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Isabela Boscov

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7 filmaços na Netflix: 1 por dia

De “Poderoso Chefão” a “Os Intocáveis” e “Onde os Fracos Não Têm Vez”, veja clássicos americanos do crime a semana toda

Por Isabela Boscov Atualizado em 18 set 2017, 17h33 - Publicado em 18 set 2017, 17h31
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  • Faz alguns dias, Os Intocáveis finalmente entrou na Netflix, e fui rever com gosto a recriação luxuosa do diretor Brian De Palma para a perseguição ao megacriminoso (para os padrões dos anos 20) Al Capone. Desde a Lei Seca, que proibiu as bebidas alcoólicas de 1920 a 1933 e com isso fez disparar o contrabando e o crime organizado nos Estados Unidos, o cinema americano encontrou na bandidagem a matéria-prima para um sem-número de filmes extraordinários. Entre os que estão disponíveis na Netflix, selecionei sete para uma semana especial, abrangendo alguns dos maiores cineastas do país e suas obras-primas:


    1 & 2. O Poderoso Chefão I & II (1972/1974)

    Não dá outra: qualquer antologia do melhor do filme de crime e/ou gângsters tem de começar pela dupla obra-prima de Francis Ford Coppola, por uma razão simples: ela é imbatível. Al Pacino sofre e se horroriza, e faz o espectador sofrer com ele e se horrorizar dele, no papel de Michael Corleone, o relutante herdeiro do “capo” mafioso Vito Corleone (Marlon Brando na velhice, Robert de Niro na juventude), que na virada do século 19 para o 20 deixou a Sicília rumo a Nova York sem um tostão no bolso, e construiu um império. O resultado é uma saga da criação da América moderna, vista de dentro da lógica empreendedora mais implacável – a dos destituídos que se erguem pelo crime. A direção de Coppola, que então tinha apenas 33 anos, é ao mesmo tempo suntuosa e limpa – um dos auges do moderno classicismo cinematográfico. Nada envelhece neste colosso, uma adaptação que ganha disparado do livro original de Mario Puzo. O Poderoso Chefão III, de 1990, também está disponível na Netflix, mas o fato é que não se compara às investidas iniciais de Coppola.

    7 Filmes
    (Paramount/Divulgação)

    3. Cassino (1995)

    Difícil escolher entre tantos filmes soberbos que Martin Scorsese fez sobre o mundo americano do crime e da marginalidade: Caminhos Perigosos? Taxi Driver? Os Bons Companheiros? Os Infiltrados? Eu vou de Cassino porque, dentro todos eles, esta tour de force da angústia talvez tenha sido o menos compreendido e menos amado na ocasião do seu lançamento – e, no entanto, quanto mais o revejo, mais forte e coeso ele fica. Usando o voice over – a narração do personagem por cima da ação – de forma extensa e contundente, Scorsese narra a história (em boa parte verídica) do personagem de Robert De Niro, um judeu que consegue se fazer aceitar pela máfia italiana graças à inteligência com que administra cassinos em Las Vegas, mas vai pondo tudo a perder porque, no seu desejo de ser reconhecido e respeitado, atrai duas personalidades incontroláveis para a sua órbita. Uma é o tenente mafioso interpretado de maneira assustadora por Joe Pesci; outra é a prostituta de luxo vivida por Sharon Stone, com quem o protagonista se casa, mas que nunca deixa de desprezá-lo e detestá-lo. Uma combinação raríssima: um filme que se desenrola com todo o susto de uma montanha-russa, mas no qual os sentimentos são devastadores.

    7 Filmes
    (Universal/Divulgação)
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    4. Os Intocáveis (1987)

    Entre os filmes sobre crime dirigidos por Brian De Palma, o mais célebre, Scarface, está na Netflix. Mas o meu preferido, O Pagamento Final, não está. Então vou de Os Intocáveis, que, à parte o primeiro Missão: Impossível, é o maior sucesso da carreira do diretor. Não por acaso: uma aventura deliciosa e de encher os olhos, Os Intocáveis aproveita os fatos quando lhe convém, e os transforma em ficção quando apropriado, para contar a história de como Eliot Ness (Kevin Costner), um jovem e aparentemente ingênuo agente do Tesouro, reuniu um time de colegas à prova de qualquer tentativa de corrupção para enquadrar Al Capone (Robert De Niro), o chefão criminoso que aterrorizou Chicago durante os anos da Lei Seca. O time de De Palma reduz de onze para três o número de companheiros de Ness, mas eles valeriam por trinta: Sean Connery, maravilhoso como o policial irlandês veterano que conhece as ruas da cidade de trás para a frente; Andy Garcia no papel que o revelou, como um policial de sangue quente recrutado na academia; e Charles Martin Smith, cativante como o contador forense que encontra a chave para capturar Capone. Revi na semana passada e atesto que a sequência na estação de trem de Chicago permanece uma das mais insanamente brilhantes já feitas.

