Bolsonaro confrontou Anitta e se deu mal com a eleitora Larissa
Ele tentou um truque de marketing. Ela retrucou como mulher assediada em Honório Gurgel: "Ai, garoto, vai catar o que fazer, vai." E bloqueou o presidente
Larissa de Macedo Machado, 29 anos. Foi com essa eleitora que Jair Bolsonaro trombou de frente ontem — e se deu mal.
Depois de um dia de trabalho na Califórnia, Estados Unidos, a bordo de roupas azul, verde e amarelo, ela comentou a opção pelas peças numa rede social: “A bandeira do Brasil e as cores da bandeira do Brasil pertencem aos BRASILEIROS. Representam o BRASIL em GERAL. NINGUÉM pode se apropriar do significado das cores da bandeira do nosso país. Fim.”
Bolsonaro, provavelmente, nunca prestou atenção em Larissa, carioca zona norte de Honório Gurgel “forever”. Mas o candidato à reeleição sabe quem é Anitta, cantora, compositora, atriz, dançarina, empresária e ativista, não necessariamente nessa ordem.
Ela é referência de uma geração de brasileiros, na maioria frustrados pelos sucessivos fracassos de reconstrução do país na era do Real. Nos últimos seis anos, por exemplo, o desemprego tem sido recorde (acima de 20%) para quem tem entre 18 e 24 anos. Metade desse período se passou sob a tumultuada administração Bolsonaro.
Na tática de marketing bolsonarista é sempre útil enlaçar ícones como Anitta num embate público e direto. Feito o desafio, não importa o calibre da resposta. Vale mais a alavancagem da candidatura nas redes sociais do alvo — no caso, com dezenas de milhões de fãs ou seguidores.
Ontem, ele tentou esse truque. Quando soube da explicação da cantora sobre a roupa com as cores da bandeira usada num show celebrado pela imprensa americana, no festival anual de Coachella, autorizou sua equipe a disparar no Twitter uma mensagem ambígua e, essencialmente, irônica: “Concordo com Anita [grafou sem o segundo ‘t’ do nome artístico de Larissa]”. Ao incluiu várias imagens da bandeira do Brasil.
Ela percebeu, e retrucou como a mulher que se sente assediada no meio da rua de Honório Gurgel “forever”. Deu uma invertida no presidente: “Ai, garoto, vai catar o que fazer, vai”.
Em seguida, bloqueou-lhe o acesso. Justificou: “Meti logo um block pra esses adms [administradores da conta do Twitter] dele não ficarem usando minhas redes sociais pra ganhar buzz [repercussão] na internet”.
Continuou com explicações à legião de fãs sobre a natureza da armadilha eleitoral: “Nesse momento, qualquer manifestação contra ele por meio dos artistas vai ser revertida em forma de deboche pelas mídias sociais dele.” Anunciou a decisão de não mais citar o nome do do candidato à reeleição, recomendando aos seguidores que façam o mesmo.
Bolsonaro não entendeu que Anitta também é Larissa, mulher de Honório Gurgel “forever” que canta, orgulhosa, “sim, as ruas me criaram, sou favela (demais).”
Ela nasceu no ambiente do Rio de 1993 marcado pela matança de oito crianças e adolescentes ao lado da Igreja da Candelária, seguida pela chacina de outras 21 pessoas em Vigário Geral. Na época, o deputado Bolsonaro defendeu o massacre policial dos “vagabundos”, como definiu as vítimas.
Bolsonaro se meteu numa confusão sem glória com Anitta. A eleitora Larissa enlaçou o candidato e o deixou prisioneiro na própria armadilha.