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Isabela Boscov

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“Kingsman: O Círculo Dourado”: um passo para trás

Continuação tem mais quantidade, mas menos qualidade, que o filme original

Por Isabela Boscov Atualizado em 29 set 2017, 18h46 - Publicado em 29 set 2017, 18h45
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  • Adoro o primeiro Kingsman: Serviço Secreto, de 2014: eu não conhecia a graphic novel em que ele se baseia, não tinha a menor ideia do que esperar e foi uma completa surpresa o jeito ultra realçado, totalmente quadrinhos, com que Matthew Vaughn filmava a ação – além do humor debochado, o atrevimento e, nem um pouco menos importante, a ótima parceria entre Colin Firth e o então novato Taron Egerton. Aquela sequência em que Firth, como o agente Galahad, sai estraçalhando os fiéis (literalmente) numa igreja batista no Sul americano ao som de Lynyrd Skynyrd? Ultrajante, e maravilhosa. Sempre tive Matthew Vaughn em alta conta, aliás, por conta de Nem Tudo É o que Parece, Kick-Ass e X-Men: Primeira Classe. Até Stardust, uma adaptação um tantinho confusa da graphic novel de Neil Gaiman, tem seus ótimos momentos. De forma que eu estava babando para ver Kingsman: O Círculo Dourado. Mas, de todos os filmes de Vaughn, este é o primeiro a me deixar dividida. As qualidades do primeiro Kingsman estão lá – e às vezes, felizmente, só elas estão lá. Mas, em outras ocasiões, há um bocado de entulho em volta delas: O Círculo Dourado tem um apego excessivo a algumas de suas tiradas, e tende a não largar delas mesmo quando elas já deram tudo o que tinham para dar.

    Kingsman: O Círculo Dourado
    (Fox/Divulgação)

    Recapitulando (e, se você não viu o primeiro filme, pule este parágrafo – e então corra para vê-lo), Galahad, o supra-sumo do cavalheiro inglês, mas uma fera capaz de abater um pub inteiro de arruaceiros só com um guarda-chuva e uma caneca de cerveja na mão, recrutava o garoto Eggsy (Egerton) nos cortiços de Londres a fim de treiná-lo à sua imagem e semelhança e torná-lo tão proficiente em MMA quanto em jantares de sete talheres. Ternos da Savile Row (uma alfaiataria da rua que faz os ternos mais bem cortados do mundo é a fachada atrás da qual se esconde a agência secreta), sapatos, guarda-chuvas, óculos e carros de matar – mais as boas maneiras, uma obsessão dos Kingsmen – tornavam Eggsy um legítimo “homem do rei”. Mas, para Galahad, as coisas terminavam mal: com um tiro na cabeça, do lado de fora da mesma igreja em que ele sofrera seu surto de violência. De forma que, nesta continuação, Eggsy sucedeu a Galahad no posto e no codinome. Mas, como não é segredo para ninguém que Colin Firth está no elenco – ele aparece inclusive nas fotos distribuídas para a promoção do filme –, o fato é que Galahad está bem menos morto do que se supunha. É um despropósito, mas é também um alívio: quando Colin Firth não está em cena, sua ausência é duramente sentida.

    Kingsman: O Círculo Dourado
    (Fox/Divulgação)

    (E, agora, quem ainda não viu Serviço Secreto pode continuar a ler.) Uma nova ameaça, porém, se levanta: a miudinha, alegrinha e totalmente desequilibrada Poppy (Julianne Moore), que não se sabe bem como construiu um monopólio global de tráfico de drogas. Poppy é doida pelo décor da década de 50 e, no diner que enfeita a sua toca, serve hambúrguers no capricho. Pena que sejam feitos com os funcionários que saíram da linha, os quais Poppy mói ali mesmo, na hora, para os sanduíches saírem sempre fresquinhos. Apesar dos esforços valentes de Julianne Moore, a vilã é, para mim, uma dessas piadas que O Círculo Dourado usa bem além da data de validade: as suas roupinhas de dona-de-casa perfeita, o moedor do diner, os cães-robôs, o popstar que ela sequestrou e obriga a dar shows particulares diários – a certa altura, a graça se esgota, e Poppy começa a parecer só num artifício excessivamente elaborado para empurrar a trama adiante. Bem mais divertidos são os Statesmen, a contraparte americana dos Kingsmen – com participações perfunctórias de Jeff Bridges e Channing Tatum, e papéis bem mais importantes no caso de Pedro Pascal e Halle Berry.

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    Kingsman: O Círculo Dourado
    (Fox/Divulgação)

    Em linhas gerais, o charme da série Kingsman está no seu manejo criterioso do excesso: os excessos da violência, a ação ultra estilizada pelos enquadramentos e pelos cortes, os absurdos tomados como estritamente normais. O Círculo Dourado, porém, é um bom exemplo do que acontece quando um realizador exagera no exagero, sem reconhecer que nas regras internas dele há, sim, um limite. Em Serviço Secreto, nada estava ali por estar, e tudo contribuía para tonar o filme uma delícia em cada um dos seus 129 minutos. Desta vez, Vaughn usa muito mais enredo do que o necessário, deixa passar piadinhas apenas medianas, dispersa-se em tramas secundárias sem grande valor e estende a coisa toda por 141 minutos. Quando ele está concentrado no que interessa, ainda é imbatível. Quando se dá o luxo da indulgência e da gratuidade, o nível despenca.


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    Trailer

    KINGSMAN: O CÍRCULO DOURADO
    (Kingsman: The Golden Circle)
    Inglaterra/Estados Unidos, 2017
    Direção: Matthew Vaughn
    Com Taron Egerton, Mark Strong, Julianne Moore, Colin Firth, Pedro Pascal, Halle Berry, Edward Holcroft, Jeff Bridges, Channing Tatum, Hanna Alström, Sophie Cookson, Michael Gambon, Poppy Delevingne, Elton John
    Distribuição: Fox

     

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