O Ministério das Minas e Energia “utilizou” os consumidores de energia elétrica para realizar uma operação financeira — sem risco — que premiou bancos “como principais ganhadores” de comissão milionária.
É o que diz a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em relatório sobre um negócio conduzido pelo ministro Alexandre Silveira, em agosto, quando o governo levantou cerca de 7,8 bilhões de reais numa antecipação de receita da Eletrobrás — no formato de “securitização de dívida”.
Fernando Mosna, diretor da Aneel, debulhou a transação em 43 páginas. Demonstrou que “o consumidor foi utilizado como justificativa para uma operação financeira da qual não foi o maior beneficiário”.
Esse prêmio ao consumidor — desconto na tarifa de eletricidade — teria sido o argumento central do ministério de Silveira para obter aval político de Lula à contratação dos empréstimos (antecipação de receita) no mercado financeiro ao custo milionário de 285,1 milhões de reais, como comissão.
Deu errado. Segundo a agência reguladora, porque, aparentemente, o ministério cometeu “erro grosseiro” de cálculo. O benefício ao consumidor foi “hiperdimensionado”: era estimado em 510 milhões de reais, foi reduzido para 2,8 milhões de reais; acabou fixado em 46,5 milhões de reais “após sucessivas alterações”.
Resultado: os intermediários financeiros receberam do ministério de Silveira um prêmio “cerca de seis vezes maior” que o benefício final destinado aos consumidores.
Para a Aneel, isso “demonstra que a maior parte do valor movimentado na operação beneficiou diretamente os credores, não os consumidores”. Acrescenta: “Levanta questionamentos sérios sobre a efetividade e adequação da operação em atender aos objetivos da política pública.”
O diretor da agência reguladora sugere no relatório uma ampla investigação, com participação do Congresso, do Tribunal de Contas e da Controladoria-Geral da União. Na Câmara e no Senado há expectativa sobre explicações oficiais. O ministro das Minas e Energia é visto como pré candidato do PSD ao governo de Minas Gerais em 2026.