A Vale, do luxo ao pó
Aumento de 2.220% no lucro trimestral reforça chance da mineradora de mudar imagem, cumprindo compromissos assumidos após desastres de Mariana e Brumadinho
A mineradora Vale desfruta os benefícios de um balanço luxuoso: o lucro líquido do primeiro trimestre (US$ 5,546 bilhões) representou um aumento de 2.220% em relação ao resultado de janeiro a março do ano passado, quando começou a devastação pandêmica.
A força desse crescimento vem de um ciclo de valorização das commodities — no caso, minério de ferro— combinada à maxidesvalorização do real em relação ao dólar. Confirma-se no fato de o lucro trimestral deste ano ter sido 650% maior que o registrado em igual período de 2019, um ano antes da pandemia.
Eduardo Bartolomeo, presidente da empresa, festejou indicando sua confiança na “consistência” do compromisso em cumprir as promessas de redução de riscos da mineradora, sócia da anglo-australiana BHP Billiton no desastre de Mariana e protagonista na tragédia de Brumadinho. No rastro das suas barragens rompidas nesses municípios mineiros ficaram 277 mortos e ainda há 12 desaparecidos.
Os lucros, sem dúvida, reforçam as possibilidades da Vale na administração das sequelas econômicas e ambientais de duas das maiores catástrofes da mineração, registradas no curto intervalo de quatro anos. Os efeitos ainda estão visíveis, de Minas ao Atlântico.
Ao reafirmar os compromissos, a empresa renova a chance de se livrar da imagem construída a partir da década de 1950 no Vale do Rio Doce, que lhe emprestou o nome de origem.
Dela, a melhor síntese talvez tenha sido feita por Christiano Dias Lopes, ex-governador do Espírito Santo (1967-1971), que dizia: “Por onde passa, a Vale só deixa o pó de minério e o apito do trem.”