Frie Palmers (Maaike Cafmeyer) vai ser julgada pelo assassinato de sua filha de 4 anos, cuja guarda perdera para o ex-marido e a nova mulher dele – e, num desdobramento inusitado da investigação, responderá por outro homicídio ainda, de sua amiga de adolescência Britt, que desapareceu vinte anos antes. Frie alega enfaticamente ser inocente de ambas as acusações. Mas é uma mulher lamuriosa, que não desperta confiança nem simpatia, e a imprensa e a opinião pública meio que já a condenaram. Dada a gravidade dos crimes, ela irá a júri popular, sistema que é alvo de críticas constantes: como podem doze pessoas quaisquer – com preconceitos, movidas por ódios e paixões, e sem nenhuma formação legal – chegar ao veredicto mais justo? Por outro lado, argumentam os defensores do júri popular, por que juízes e promotores deveriam concentrar mais poder ainda sobre o destino de um acusado, se estão sujeitos a esses mesmos vícios?
À medida que se vão conhecendo mais de perto as quatorze pessoas selecionadas (doze jurados regulares, dois suplentes), não há como negar: todos levam bagagem pesada para dentro do tribunal. Delphine (Maaike Neuville) sofre em um casamento abusivo do qual não tem força para escapar. Carl (Zouzou Ben Chikha) é um pai ultracontrolador e que tende a pensar o pior de todo mundo. Arnold (Peter Gorissen) é um velho solitário que de início parece gentil, mas aos poucos revela-se mesquinho. Holly (Charlotte De Bruyne) enfrentou um episódio horrendo de violência no passado. Joeri (Tom Vermeier) é um cara bacana, mas acaba de acobertar um acidente fatal. A questão é que não só na bancada do júri há personagens duvidosos. A investigadora-chefe detesta Frie e usou de expedientes ilegais para forçar as acusações. O ex-marido de Frie é arrogante, desagradável e foi um canalha com ela. O pai da desaparecida Britt tem seus esqueletos no armário. E por aí vai.
O título pode dar a impressão de que o que vai se ver aqui é em alguma medida uma refeitura de 12 Homens e Uma Sentença, o clássico de 1957 do diretor Sidney Lumet em que, fechados numa sala, os doze jurados enfrentam uns aos outros, obrigados por Henry Fonda a examinar à exaustão suas conclusões sobre o caso que coube a eles. Mas a belga Doze Jurados vira essa premissa do avesso. Uma dessas séries europeias sólidas que optam por uma encenação contida e severa, quase documental, ela põe em primeiro plano o desenvolvimento dos personagens; no seu roteiro meticuloso, eles é que estão em julgamento, mais até do que a própria Frie. Não que o mistério central – ela cometeu os crimes ou não? – não seja de atarantar: quanto mais informação vem à tona, mais tortuoso fica o caso. Na posição de um décimo-terceiro jurado, também o espectador analisa as provas e os argumentos da promotoria e da defesa, e a cada episódio pende ora para um lado, ora para o outro. Mas ele examina principalmente o que cada membro do júri faz desses argumentos e provas – a maneira como os vieses pessoais impactam a perspectiva deles e mudam a importância e o valor que as informações terão para cada um. Mais: não só os jurados levam bagagem para dentro do tribunal, como no fim do dia carregam para casa o peso extra que adquiriram na sala do julgamento. É uma experiência árdua, mas interessantíssima. E, sim, Doze Jurados chega a uma conclusão sobre os crimes e também sobre o sistema do júri popular. Mas só no último minuto, quando aí também o espectador poderá cotejar suas conclusões com a da série.