Ramona é um fenômeno: quando sobe ao palco do clube de strip-tease e começa a girar o corpão, o carão e o cabelão, a clientela urra, e chove dinheiro sobre ela. Linda e carismática, é uma criatura nascida para os holofotes — da mesma forma que Jennifer Lopez, que a interpreta com garra e, aos 50 anos, continua um magnífico furacão de categoria 5. Mas nem uma rainha entre as strippers de Nova York pôde resistir ao colapso financeiro de 2008. A maioria dos clientes que saíam diretamente de seus escritórios em Wall Street para as noitadas no clube não possui mais notas de dólares às centenas para atirar às moças, e aqueles que ainda as possuem andam na moita. Ramona, porém, tem obrigações para custear e gostos caros — os quais, assim como os truques do ofício, ensinou à amiga Destiny (Constance Wu, de Podres de Ricos). Profissional criativa, ela bola um esquema para, juntamente com Destiny e outras colegas, levar os fregueses a se separar de seu dinheiro. De início dúbio, o modus operandi do grupo evolui até se tornar criminoso. E, no entanto, é possível compreender o argumento moral que Ramona e Destiny propõem a si mesmas, de que estão só objetificando quem as objetifica.
A diretora Lorene Scafaria fez apenas dois longas para o cinema, Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo e A Intrometida, antes de As Golpistas (Hustlers, Estados Unidos, 2019), que acaba de entrar em cartaz — mas vê-se agora que estava à espera de material no qual pudesse de fato cravar os dentes. Repleta de energia, veloz e volátil, a história, adaptada de uma reportagem publicada na New York Magazine, troca o nome real das personagens, mas não reduz nem julga a vertigem com que elas enveredam por seu plano. Trata-se de uma produção com a marca registrada da dupla Adam McKay e Will Ferrell, de A Grande Aposta, Vice e Succession: uma reafirmação de que a vida real é quase sempre muito mais estranha e intoxicante que a ficção.
Publicado em VEJA de 11 de dezembro de 2019, edição nº 2664
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