Concorrendo ao Oscar de direção e de filme internacional no dia 25 de abril, o diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, de 51 anos, conversou com VEJA sobre Druk.
Seus personagens nesse novo filme se sentem mais vivos quando começam a beber durante o dia. Isso, a seu ver, é sinal de que há algo errado no modo como vivemos a vida? Há muitas coisas erradas em como vivemos. Por onde começar, aliás? Na civilização ocidental, há um desrespeito à idade. Envelhecer equivale a desbotar, e é por isso que as pessoas aceitam esse desvanecimento, porque pensam que é o seu destino. Em nossa parte segura do mundo, também, estamos quase estrangulados pela segurança. A repetitividade na vida pode ser boa; é por meio dela que medimos e entendemos o tempo. Mas excluir os elementos de risco e exploração traz o tédio, e esse se torna uma morte em vida. É contra isso que meus personagens se rebelam.
Como se escolhe o elenco de um filme em que a amizade tem de ser tão genuína e crível? Contrato meus amigos e escrevo o roteiro para eles. O cinema na Dinamarca é pequeno, e nós nos conhecemos há anos. Eles não são apenas meus amigos, claro, mas também atores soberbos e pessoas que admiro, com quem quero passar meu tempo — e não só no set. Também é fundamental dar a eles, na escrita e na direção, uma sensação de passado, para que o espectador sinta que essas pessoas pertencem umas às outras há muito tempo. E Mads (Mikkelsen) é um assombro. É como ter um primeiro violino que lê a sua mente. Ele é de uma precisão e uma inteligência enormes.
Ao ver o filme pronto, o que você achou dele? Dos meus filmes, este é o que eu mais amo, por sua imperfeição, sua irregularidade e sua honestidade, pela sensação de estar desarmado e comemorar a vida. E, claro, por motivos particulares, ele significa mais para mim do que qualquer outra coisa que já fiz.
Publicado em VEJA de 31 de março de 2021, edição nº 2731