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Isabela Boscov

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Café Society + 16 resenhas de Woody Allen

O diretor volta à Hollywood dos anos 30 e 40, e eu revisito a carreira dele

Por Isabela Boscov Atualizado em 13 jan 2017, 18h55 - Publicado em 27 ago 2016, 20h25

Bobby (Jesse Eisenberg) vive tão espremido, em Nova York, entre os pais que vivem brigando e o irmão gângster (o ótimo Corey Stoll), que nem consegue enxergar uma alternativa para sua vida. Manda-se então para Los Angeles, onde seu tio Phil (Steve Carell) é um agente que gerencia metade dos astros e estrelas do cinema. E, depois de tomar muito chá de cadeira (o tio é um tipo curto e grosso, e não quer saber de parentes encostando nele), arruma um emprego na agência. Bobby revela uma habilidade maior que a esperada para lidar com os egos da clientela. E, assim como Vonnie (Kristen Stewart), a secretária de seu tio, que se incumbe de ser sua guia na cidade, ele é singularmente crítico e livre de ilusões  sobre essa Hollywood de fábula dos anos 30 e 40 em que se passa Café Society, o novo filme de Woody Allen. Bobby e Vonnie, vão, claro, se aproximar – e então se distanciar, e se aproximar de novo, numa oscilação que tem a ver não apenas com o amante secreto dela, como também com as escolhas mais fundamentais que ambos irão fazer. Paixão ou segurança, o desconhecido ou o familiar, o superficial e confortável ou o profundo e difícil? Tanto Bobby como Vonnie passarão os anos seguintes experimentando diferentes caminhos, e remoendo os caminhos que não tomaram.

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Café Society é Woody Allen no máximo da sua ambivalência a respeito de um mundo que ele idealiza e rejeita, e ao qual ao mesmo tempo pertence e não pertence. Como em Celebridades ou Blue Jasmine, ele vai fundo no desprezo por veleidades como fama, sucesso, dinheiro e beleza, mas sofre de uma nostalgia conflituosa pela velha Hollywood do glamour – que, em essência, não é muito diferente da Hollywood sem glamour de hoje no negócio a que se dedica, o de cultivar aparências. Woody está simultaneamente acima e abaixo desse mundo. Parte dele sabe disso: quando Bobby retorna a Nova York e abre o clube noturno que dá título ao filme, frequentado por artistas, gângsters e socialites, ele sem dúvida está mais no seu elemento do que antes. Mas o vazio do ambiente é o mesmo, e a vida que ele faz com uma outra Vonnie (Blake Lively), bem menos inquieta que a Vonnie original, é quase que uma farsa. O destino de Bobby, enfim, é sofrer com a insatisfação e com as coisas incompletas.

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O que, claro, é um destino excelente para um artista (Bobby, evidentemente, é um dos muitos alter egos que Woody já criou em seus filmes): saciedade e conformismo não são bons fertilizantes para uma vida genuinamente criativa. Café Society é mais honesto do que Celebridades ou Blue Jasmine, porque admite que parte da infelicidade de Bobby é culpa dele mesmo, ou de sua falta de coragem ou competência para se tornar quem gostaria de ser. Mas, se falta a Café Society a grandeza de Match Point, aquela capacidade formidável de mostrar como somos autores das nossas próprias tragédias, é porque ele preserva uma veia melindrada que às vezes aparece nos filmes de Woody – uma implicância meio mesquinha com a vida e com a pequenez das pessoas, e um humor muito frequentemente feito às custas dos personagens.

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Mais até do que o próprio Woody, é Jesse Eisenberg quem compreende esses ânimos opostos que convivem no diretor: Jesse, que já foi alter ego de Woody antes, em Para Roma, com Amor, é um tremendo ator (podem falar mal dele em Batman Vs. Superman à vontade; não estou nem aí) e, mais importante, é um ator de inteligência e discernimento. Aqui, ele usa sua complementação excepcional com a Vonnie cheia de reticências de Kristen Stewart (que está matadora no papel) para, mais do que interpretar, documentar a longa transição de Bobby da ingenuidade para a amargura. Preste atenção na cena final, em que tanto Jesse como Kristen estão em evidência: eles conseguem compor um desfecho grandioso nas coisas que sugere – e na maneira como, gentilmente, revelam coisas sobre o espírito que anima essa história que Woody mesmo provavelmente detestaria pôr em palavras. São eles dois, quase sempre, que transformam em força as fraquezas de Woody.

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Clique nas fotos abaixo para ler as resenhas de 16 filmes de Woody Allen, escritas à época dos seus lançamentos:


Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Celebridades ()
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Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Poucas e Boas ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Trapaceiros ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
O Escorpião de Jade ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Igual a Tudo na Vida ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Melinda e Melinda ()
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Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Ponto Final – Match Point ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Scoop – O Grande Furo ()
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O Sonho de Cassandra ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Vicky Cristina Barcelona ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Tudo Pode Dar Certo ()
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Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Meia-Noite em Paris ()
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Para Roma com Amor ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Blue Jasmine ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Magia ao Luar ()
Café Society + 16 resenhas de Woody Allen
Homem Irracional ()
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Trailer

CAFÉ SOCIETY
Estados Unidos, 2016
Direção: Woody Allen
Com Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Steve Carell, Jeannie Berlin, Corey Stoll, Ken Stott, Parker Posey, Blake Lively, Paul Schneider, Anna Camp, Sheryl Lee
Distribuição: Imagem Filmes

 

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