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Isabela Boscov

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X-Men – O Filme

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Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 15h57 - Publicado em 8 ago 2000, 17h12
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  • A vingança dos excluídos

    Os mutantes do gibi X-Men chegam às telas com ótimos efeitos, um bom roteiro e a mesma angústia de sempre

    Estamos no ano de 1944. No campo de concentração de Auschwitz, judeus caminham pela lama gelada, rumo à câmara de gás. As imagens escuras e opressivas parecem anunciar mais um drama sobre o Holocausto. Nada disso. Trata-se de um filme de ação repleto de efeitos especiais, baseado na história em quadrinhos mais vendida de todos os tempos: X-Men – O Filme. Não há nada de estranho, contudo, nesse começo tão trágico. A exemplo do clima melancólico que imperava no primeiro Batman, de 1989, aqui os super-heróis não festejam seus poderes excepcionais. Pelo contrário. Têm dificuldade em domá-los e são alvo de hostilidade por parte do resto da humanidade. Pior: geralmente, a revelação de que têm dons especiais surge durante as atribulações da adolescência. É o caso da jovem Vampira, capaz de drenar a força vital de um ser humano com um simples toque. Namorados? Nem pensar. Por isso os X-Men vivem isolados, sempre ocultando seus poderes. É o que faz Wolverine, que tem uma fantástica capacidade de cicatrização e também de ferir os outros, com as gigantescas lâminas de metal que saltam por entre seus dedos. Ser um X-Man – ou, em português claro, um mutante – é um fardo difícil de suportar.

    Assistir ao filme, por outro lado, não é sofrimento nenhum. Até a trama faz sentido. Num futuro próximo, um senador fóbico tenta instilar o ódio aos mutantes entre a população americana. Os X-Men reagem ao ataque de formas diversas. O time do Professor Xavier, um telepata, acha que é possível a convivência entre o Homo sapiens e o Homo superior. Os seguidores do neurótico Magneto, por outro lado, querem declarar guerra aos seres humanos comuns. Magneto tem lá suas razões, já que viveu na pele a perseguição nazista. Na visão dos roteiristas, a causa dos mutantes equivale à luta pelos direitos civis nos anos 60, e Xavier e Magneto correspondem a seus dois líderes mais notórios: o pacifista Martin Luther King e o radical Malcolm X (nenhum parentesco com os mutantes, ao que se saiba). É uma idéia ambiciosa, mas o diretor Bryan Singer dá conta dela. Ele consegue falar de preconceito e ostracismo sem banalizar esses temas, e também sem subtrair do filme a diversão. Hollywood, afinal, não gasta 75 milhões de dólares numa produção para estimular o civismo.

    A decisão de pôr Singer atrás das câmaras causou espanto. Jovem (34 anos) e temperamental, ele tinha apenas dois filmes dignos de nota no currículo: o ótimo Os Suspeitos e O Aprendiz, baseado em Stephen King, sobre um garoto que chantageia um criminoso nazista para que ele lhe narre as atrocidades que perpetrou. Detalhe: Singer nunca havia dirigido nada que se parecesse com uma cena de ação. E também nunca tinha lido uma revistinha dos X-Men – nem uma página. Esse fato fez com que leitores dos quadrinhos enchessem páginas e páginas na internet com rumores e, principalmente, temores de que ele pudesse meter os pés pelas mãos. Todos eles foram silenciados com a estréia do filme. O enredo condensa toda a origem dos mutantes sem cometer nenhuma traição. E, graças à providencial ignorância do diretor, agrada igualmente a quem nunca deu a mínima para o gibi.

    A originalidade de Singer pode ser conferida na escolha do elenco. Shakespearianos experimentados, como Patrick Stewart e Ian McKellen, convivem pacificamente com uma ex-Bond girl (a holandesa Famke Janssen) e até uma modelo, a escultural Rebecca Romijn-Stamos. O grande trunfo de X-Men – O Filme, no entanto, é o desconhecido Hugh Jackman, que interpreta Wolverine, o mais popular de todos os mutantes. Este australiano (sim, eles continuam a atacar) de 31 anos é um achado. Desde sua primeira cena, ele toma conta do filme. Jackman sabe combinar o humor seco do personagem e seu jeitão anti-social àquele coração mole que Wolverine esconde sob seu esqueleto metálico. Somando-se o carisma do ator aos espantosos 54 milhões de dólares arrematados por X-Men – O Filme no fim de semana de estréia nos Estados Unidos, já se pode dar como líquido e certo: X-Men 2 vem aí.

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    Isabela Boscov
    Publicado originalmente na revista VEJA no dia 09/08/2000
    Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
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    © Abril Comunicações S.A., 2000


    X-MEN – O FILME
    (X-Men)
    Estados Unidos, 2000
    Direção: Bryan Singer
    Com Hugh Jackman, Ian McKellen, Patrick Stewart, Famke Janssen, Anna Paquin, James Marsden, Bruce Davison, Halle Berry

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