    7 Filmes
    (Paramount/Divulgação)

    5. Era Uma Vez na América (1984)

    E lá vamos nós para o quarto (e, nesta lista, último) título em que Robert De Niro tem papel essencial. Na saga do mestre italiano Sergio Leone, ele é David Aaronson, um imigrante judeu que lucrou junto com seus três amigos inseparáveis na juventude, na Nova York da Lei Seca. Décadas depois, ele retorna à cidade, para reencontrar os velhos cúmplices, rever a garota que alimentou seus sonhos e fazer o balanço do que se passou. Valendo-se da espetacular direção de arte de Carlo Simi e da trilha que combina Rossini, Cole Porter, Gershwin e até Beatles à música de seu grande colaborador Ennio Morricone, Leone alterna a história entre o presente, nos anos 70, e dois períodos principais do passado – a infância dos amigos no então miserável e barra-pesada Lower East Side, e sua juventude como príncipes do submundo. Muito cuidado, porém, para não sair assisttindo qualquer versão do filme. A direção opulenta de Leone só se revela em toda a sua beleza na versão restaurada – por sorte, a que está na Netflix – de 229 minutos. Para o lançamento nos cinemas, o estúdio picotou o filme de forma criminosa, tornando-o bem mais curto e, paradoxalmente, muito mais arrastado.

    7 Filmes
    (The Ladd Company/Divulgação)
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    6. Inimigos Públicos (2009)

    É 1934. Os americanos padecem na fase mais profunda da Depressão, e o crime viceja. Essa é a era dos “desesperados” – jovens vindos de famílias pobres ou remediadas que, nestes tempos difíceis, se reúnem em bandos transitórios e, munidos de metralhadoras Thompson, as “Tommy guns”, cometem assaltos ousados, à luz do dia, que não raro deixam mortos. O governo os declara inimigos públicos. Mas o público, na maioria, os acolhe a ponto de dar-lhes guarida; aos olhos das pessoas comuns, os “desesperados” estão roubando de quem roubou delas. Tanto maior a necessidade, portanto, de o governo reafirmar sua autoridade capturando tais criminosos. Melhor ainda se o alvo da captura for o mais eficiente, audaz e insolente deles, o número 1 da lista de procurados: John Dillinger, cuja trajetória breve e intensa o diretor Michael Mann recria no não exatamente breve, mas intenso e brilhante Inimigos Públicos. Um dos mais vigorosos cineastas americanos, Mann tem uma carreira marcada pela preocupação com a ética do trabalho – seja qual for ele. Aqui, ele se fascina na mesma medida com a vida de crime de Dillinger e com o conflito de Melvin Purvis (Christian Bale), o agente federal honesto que foi se repugnando com os métodos do FBI. Mann contrapõe a dimensão arquitetônica dos Estados Unidos – grandiosa e ostentatória nas cidades, esparsa até os limites do horizonte fora delas – a closes imensos e ultradetalhados do rosto de seus atores (e Johnny Depp e Marion Cotillard, que sabem trabalhar em voltagem baixa, mas constante, tornam esses momentos infinitamente interessantes). Não há cena aqui, por mais explosiva que seja, que culmine com excitação ou alívio; só com mais tensão e apreensão.

    7 Filmes
    (Universal/Divulgação)

    7. Onde os Fracos Não Têm Vez (2007)

    E o que sobra de tudo isso que se viu? Não há rescaldo melhor do que este filme colossal dos irmãos Joel e Ethan Coen. Da mesma forma que em Fargo, outro trabalho monumental dos Coen, aqui existe um lar que é um santuário. Lá fora, porém, está o horror, na forma de cadáveres crivados de balas e espalhados pelo deserto, uma fortuna que está perdida mas tem dono, drogas que atravessam a fronteira entre o México e o oeste do Texas, ganância, corrupção e uma indiferença abissal pela vida humana. Lá fora está, principalmente, um homem que personifica todo esse horror: Anton Chigurh (Javier Bardem), assassino por ofício e por vocação que, numa caracterização típica do humor dos Coen, arruma os cabelos como uma dona-de-casa dos anos 50. Como o indestrutível e infalível Chigurh, Bardem se tornou o rosto de Fracos. Sua alma, porém, é Josh Brolin, no papel do sujeito que acha uma mala com 2 milhões de dólares perdida durante uma carnificina no deserto e vê nela a chance de transformar sua vida desapontadora. E o coração do filme está em outro lugar ainda – em Tommy Lee Jones, o xerife que, na trilha tanto do assassino como do ladrão acidental, constata com um misto de perplexidade e resignação que sempre há mais o que ver no mundo, e que isso não é necessariamente bom. Virtuosístico no estilo, o filme é ainda uma violenta, arrasadora e magnífica reflexão sobre como a compaixão permanece o mais elevado valor de que um ser humano é capaz.

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    (Miramax/Divulgação)
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