Quer ir dormir mais cedo? Está sem paciência? Não é por isso que você precisa ficar sem programa – nem perder o tempo que não tem caçando o filme certo. Aqui vão três sugestões bem variadas:
Gatinhas e Gatões (1984)
Este vem com a assinatura do grande gênio do filme adolescente, o John Hughes de Curtindo a Vida Adoidado e A Garota de Rosa-Shocking. Molly Ringwald, a musa de Hughes, é Samantha, que está passando por uma semana de lascar: está apaixonada pelo bonitão da escola e ele nem faz ideia de que ela existe (nem quando está olhando diretamente para ela); atraiu a paixão do magricela The Geek (Anthony Michael Hall, impagável), que sem querer a expõe a todo tipo de gafe; está com a casa lotada de parentes inconvenientes que vieram para o casamento de sua irmã mais velha com um idiota; e, por causa da confusão com a festa, não há uma alma sequer que se lembre de que Samantha está fazendo 16 anos. Hughes já estava retirado do cinema quando morreu prematuramente, em 2009, aos 59 anos, de infarto – e que falta ele faz. Nunca um diretor entendeu a adolescência como ele nem a tratou com tanto humor e, ao mesmo tempo, tanto respeito. Veja-se, por exemplo, os milagres que ele faz nas cenas com o estudante de intercâmbio Long Duk Dong (Gedde Watanabe), um personagem que poderia descambar para a completa estupidez, mas se torna brilhante. Hughes, além disso, tinha um dom quase sobrenatural para pescar músicas para a trilha sonora. Aqui ela vai de Billy Idol a Frank Sinatra, e de uma ópera de Wagner a Spandau Ballet, com resultados inesquecíveis.
Locke (2013)
Do começo ao fim, a única coisa que se tem em cena é Tom Hardy, falando ao viva-voz do celular e mal e mal iluminado pelas luzes do painel do carro e pelos faróis dos automóveis que passam em sentido contrário. E, no entanto, o filme é hipnótico, graças ao ótimo roteiro do diretor Steven Knight e, claro, à atuação soberba de Hardy – que, como já demonstrado em várias ocasiões (por exemplo, em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Mad Max – Estrada da Fúria e Dunkirk), consegue galvanizar mesmo com o rosto quase todo encoberto, usando só aquela voz peculiar que ele tira das profundezas. Dirigindo de sua cidade rumo a Londres, durante a noite, Ivan Locke conversa com o capataz de uma obra que está tocando, com a mulher, com o filho – e pouco a pouco percebe-se que, naquela hora e meia que a ação toma, sua vida está desmoronando. Autor de roteiros excelentes como os de Jornada pela Liberdade e Senhores do Crime, Steven Knight descobriu uma nova inspiração em Tom Hardy: colocou-o num papel intimidante na série Peaky Blinders e fez dele um protagonista sulfúrico na recente Taboo (ambas, aliás, merecem ser vistas, com honras).
O Marido Ideal (1999)
Sir Robert Chiltern (Jeremy Northam) é um modelo de integridade e um marido adorado por sua mulher (Cate Blanchett) – além de uma estrela em ascensão no parlamento inglês. Eis que a manhosa Sra. Cheveley (Julianne Moore) dá as caras em Londres, de posse da prova da única desonestidade jamais cometida por Sir Chiltern em toda a sua carreira – mas ela é danosa o suficiente para condená-lo à desgraça. Mesmo com esse baita elenco à sua volta, Rupert Everett rouba fácil fácil a cena no papel do indolente lorde Goring, que tenta se esquivar de uma jovem casadoira ao mesmo tempo em que livra o amigo Sir Chiltern da chantagista (à sua maneira muito bem educada, ele tem uma moral tão flexível quanto a dela). Everett tem o traquejo perfeito para dar vida aos diálogos reluzentes de Oscar Wilde, que escreveu essa comédia de costumes encenada pela primeira vez em 1895. “Prefiro falar sobre nada, pois é o único assunto sobre o qual sei alguma coisa”, diz lorde Goring, ou ainda, “Amar a si próprio é o começo de um romance para toda a vida”. Uma espécie de Downton Abbey temperado com bastante sal e pimenta.