Quando foi anunciada, às vésperas no Carnaval, valia 25 reais. Nesta semana de lançamento, vale 20 reais.
A nova cédula de maior valor da Argentina (dois mil pesos) perdeu 20% do seu poder de compra no curto espaço de três meses.
Se a sorte ajudar o governo Alberto Fernández, ela vai chegar ao Natal valendo oito reais.
É o efeito da hiperinflação na vida real. Hoje, está estimada em 109% ao ano. Mas empresas brasileiras exportadoras acreditam que deve avançar para 130% nos próximos cinco meses, na turbulência da campanha para a eleição presidencial de outubro.
O governo Alberto Fernández havia previsto lançar em julho a nova nota de peso e contratou parte da produção com a Casa da Moeda do Brasil para entrega em agosto.
Antecipou o plano porque os preços crescentes, de forma contínua, obrigam a população a sair das agências bancária e dos caixas eletrônicos carregando pilhas de dinheiro cada vez maiores para pagar as compras de cada dia.
O processo inflacionário argentino tem sido lucrativo para a Casa da Moeda do Brasil. Semana passada encomendou 155 mil caixas de papelão e 44 toneladas de filmes polietileno para embalar novas notas de peso com o logotipo da Casa da Moeda da Argentina.
As exportações de cédulas para Buenos Aires aumentaram cerca de 60%, para 160 milhões de reais, no ano passado. Representaram aproximadamente 12% da receita líquida da empresa estatal sediada no Rio.
Para o Brasil, aspecto mais relevante do colapso da Argentina é a redução das exportações de produtos industrializados de média e alta tecnologia.
O mercado argentino absorvia 80% das vendas externas de fábricas localizadas no Sudeste, reduto tradicional sindicalismo lulista. Elas já estavam debilitadas na competição com empresas da China, que assumiram a liderança como provedores. Empresários chineses obrigaram os brasileiros a recuar de 30% (2011) para 19% do mercado argentino (2022).
No fim de semana, em Hiroshima, no Japão, Lula apelou à diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Gueorguieva, por novo socorro financeiro ao governo de Alberto Fernández. Nas últimas seis décadas, os argentinos fizeram 22 acordos com o FMI.
Lula, também, resolveu enviar o ministro da Fazenda Fernando Haddad à reunião do banco de desenvolvimento do grupo do Brics, no final desta semana em Xangai. Tenta alternativa de socorro a Fernández, convencendo a China, Rússia, Índia e África do Sul a dar garantias às exportações brasileiras para a Argentina, que não consegue crédito no exterior. A missão de Haddad é difícil, mas não impossível.
Se der tudo certo, como imagina-se no Palácio do Planalto, em dezembro o peronista Fernández conseguirá passar a faixa ao sucessor eleito, em meio à hiperinflação e com 39% dos argentinos vivendo na pobreza. Até lá, é muito provável que o governo da Argentina mande imprimir novas cédulas de maior valor, em substituição à emitida nesta segunda-feira (22).