A CPI do Senado caminha para fim sem que tenha desvendado o papel de Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil, no comando das ações governamentais que resultaram no descontrole da pandemia.
Braga Netto, general aposentado, assumiu a chefia da Casa Civil da Presidência no dia 18 de fevereiro de 2020, quando se registravam apenas dois casos suspeitos de infecção.
No mês seguinte conduziu o plano de produção e distribuição de cloroquina contra a Covid-19 em todo o país. Dos laboratórios estatais saiu uma quantidade de comprimidos suficiente para suprir consumo nacional (pré-pandemia) durante trinta anos.
Ele instalou e dirigiu um Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19, a quinta instância burocrática estabelecida na Esplanada dos Ministérios exclusivamente para tratar da emergência sanitária. E montou um Centro de Governo.
Braga Netto supervisionou a aplicação de R$ 286,5 bilhões durante os primeiros sete meses do ano passado, conforme dados do Tribunal de Contas da União. Foi quando ocorreu a escalada da pandemia, a primeira “onda”.
Nesse período, do total de despesas públicas sob supervisão direta do Comitê de Crise dirigido por Braga Netto, apenas 7,6% (R$ 22 bilhões) tiveram relação direta com a pandemia. Os restantes 92,4% (R$ 264,5 bilhões) foram usados em estímulos a segmentos da economia.
O TCU chegou a emitir uma advertência ao chefe da Casa Civil sobre a “ausência de diretriz estratégica clara para enfrentamento da Covid-19”, chamando sua atenção para a inércia “diante do cenário de mortandade desenfreada”.
Quando Braga Netto trocou a Casa Civil pelo Ministério da Defesa, no primeiro trimestre deste ano, o governo já havia adernado num oceano de cloroquina. Sem bússola na gestão da Saúde, o país contava mais de 300 mil mortes na pandemia. Ontem à noite ultrapassou 594 mil vítimas.