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‘Succession’ acirra tragédia clássica no mundo corporativo em 3ª temporada

A série eletrizante retorna mergulhada na disputa de morte entre um pai e um filho

Por Isabela Boscov Atualizado em 8 out 2021, 17h05 - Publicado em 8 out 2021, 06h00
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  • Designado pelo pai para o sacrifício — assumir a culpa de muitos por atos de que não participou, enfrentar o opróbrio e uma condenação por crimes federais, e ser ainda alijado permanentemente do império do qual se presumia herdeiro —, o filho não espera que algum anjo intervenha para salvá-lo. Como um Isaac que decidisse parar ele mesmo a mão de Abraão, o muitas vezes humilhado Kendall (Jeremy Strong) usa a coletiva de imprensa da qual deveria sair carregando todos os pecados da megacorporação Waystar Royco para, sem nenhum sinal prévio, virar a acusação contra o patriarca, Logan Roy (Brian Cox). “Meu pai é uma presença maligna. O reinado dele termina hoje”, diz Kendall, já se afastando dos microfones. Assistindo à entrevista a milhares de quilômetros de Nova York, em um iate ao largo da Grécia, Logan esboça um sorriso: talvez, quem sabe, o filho tenha então o necessário instinto assassino para o cargo que sempre cobiçou, e que o pai nunca enxergou nele. “Não acho que o sorriso signifique aprovação. É o reconhecimento de algum potencial, condicionado à hipótese de Kendall se mostrar capaz de levar adiante o que começou”, diz Brian Cox, tão duro na queda quanto o personagem que interpreta (leia a entrevista com o ator na pág. 84) — uma espécie de Rei Lear que não pensa realmente em dividir seu reino, mas apenas atiça os filhos Kendall, Roman (Kieran Culkin) e Shiv (Sarah Snook) com essa promessa para jogá-los uns contra os outros e segurar-se mais um dia, semana ou década no trono.

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    Como duas outras séries que se tornaram paradigma da nova dramaturgia televisiva, A Família Soprano e Mad Men, a espetacular Succession (Estados Unidos, 2018-), que entra na terceira temporada a partir do domingo 17, na HBO Max, opera na escala da tragédia clássica — a grega e a shakespeariana —, em que o poder amplifica e articula os grandes dilemas humanos. Querer e conseguir aquilo que se quer, claro, são coisas muito distintas. E a ambição de Succession beiraria o húbris — a palavra grega para um orgulho e arrogância tão excessivos que se creem capazes de se sobrepor ao destino —, não fosse a excelência do time envolvido no projeto.

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    À produção de Adam McKay, o cineasta afinado com os jogos de poder contemporâneos de A Grande Aposta e Vice, somam-se o brilhantismo dos diálogos do criador e roteirista Jesse Armstrong, que ao mesmo tempo cortam, confundem e eletrizam, e a solidez que ele dá à estrutura da série. À direção contundente de egressos do teatro britânico como Mike Mylod correspondem atores temperados na mesma tradição, como o escocês Cox e o americano Strong, sutis como a árabe-israelense Hiam Abbas (a indefinível terceira mulher de Logan) ou imprevisíveis como Kieran Culkin (que traz para o papel experiência considerável de famílias disfuncionais). “Em geral, tratamos cada cena como se fosse uma pequena peça teatral: podem ser quatro páginas ou vinte de roteiro, mas filmamos de uma vez só, sem parar nem cortar, com os nossos dois excelentes operadores de câmera circulando entre nós”, explica Cox. “Como estamos todos — diretor, atores, maquiadores, figurinistas — correndo o risco da cena juntos, a tensão sobe à tona.”

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    De certa forma, a maneira como Succession é filmada reproduz o impasse central dos Roy, cujo poder e controle vivem sob assédio de fraquezas pessoais e situações incontroláveis — desde a dependência de drogas de Kendall até acontecimentos triviais, como congestionamentos de trânsito e telefonemas que chegam em má hora. O poder de Logan Roy é de fato esmagador: à frente de um império de mídia que construiu a partir do nada e que abrange canais de notícias, jornais, cinema, parques temáticos e cruzeiros, ele unge ou enterra presidentes, influi em todas as esferas da política e carrega as bolsas de valores consigo para cima ou para baixo. Ele se vê tão grande e absoluto — tão insubstituível, enfim — que é incapaz de admitir a ideia da própria mortalidade, e toda vez que o instinto de legar um pedaço desse império aos filhos desponta, ele é sobrepujado por outro instinto, o da própria sobrevivência. Mas Logan tem 80 anos, e o fim de seu poder é uma cláusula natural e inescapável.

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    Assim, se a segunda temporada se encerrou com o golpe potencialmente letal desferido por Kendall contra Logan, a terceira leva de episódios retoma a cena do exato ponto em que ela havia parado para mergulhar na infinidade de repercussões desse sismo para a Waystar Royco, que já andava meio ferida de morte, e para cada um dos membros e agregados do clã Roy. Succession continua, em suma, a rechaçar o próprio título: com um rei que não entrega a coroa e herdeiros que contestam um ao outro, nenhuma catarse aqui é definitiva — e todas as complicações são possíveis.

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    Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2021, edição nº 2759

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