Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Paterson

Modesto, honesto e irresistível: por que este filme com Adam Driver está crescendo na bilheteria

Por Isabela Boscov Atualizado em 27 jun 2017, 16h13 - Publicado em 5 Maio 2017, 14h12
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A última temporada de Girls terminou, muito se falou, pouco me interessou: com esforço, cheguei ao meio da terceira temporada, e então desisti. As moças reclamavam demais, e é aborrecidíssimo aquele ar de Lena Dunham de quem se acha a rainha da cocada. Um mérito, porém, não se pode tirar dela: o de ter dado a Adam Driver um papel capaz de fazê-lo acontecer. Ainda que muito mais gente o conheça agora como o Kylo Ren de Star Wars, é também pelos outros papeis que Driver tem feito que ele merece ser observado detidamente. Exemplo em questão: o cativante motorista de ônibus Paterson, que mora na cidade de Paterson, em Nova Jersey, do filme Paterson (não, não estava faltando imaginação ao diretor Jim Jarmusch; a sobreposição tem um propósito). Lançado em um circuito modesto, Paterson vem fazendo ótima carreira nos cinemas brasileiros. Com duas semanas em cartaz, ganhou salas de exibição em vez de perdê-las, que seria o normal. Não é à toa. Eu o vi há quase um mês e continuo pensando nele todos os dias desde então, com carinho e com saudade. Há tempo eu não me afeiçoava tanto a um filme.

    Paterson
    (Fênix/Divulgação)

    Paterson é um filme pequeno, modesto, que celebra a vida também ela pequena e modesta de seu protagonista e da cidade em que ele vive. É nessa aparente mesmice cotidiana, e no que se faz dela, que estão a beleza e o interesse de existir, defende Jim Jarmusch. Na década de 80, quando estourou no cenário independente, Jarmusch era uma espécie de enfant terrible, que construía filmes como Daunbailó e Estranhos no Paraíso em torno de tipos que não se encaixam. Jarmusch era, também, uma destilação do espírito que então se associava a Nova York, do alternativo e do inconformista. Vai ver que é por tudo isso ter virado meio fake, mais pose do que substância, que Jarmusch não se inspira mais em Nova York. Em Flores Partidas, de 2005, ele pôs Bill Murray para cruzar o país em busca de suas ex-amantes. Os Limites do Controle, de 2009 (uma bola fora daquelas na carreira do diretor) se passava na Espanha. O delicioso Amantes Eternos, de 2013, se alternava entre Tânger e Detroit para contar a história de um casal de vampiros já meio enfadados com a imortalidade. Mas inspiração de verdade, para valer, ele encontrou de novo agora, na adormecida Paterson, com suas fábricas antigas de tijolos e suas vielas, e na honestidade e sensibilidade autênticas, sem adornos nem presunção, de Adam Driver.

    Paterson
    (Fênix/Divulgação)

    Ver Driver pela primeira vez, em Girls, foi como ver pela primeira vez Mickey Rourke em Corpos Ardentes, ou Heath Ledger em 10 Coisas que Eu Odeio em Você, ou Charlize Theron em Contrato de Risco: você sente a certeza absoluta de estar diante de um ator especial – um conceito que abrange ser bom ou ótimo ator mas vai bem além, de maneiras intangíveis e indefiníveis. Driver continuou a confirmar essa impressão em seu papel recorrente em Girls e nos filmes que fez desde então. Pelo jeito, tem muito mais gente que o considera especial, porque há uma fila de diretores interessados em trabalhar com ele – só para ficar em uma pequena parte da lista, Noah Baumbach em Frances Ha e em Enquanto Somos Jovens; Clint Eastwood em J. Edgar; Steven Spielberg em Lincoln; Martin Scorsese em Silêncio; Steven Soderbergh em Logan Lucky (ainda inédito); e até Sylvester Stallone em Tough As They Come, que está para entrar em produção. Além de J.J. Abrams em Star Wars, claro.

    Continua após a publicidade
    Paterson
    (Fênix/Divulgação)

    Driver está memorável em todos esses filmes. Mas talvez ninguém, até aqui, tenha tirado tão bom partido dessa honestidade verdadeira dele, e de sua curiosidade como ator, quanto Jim Jarmusch. Em Paterson, o protagonista é casado com uma mulher que adora. Toda manhã, vai a pé até a garagem municipal, dirige seu ônibus durante as horas seguintes, entreouve com atenção as histórias dos passageiros. Volta a pé para casa, janta e agradece à mulher pelo jantar, pega seu buldogue e vai com ele até o mesmo bar de sempre, para tomar uma única caneca de cerveja e ouvir a prosa dos frequentadores. Paterson ouve bem mais do que fala – e escreve poesia, à mão, num caderno.

    Paterson
    (Fênix/Divulgação)
    Continua após a publicidade

    Os poemas, na verdade de autoria do poeta contemporâneo americano Ron Padgett, são lindos: enxutos e limpos, de uma simplicidade quase espartana, eles comemoram coisas como caixas de fósforo, ou as moléculas que se deslocam com a passagem do ônibus. Na sua capacidade de reduzir as coisas à essência, e então se deslumbrar com o significado imenso que elas contêm, soam verdadeiramente como criação do personagem. Ou mesmo do ator que sabe tão bem quem é esse sujeito que ele está interpretando: assistindo a um TED Talk (excelente, por sinal) de Driver no YouTube (procure por “My Journey from Marine to Actor”), fiquei sabendo que ele se alistou aos 17 anos, logo depois do 11 de Setembro, nos Fuzileiros Navais e serviu durante vários anos.

    Paterson
    (Fênix/Divulgação)

    Quando estava para ser mandado para o Iraque, Driver sofreu um acidente grave e foi tirado dos quadros. Ficou desolado, e teve imensa dificuldade em se adaptar à vida civil e ao curso de teatro na Juilliard School, em Nova York, com aqueles exercícios tipo “imagine que você está fazendo seu próprio parto”. Tudo na vida militar, explica ele na palestra, tem uma razão e uma função, do jeito de amarrar o cadarço da bota à rotina do treinamento. Conseguir reencontrar um senso de comunidade e um propósito, diz ele, foi duro – mas indispensável, por ser questão de sobrevivência psicológica. Pode ser, então, que esteja aí o que me faz achar Driver um ator especial – a sensação de que tudo que ele atribui a um personagem é por um motivo, e pela necessidade de achar nele um sentido. Em Paterson, não fica dúvida de que essa sinceridade e essa delicadeza são genuínas.

    Continua após a publicidade

    P.S.: Recomendo muito ver Driver em excelentes desempenhos como coadjuvante em Tracks, Sete Dias Sem Fim e Destino Especial, todos filmes que valem a pena.


    Trailer

    Continua após a publicidade
    PATERSON
    (Estados Unidos/França/Alemanha, 2016)
    Direção: Jim Jarmusch
    Com Adam Driver, Golshifteh Farahani, Barry Shabaka Henley, Sterling Jerins, Masatoshi Nagase
    Distribuição: Fenix

     

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.