Na madrugada de quarta-feira (21/2), quatro homens armados, mascarados, vestidos com coletes da Polícia de Investigações chilena — equivalente à Polícia Federal brasileira —, invadiram um apartamento na área norte de Santiago e sequestraram o tenente-coronel da reserva Ronald Ojeda Moreno, um reconhecido opositor da ditadura venezuelana. Ojeda Moreno fugiu da Venezuela há cinco anos e vivia no Chile com status de refugiado político.
Estava entre dezenas oficiais militares presos em 2017 sob a acusação de tentativa de assassinato contra o ditador Nicolás Maduro. Alegações do gênero se tornaram rotina na última década para a repressão aos opositores do regime. Ojeda Moreno conseguiu fugir da prisão militar em Caracas.
A investigação do sequestro em Santiago começou na madrugada como caso policial comum. Mas não houve pedido de resgate, como seria natural. No início da tarde desta quarta-feira surgiram indícios de crime político.
Familiares e amigos de Ojeda Moreno divulgaram informações sobre a sua presença em Caracas, como prisioneiro da seção de operações da agência militar de espionagem da Venezuela (conhecida como DGCIM, sigla da Dirección General de Contrainteligencia Militar).
Três semanas atrás, a ditadura comandada por Maduro iniciou nova onda de repressão aos opositores. Na quarta-feira 24 de janeiro, o Ministério da Defesa da Venezuela listou 33 pessoas acusadas “conspirações mediante o planejamento de ações criminosas e terroristas, incluindo o assassinato do primeiro mandatário nacional”. Ojeda Moreno aparece nessa nova lista de acusados de “traição à pátria”.
Até o início da madrugada desta quinta-feira (22/2) não houve confirmação do governo chileno sobre o eventual traslado do sequestrado para Caracas e nem sobre a participação de agentes estrangeiros no sequestro em território chileno.
O presidente Gabriel Boric, porém, mobilizou toda a polícia, reforçou a vigilância nas fronteiras, alertou a Interpol e determinou a intervenção do Exército e das agências civis e militares de espionagem.
O Ministério Público e o Judiciário decretaram sigilo sobre o caso. A Câmara dos Deputados pediu à ministra de Defesa do Chile, Maya Fernández, informações “com urgência”.
Um dos integrantes da comissão, o deputado Andrés Jouannet, reforçou o pedido. No texto protocolado no final da noite, Jouannet argumenta que os indícios de sequestro político sugerem “que se estariam desenvolvendo operações de contrainteligencia no Chile por parte de forças armadas estrangeiras, o que constitui uma gravísima violação da soberania nacional.”
Agentes do serviço de espionagem militar da Venezuela já foram acusados de sequestrar na Colômbia um adversário de Maduro. O caso, naturalmente, provocou atrito entre governos, mas acabou abafado em ações diplomáticas.
Sequestro político no Chile, se confirmado, terá consequências muito diferentes, e provavelmente drásticas. Tende a ser tratado como invasão militar estrangeira para crime equivalente a ato terrorista.