De carona com Jafar Panahi.
Você boceja só de ouvir falar em filme iraniano? Então nem vou tentar usar meus poderes de persuasão para dizer que sim, a nova produção clandestina de Jafar Panahi (que está proibido pelo regime iraniano de filmar) é muito bacana.
Mas, se você é do time que vê filme iraniano e frequentemente gosta muito, então deixe eu tentar: são 80 minutos com Panahi dirigindo um táxi e apanhando passageiros pelas ruas de Teerã, mas há algo de tão cativante na presença dele e na maneira como ele deixa as conversas rolarem (é comum, na cidade, juntar no mesmo táxi gente que está indo para lugares diferentes) que no fim da primeira corrida você já estará fisgado.
A coisa, porém, é menos casual do que parece. É improvável que os passageiros sejam gente que simplesmente estivesse por ali: primeiro, não haveria como proteger os que falam ou fazem coisas “subversivas”. Além disso, aos poucos percebe-se que Panahi não está rodando a esmo. De passageiro em passageiro (e a minha preferida é a sobrinha dele, uma menina vivíssima de uns 10 anos que faz uma menção muito reveladora a O Espelho), há um lugar no qual ele quer chegar: um painel de atitudes diversas acerca da vida no Irã no qual não se acha ninguém que esteja nos conformes do regime islâmico – nem mesmo as pessoas que se dizem a favor dele.
Nem de longe, porém, imagine que Táxi Teerã é um libelo ou um manifesto, ou que faz proselitismo. Panahi é inteligente demais, e talentoso demais, para sequer flertar com uma artimanha dessas, como pode atestar quem tenha visto O Balão Branco, O Espelho (sensacional), Fora de Jogo, O Círculo (arrasador) ou Isto Não É um Filme. Entre os muitos tópicos que ele levanta aqui, está o da teatralidade de vidas tão circunscritas pela lei religiosa: sejam pessoas comuns ou atores contratados, todos os que passam por seu táxi, sugere ele, estão de alguma forma interpretando um papel.
Trailer
TÁXI TEERÃ(Taxi)Irã, 2015Direção: Jafar PanahiDistribuiçãao: Imovision