida nos objetivos. Enfrenta uma cisão, por causa das convulsões anti-chinesas de Bolsonaro (Pequim é o principal cliente das exportações de 14 estados).
A dissidência é majoritária na bancada, como também no sindicalismo rural. Dias atrás, o próprio Bolsonaro teve um vislumbre da confusão em que se meteu.
Um núcleo de aliados tentou passar o chapéu entre empresários rurais para financiar o seu comício de maio em Brasília. Não conseguiu ir além dos cofres de duas associações setoriais, uma em Minas e outra em Mato Grosso do Sul, apesar das intervenções do Palácio do Planalto.
Um dos portavozes ruralistas no Centrão, o deputado Fausto Pinato (PP-SP) deu a dimensão do efeito corrosivo no apoio dos ruralistas a Bolsonaro. “Se não mudar, não tem solução”, disse à repórter Denise Rothenbourg, do Correio Braziliense. “Se faltar vacina e insumo, [ele] precisa ser afastado imediatamente, não tem conversa.”
Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se já é assinante, entre aqui. Assine para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.
Essa é uma matéria fechada para assinantes e não identificamos permissão de acesso na sua conta. Para tentar entrar com outro usuário, clique aqui ou adquira uma assinatura na oferta abaixo
Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique. Assine VEJA.
Impressa + Digital
Plano completo da VEJA! Acesso ilimitado aos conteúdos exclusivos em todos formatos: revista impressa, site com notícias 24h e revista digital no app, para celular e tablet.
Colunistas que refletem o jornalismo sério e de qualidade do time VEJA.
Receba semanalmente VEJA impressa mais Acesso imediato às edições digitais no App.
Digital
Plano ilimitado para você que gosta de acompanhar diariamente os conteúdos exclusivos de VEJA no site, com notícias 24h e ter acesso a edição digital no app, para celular e tablet.
Colunistas que refletem o jornalismo sério e de qualidade do time VEJA.
Edições da Veja liberadas no App de maneira imediata.