Namorados: Assine Digital Completo por 5,99
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Kubo e as Cordas Mágicas

Uma animação linda de morrer, que enche os olhos e parte o coração

Por Isabela Boscov Atualizado em 13 jan 2017, 15h09 - Publicado em 14 out 2016, 04h21

Por mais fofos e inteligentes que sejam desenhos como Divertida Mente, Pets – A Vida Secreta dos Bichos, ou ainda o adorável Zootopia, eu andava sentindo falta de algo diferente na animação. Algo que fosse mais, e muito, e novo, que tivesse um rasgo de imaginação. Pois Kubo e as Cordas Mágicas atendeu todos os meus desejos: é escandalosamente lindo, virtuosístico, criativo e original. Mais importante ainda: sofri por Kubo, um menino muito corajoso de 11 anos, como se ele fosse meu. Ou, quem sabe, como se eu estivesse no lugar dele.

kubo_mat1

Ainda bebê, e já cego de um olho, Kubo foi escondido pela mãe em uma caverna, no alto de uma pequena ilha. O salvamento foi o último gesto de que a magia de sua mãe foi capaz: desde então, ela vive como que perdida dentro de si mesma. Nas poucas vezes em que desperta de seu transe, ela alerta Kubo para nunca sair à noite, para que o avô dele e suas tias, feiticeiros do escuro, não o encontrem e venham roubar seu outro olho. Em outras ocasiões, conta a Kubo como o pai dele, um samurai, morreu para defendê-lo. Mas quase sempre ela sonha, apenas – e, com seus sonhos, faz pedaços de papel se dobrarem em origamis lindíssimos e ganharem vida.

kubo_mat2

Essa é uma mágica que Kubo tem também, quando toca seu shamisen, aquele banjo japonês de três cordas. E é com ela que ele sustenta a si e à mãe: Kubo se levanta com o sol todas as manhãs e vai para a aldeia próxima se apresentar na praça. Narrando histórias fantásticas enquanto dedilha o shamisen, ele faz as dobraduras se transformarem em personagens que duelam, guerreiam, assombram e divertem a pequena plateia – que adora os espetáculos de Kubo, e o presenteia com moedas. Na noite em que os aldeões vão homenagear seus mortos, porém, Kubo não resiste, e desobedece à mãe: ele quer acender uma lanterna para seu pai, como todo mundo. É o que basta para as tias feiticeiras o encontrarem, e a saga começar.

Continua após a publicidade

kubo_mat3

Kubo e as Cordas Mágicas não é uma produção japonesa. É uma criação da Laika Entertainment, um ateliê que fica no Oregon, a uma distância segura de Los Angeles e do Vale do Silício (onde está estabelecida a maior parte das produtoras de animação), e que segue diretrizes muito particulares. A Laika só trabalha com orçamentos médios, na casa dos 60 milhões de dólares, para garantir sua independência criativa – quanto mais dinheiro em jogo, maiores a interferência e a tentação de fazer concessões para chegar a um público mais amplo. Ela nunca teve um mega-sucesso de bilheteria, mas os três longas que já produziu – Coraline e o Mundo Secreto, ParaNorman e Os Boxtrolls – renderam bem e fecharam no azul.

kubo_mat4

Continua após a publicidade

A Laika se dedica unicamente à stop-motion, a animação quadro a quadro com bonecos ou marionetes, e faz questão de mantê-la artesanal. Por exemplo: só um animador responde por cada cena, para não desvirtuar o processo. As pesquisas são minuciosas: os cerca de 400 artesãos, cientistas e animadores que trabalham na Laika passaram um ano e meio estudando cada detalhe dos personagens, dos objetos de cena e dos figurinos (além do folclore japonês) antes de Kubo entrar em produção. Desafios técnicos são mandatórios: faz parte da missão que a Laika se impôs avançar no aperfeiçoamento tecnológico da stop-motion. Isso pode incluir improvisar uma intrincada rede articulada com cordas de piano para sustentar as capas das feiticeiras, ou desenvolver softwares inéditos para mapear a relação entre musculatura e movimentação do tecido sobre o corpo. A Laika está à frente de todas as outras produtoras de stop-motion, ainda, no detalhe das expressões faciais: é pioneira no uso de impressoras 3D para elaborar uma quantidade muito superior e mais variada que a habitual de rostos para os personagens. Às vezes, o realismo é tal que se tem a impressão que a stop-motion foi simulada por meio de computação gráfica. A Laika não é avessa a usar recursos digitais nos retoques, e os têm empregado também em cenas de multidão. Mas seu primeiro mandamento é: tornar a stop-motion uma solução artística e tecnológica sem rival no mundo da animação.

kubo_mat5

Kubo e as Cordas Mágicas é o quarto longa da Laika e, na minha opinião, o primeiro em que todas as ambições dela se realizam plenamente. Os três filmes anteriores tinham uma sensibilidade muito próxima à das animações de Tim Burton (como A Noiva Cadáver e Frankenweenie). Mas, agora, nessa viagem fantástica pelo Japão do século 17, a Laika conseguiu encontrar uma voz toda própria. Ela mantém a sua quedinha para os temas mais trágicos ou sombrios, mas pôs de lado as tiradas mais macabras e achou uma linguagem única, cheia de cor, volume e delicadeza, na qual exercitar suas inclinações. E uma linguagem, diga-se, sem “disneyficações”: o estranho e até o assustador são celebrados, e vistos pelo que têm de belo.

Continua após a publicidade

kubo_mat6

O que leva à minha última consideração sobre Kubo e as Cordas Mágicas, mas nem de longe a menos importante: que trabalhos de voz magníficos! O menino Art Parkinson, que faz Kubo, é excelente. O besouro-samurai dublado por Matthew McConaughey é de dar vontade de pegar no colo: que coração de ouro ele tem. Gelei de medo de Ralph Fiennes, o avô feiticeiro. E estou tonta de amor por Macaca, a protetora de Kubo, que Charlize Theron consegue tornar franca, severa, ácida, espirituosa e terna – às vezes numa mesma fala. A versão original é tão boa, mas tão boa, que a distribuidora está lançando Kubo também em cópias legendadas, o que não anda muito comum por aqui. Prestigie. Vale a pena.

E, graças ao leitor Anderson Clayton Silva Ferreira, lembrei que faltou mencionar uma coisa: a lindíssima versão de Regina Spektor para While My Guitar Weeps, de George Harrison, que fecha o filme. Regina, para quem não lembra, é a autora e cantora da música de abertura de Orange Is the New Black.

Continua após a publicidade

Trailer

https://youtu.be/cfEUTvIrctg


KUBO E AS CORDAS MÁGICAS
(Kubo and the Two Strings)
Estados Unidos, 2016
Direção: Travis Knight
Com as vozes de Art Parkinson, Charlize Theron, Matthew McConaughey, Rooney Mara, Ralph Fiennes, Brenda Vaccaro, George Takei
Distribuição: Universal

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês*
DIA DOS NAMORADOS

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.