Quando, do alto de uma colina, a complexidade da base lunar se descortina para Emma (Hilary Swank), sente-se junto com ela a onda de excitação: é tão embriagante — e é só o começo. Dentro de 35 horas, a comandante e seus quatro tripulantes serão lançados rumo a Marte, onde passarão vinte meses implantando o embrião de uma colônia humana. No total, a americana e o russo Misha (Mark Ivanir), a chinesa Lu (Vivian Wu), o indiano Ram (Ray Panthaki) e o anglo-ganense Kwesi (Ato Essendoh) devem ficar três anos longe da Terra. No caso de Emma, isso significa três longos anos sem ver o marido (Josh Charles) e a filha adolescente (Talitha Bateman). Away (Estados Unidos, 2020) poderia desbravar um mundo ainda quase intocado pela TV, o de um desejo de aventura tão forte que é capaz de arrancar da órbita terrena até uma mulher enraizada como Emma. Mas, para isso, precisaria deixá-la viver esse desejo sem matá-la de culpa a cada nova reviravolta do roteiro — ou ao menos ajudá-la a equacionar a culpa e descolar-se dela aos poucos, como faz o longa A Jornada, em que a aspirante a astronauta interpretada por Eva Green enfrenta situação semelhante. A nova série da Netflix, porém, parece determinada a esmagar a protagonista sob o peso de sua ausência como mãe e esposa, e dobra a carga ao caracterizar como materno também o seu papel de líder da missão.
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Em vez de aventura, assim, Away oferece choro, aflição e DR: em solo ou no espaço, os personagens param tudo para discutir a relação até em momentos críticos. E, à medida que os entrechos progridem, mais bamba vai ficando a ciência, em uma sugestão incômoda de que esse seria um aspecto irrelevante para o público feminino atraído para a série. Away bem que gostaria de quebrar estereótipos. Mas, como não consegue deixar de encampá-los, só os reforça.
Publicado em VEJA de 9 de setembro de 2020, edição nº 2703
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