Câmara perde o rumo e encerra três CPIs sem nenhuma conclusão
Sobrou a advertência do deputado Chico Alencar: "Reclamamos muito, mas não fazemos autocrítica. Não nos damos respeito e aceitamos qualquer coisa"
A Câmara perdeu a bússola e o rumo. Nesta quarta-feira (27/9), encerrou três comissões parlamentares de inquérito, simultaneamente e sem resultados.
A CPI do MST acabou dissolvida, sem relatório final. Criada pelo ramo bolsonarista da oposição, terminou no vácuo porque não conseguiu demonstrar sequer a razão da sua criação.
O deputado Ricardo Salles, do PL de São Paulo, chegou a apresentar um esboço de relatório. Em grande esforço intelectual, concluiu que o Movimento Sem Terra adota “métodos, terminologias e estratégias” que “muito se parecem com as do crime organizado”. Tendo abusado dos adjetivos sem se preocupar com substantivos — no caso, provas de supostos crimes —, tornou-se o comandante do naufrágio oposicionista nessa comissão.
Ao mesmo tempo, a Câmara se atropelava em outras duas CPIs. Na comissão encarregada de investigar o submundo da manipulação de resultados de jogos de futebol, executou-se a proeza de não identificar suspeitos, apesar da fartura de inquéritos em andamento no Ministério Público e na Polícia Federal.
Já na CPI das Americanas, que deveria iluminar o estranho caso do sumiço de cerca de R$ 40 bilhões da contabilidade de uma rede comercial, com reflexos diretos no sistema de crédito público e privado, os deputados escolheram se submeter à arrogância dos envolvidos, e não ouviram quem deveria se explicar.
Sobrou a advertência feita no plenário pelo deputado Chico Alencar, do Psol do Rio, veterano de cinco mandatos: “Vossa excelências reclamam muito. Do Supremo, por exemplo, que está atuando na guarda da Constituição. Mas nós não fazemos uma autocrítica de como, frequentemente, não nos damos respeito e aceitamos qualquer coisa que venha para a pauta [de votação], sem discussão prévia, sem preparação, sem exame da matéria.”
O caso das três CPIs sem conclusão é simbólico da perda de rumo da Casa comandada pelo deputado Arthur Lira (PP-AL). Com o agravante do desperdício de dinheiro dos impostos pagos pela sociedade.