No início da semana, Walter Braga Netto comunicou ao Partido Liberal a desistência da pré-candidatura à Prefeitura do Rio nas eleições do ano que vem.
Não houve surpresa com a renúncia do ex-candidato a vice-presidente de Jair Bolsonaro. A comoção no partido foi com a dimensão da investigação em andamento no Brasil e nos Estados Unidos sobre Braga Netto, general da reserva, ex-chefe da Casa Civil e ministro da Defesa de Jair Bolsonaro.
O inquérito é do ano passado e estava sob sigilo. No alvo estão contratos no valor aproximado de 50 milhões de dólares – equivalentes a 200 milhões de reais — feitos sem licitação e sob responsabilidade de Braga Netto quando ainda estava no Exército e atuou como interventor do governo Michel Temer na segurança pública do Estado do Rio.
Naquele 2018, cerca de 25% dessa dinheirama foi direcionada à compra de 9.360 coletes a prova de bala numa empresa da Flórida, nos Estados Unidos.
A intervenção acabou em dezembro de 2018. Foi um fiasco operacional, com aumento no número de mortes por violência policial. Os coletes contratados nunca foram entregues, mas no início de 2019 o governo Bolsonaro pagou a encomenda. O repórter Paulo Motoryn publicou os extratos em 2021.
Braga Netto já havia retornado a Brasília. Uma equipe de auditores militares esteve na Flórida e constatou que a fábrica de coletes não existia. O governo Bolsonaro fez o estorno contábil do pagamento e cancelou o contrato depois de uma negociação coordenada por Braga Netto com a fornecedora CTU Security.
Em abril de 2019 ele assumiu a chefia do Estado-Maior do Exército onde ficou um ano até à posse na Casa Civil, já na reserva.
O caso da compra de coletes de uma fábrica inexistente começava a ser sepultado nos arquivos governamentais quando, em julho de 2021, um dos sócios da CTU Security, Antonio Emmanuel Intriago Valera, mais conhecido como Tony Intriago, foi acusado de contratar e comandar mercenários colombianos no assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse.
Intriago desapareceu. As investigações nos Estados Unidos sobre a CTU Security revelaram laços com militares brasileiros, da ativa e da reserva, e detalhes sobre o negócio milionário dos coletes comprados na gestão de Braga Netto como interventor federal no Rio.
Ele nega irregularidades, sugere perseguição política numa “pescaria” judicial de provas. Braga Netto, escudeiro do projeto militarista radical de Bolsonaro, deverá passar bom tempo explicando como e por que se enredou num estranho caso de uso de dinheiro público na compra de produtos que não existiam, em contrato com uma empresa que servia de fachada a empreitadas mercenárias como a do assassinato do presidente do Haiti.