Com a proximidade do 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, percebemos que há muito mais a alertar, avisar, advertir e despertar, do que propriamente a comemorar nessa data tão significativa para a humanidade.
A recente – e ainda atual – tragédia ambiental do Rio Grande do Sul não nos permite baixar a guarda por um segundo sequer. Os gaúchos já enfrentam um “dia-seguinte” que certamente durará alguns anos…
E o desastre que atingiu o Sul não foi apenas ambiental, mas teve raízes sociais e, sobretudo, culturais. Nosso povo e, consequentemente, a nossa classe política, têm uma enorme dificuldade para absorver a real gravidade das ameaças climáticas. O momento atual, de profunda polarização, atrapalha ainda mais o que já era complicado, pois o campo ideológico da extrema direita – negacionista de nascença – enxerga as urgências ambientais como mais uma teoria da conspiração dos “globalistas” (sic).
Aqueles que se baseiam em pesquisas científicas, em estatísticas e em experiências sabem que não há hoje desafio maior para o ser humano que não seja o da manutenção do equilíbrio ambiental com a sustentabilidade das atividades econômicas em nosso planeta. Está em jogo o futuro da humanidade e da própria vida na Terra – da forma como a conhecemos, com sua encantadora e vital diversidade.
A prova do total anacronismo das nossas elites é a existência, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, do que se convencionou chamar de PEC das Praias. Trata-se de um projeto de emenda constitucional que prevê a transferência da posse de terrenos de marinha da União para estados, municípios e também para partes privadas. Segundo biólogos do Ministério do Meio Ambiente, a iniciativa (cuja relatoria foi do senador Flávio Bolsonaro), tem tudo para alavancar o uso irregular desses espaços e expandir ainda mais os danos ambientais já existentes.
Não é muito difícil imaginar a força dos lobbies por detrás dessa proposta, que certamente abrirá espaço para a privatização das praias, favorecendo uma exploração imobiliária sem grandes preocupações com impactos ambientais.
A bem da verdade, tal projeto não deveria ter sequer sido cogitado. Nada mais fora de hora e de lugar do que aprovar novas regras de ocupação em áreas litorâneas, em período de mudanças climáticas que terão, como uma de suas principais consequências, a elevação do nível dos oceanos.
É desesperador observarmos representantes do povo, no Congresso Nacional, demonstrando total insensibilidade com a integridade ecológica e com o bem estar e o futuro das gerações vindouras. Lamentável a cegueira e o imediatismo da grande maioria da nossa classe política.
Infelizmente essa ausência de engajamento no enfrentamento às ameaças ambientais não é exclusividade nossa. A forma letárgica como a maioria das nações, grosso modo, vêm reagindo na tomada de medidas eficazes e decisivas para a contenção desses processos de mudanças climáticas nos mostra, além de uma incapacidade do homem em agir transcendendo a sua própria existência, a desoladora inexistência de verdadeiros estadistas no mundo de hoje.
Falta hoje um estadista com a estatura e a determinação de um Winston Churchill, para a causa ambiental… e com um discurso histórico atualizado, que, como o do primeiro ministro britânico, em 1940, na House of Commons, idealizou e empurrou o mundo para enfrentar a grande ameaça de seu tempo:
“… we will protect our beaches, our oceans and our forests, we shall defend our Planet whatever the cost may be…”
E é bom saber que nenhuma conta será mais alta do que aquela a ser paga por quem decidiu economizar na salvaguarda do Meio Ambiente.