Em um programa de TV a cabo, ocorrido na tarde de domingo, 21 de novembro, na Globonews, eram entrevistados Renata Abreu, atual presidente do Podemos, e Rui Falcão, ex-presidente do PT.
Rui Falcão desfilava o velho blá-blá-blá, pleno de sofismas, sobre a “inocência” de Lula nos processos do Petrolão, todos julgados pelo então juiz federal Sergio Moro, quando foi perguntado, por um dos entrevistadores, como explicaria a “inocência” do ex-presidente diante dos 4 bilhões de reais (que já foram recambiados para o Brasil), e pelos 10 bilhões assinalados no exterior (que ainda aguardam para serem trazidos de volta aos cofres públicos). O petista deu um jeito de ignorar solenemente a pergunta e tergiversou com indisfarçável descaro. Sua resposta sequer tocou na questão absolutamente insofismável, representada por esses 14 bilhões de reais que foram drenados por esquemas de corrupção pilotados pelos dois governos de Lula.
No mesmo dia, em seguida, me deparei ainda com a declaração do ex-ministro da Justiça do segundo governo Lula, Tarso Genro: “Analfabetos jurídicos os que dizem que Lula não foi inocentado nos processos anulados, pois vícios formais são perversões do devido processo legal e nestes processos nulos o réu é sempre inocente: os promotores é que podem ser culpados, se agiram de má fé”.
Ora, mais uma pérola da dialética heurística utilizada pelo negacionismo petista. Tarso ignora deliberadamente que a justiça criminal faz nítida distinção entre o inocente (innocent) e o (ainda) não-culpado (not guilty).
Os processos na realidade foram anulados. Tarso e Falcão falam como se a persecução tivesse chegado ao final e descortinado cristalinamente a inocência do ex-presidente. Se agora não mais podemos chamar Lula de culpado, pois o processo foi anulado, igualmente não podemos cravar que ele foi dado como inocente, pois isso efetivamente não ocorreu, uma vez que o processo nem recomeçado foi.
Se formos viver num mundo negacionista, em realidade paralela, onde Lula é cantado em verso e prosa como “inocente”, o que dizer afinal desses 14 bilhões de reais recuperados pela Lava Jato de Sergio Moro? Serão considerados uma “doação”, uma “filantropia”? E os corruptos que os “doaram”? Passarão então, de agora em diante, a ser reconhecidos como “filantropos” da República?
O arremate final do comentário de Tarso Genro é o sonho de consumo de grande parte da classe política brasileira: virar o jogo contra os promotores e o juiz da Lava Jato, que teriam agido de “má fé” na condução do julgamento de Lula.
Essa mesma “má-fé” que teria encontrado 14 bilhões de reais em propinas, escondidas em contas bancárias no exterior.
A conta da inocência de Lula só vai fechar no dia em que os petistas aceitarem falar sobre esses 14 bilhões de reais recuperados pela Lava Jato.