O diálogo entre duas pessoas diferentes, mas com algo em comum, conduz o filme. O que motivou esse enfoque? Tolerância é um dos temas do filme. Temos dois homens, dentro da mesma e tradicional instituição, mas que são radicalmente opostos. Ainda assim, eles tentam achar um ponto de conexão. Há uma frase de que gosto muito, que Bento XVI diz a Francisco: “Não concordo com nada do que você diz, mas você é aquilo de que a Igreja precisa agora”. O que pode ser mais tolerante que dizer “Não concordo, mas talvez você esteja certo”?
O senhor se considera tolerante? Eu faço um exercício. Racionalmente, não consigo muito. Existem atitudes que, para mim, são muito equivocadas, mas tento não ser agressivo. Não chego a ponto de xingar alguém.
O filme mudou sua visão sobre os papas? No começo, Francisco era o papa do bem e Bento era o papa do mal, o cara com fama de permitir a pedofilia. O filme se chamava O Papa, era sobre Francisco. Há uns seis meses, percebemos que era sobre os dois. O nome mudou para Dois Papas. Comecei a entender Bento XVI. Ele acredita que a Igreja é uma instituição para conectar o homem com Deus, uma coisa fora do nosso plano. Entendo isso, mas continuo achando que não adianta olhar só para cima se tudo embaixo está desmoronando. Sou mais Francisco.
Anthony Hopkins tem fama de metódico. Como foi tê-lo ao lado de Jonathan Pryce? Tony é de fato metódico. Ele é como um músico que estuda a partitura e, depois, a interpreta sem sair do roteiro. Já o Jonathan é mais um músico de jazz, que sente o personagem e capta sua linguagem corporal. Apesar das diferenças, os dois se entenderam bem.
Publicado em VEJA de 11 de dezembro de 2019, edição nº 2664