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Por Coluna
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Netflix etc.: 5 filmes que não merecem ser esquecidos

Algumas opções menos óbvias, mas nem por isso menos compensadoras, que andam escondidas no seu streaming

Por Isabela Boscov Atualizado em 3 fev 2020, 17h58 - Publicado em 1 fev 2020, 21h05

Dentro da Casa

Onde: Prime Video

Exasperado com a mediocridade de suas turmas, o professor de literatura do segundo grau Germain (Fabrice Luchini) se espanta ao ler a redação de Claude (Ernst Umhauer), de 16 anos: escrevendo com um escárnio que fere um pouquinho o senso de moral do professor, mas em uma prosa que enreda e seduz, o menino conta como, no fim de semana anterior, matou uma antiga curiosidade e entrou na casa do colega Rapha. Claude fala do espírito simplório de Rapha Filho, do humor meio bronco de Rapha Pai e descreve a aparência, o cheiro, a voz da mãe, Esther (Emmanuelle Seigner). E, em vez de pôr um ponto final no texto, atiça: “Continua”. A mulher de Germain (Kristin Scott Thomas) acha que ele tem de dizer a Claude que é reprovável desdenhar assim dos outros e cobiçar tão abertamente a dona da casa – mas também ela cede à provocação do “continua”. E, a cada nova redação, o casal estará mais perdido no labirinto narrativo que o rapaz vai tecendo, como uma espécie de versão bisbilhoteira da princesa persa Sherazade de As Mil e Uma Noites. Também o espectador sucumbe ao fascínio: este é o mais ardiloso e saboroso filme da carreira do cineasta François Ozon –  toda ela marcada, justamente, pela astúcia e pelo sabor. Ozon não é dado a esconder as falhas de caráter de seus personagens, mas é menos dado ainda a censurá-las.

Dentro da Casa
(Dans la Maison/In the House, 2012) (- Califórnia/Divulgação)

Appaloosa – Uma Cidade Sem Lei

Onde: GloboPlay

Em 1882, Appaloosa, no então território do Novo México, é o que diz o subtítulo do filme – uma cidade sem lei. Mas, com a chegada do xerife de aluguel Virgil Cole (Ed Harris, que também assina a direção) e seu parceiro, Everett Hitch (Viggo Mortensen), ela passa ao menos a ser uma cidade com algum freio às atividades predatórias do proprietário de terras Randall Bragg (Jeremy Irons), que formou uma suja, violenta e barbuda milícia particular para melhor tiranizar os moradores. Por quase todas as medidas, Appaloosa é um faroeste clássico: no ritmo desapressado, nos diálogos esparsos, nas vistas batidas de sol, na divisão clara entre gente de bem e bandidos, no humor discreto – Virgil, o homem que emana tanta autoridade, tem dificuldade para articular seus pensamentos, e depende de Everett para completar suas frases. Não demora, entretanto, para que um ou outro elemento de uma visão contemporânea comece a abrir caminho para dentro da história. Por exemplo, o retrato do atraso e da selvageria tentando se transformar – ainda sem muito sucesso – em civilização. Ou a personagem da esfuziante Allison French (Renée Zellweger), que se diz viúva e chega ao vilarejo perfumada e vestida em seda e logo se abanca com o xerife. E então com outro e mais outro, desde que estes estejam no comando da situação. A fronteira não é um lugar fácil para uma mulher, e toda vantagem é bem-vinda. A razão de ser do filme, porém, é outra: é o que existe de cumplicidade, amizade, admiração e amor (não erótico, mas nem por isso menos amor) entre Virgil e Everett. O assistente idolatra seu chefe e, como se verá, fará qualquer sacrifício por ele – ainda que entenda melhor do que ninguém seus defeitos.

Appaloosa – Uma Cidade Sem Lei
(Appaloosa, 2008) (- PlayArte/Divulgação)

Seabiscuit – Alma de Herói

Onde: Netflix

Um milionário que começou a vida com 21 centavos no bolso, um velho caubói que só conseguia se comunicar com seus cavalos, um rapaz criado sozinho em meio às desventuras da Grande Depressão, um cavalo de pernas tortas que todos davam como refugo: os quatro protagonistas de Seabiscuit são tão típicos do folclore americano, e sua história de sucesso é tão perfeita, que se corre o risco de tomá-los como clichês ficcionais. O que empresta grandeza ao filme, no entanto, é o fato de que esses são personagens reais, e que sua inacreditável trajetória se deu num momento – a década de 30 – em que os americanos não tinham por que se sentir esperançosos. Com seu porte pequeno demais para um cavalo de corrida, suas patas dianteiras que pareciam as pás de uma batedeira e seu temperamento errático – fruto de maus-tratos em páreos baratos –,Seabiscuit encontrou três pessoas que precisavam voltar a acreditar em alguma coisa e decidiram acreditar nele. Sob os cuidados de seu dono, o milionário Charles Howard, de seu treinador, o taciturno Tom Smith, e de seu jóquei também muito sofrido, Red Pollard, Seabiscuit se tornou um dos maiores fenômenos do turfe em todos os tempos, acumulando vitória atrás de vitória sobre animais de linhagem muito mais distinta e convertendo-se num ídolo das multidões. As cenas de corridas de cavalos são empolgantes e muito bem filmadas, e o elenco se mostra no seu melhor – nunca pouco no caso de Jeff Bridges, Tobey Maguire, Chris Cooper e William H. Macy.

Seabiscuit - Alma de Herói
(Seabiscuit, 2003) (- Universal/Divulgação)

Secretária

Onde: Prime Video

Durante os 100 minutos que dura o filme, E. Edward Grey, advogado, e Lee Holloway, sua funcionária, percorrem todos os passos de uma descoberta clássica — a de que são almas gêmeas. Mas esse trajeto não inclui flores ou jantares, e sim castigo físico e submissão. Lee, extraordinariamente interpretada por Maggie Gyllenhaal, acabou de sair de uma internação psiquiátrica. De volta ao convívio com sua família desajustada, ela recai em seus velhos hábitos — cortar-se e queimar-se. Na tentativa de escapar a esse ciclo, arruma seu primeiro emprego, como secretária do advogado E. Edward Grey (James Spader, numa atuação à altura da de Maggie). Grey, que é um reprimido clássico, tem sempre uma repreensão a fazer: Lee funga demais, veste-se mal, fala como criança, é uma datilógrafa desatenta. A cada correção, a adoração de Lee por seu chefe aumenta. No dia em que ele a faz curvar-se sobre a escrivaninha e bate nela enquanto ela lê uma carta cheia de erros em voz alta, pode-se ver no rosto de Lee o misto de espanto, alívio e enlevo que ela está sentindo: o fardo de infligir dor deixou de ser seu, e ela não está mais sozinha. Se há um momento arrebatador em qualquer romance, ele é exatamente esse, em que uma pessoa se reconhece na outra e compreende que pode compartilhar com ela o que é impossível dividir com qualquer outro. E Secretária não foge a essa regra, ainda que os caminhos do amor aqui pareçam bem menos ortodoxos, e bem mais polêmicos, do que dita o senso comum. A partir dessa cena, qualquer dúvida que ainda poderia existir dissipa-se: essa não é uma história de perversão ou abuso, mas de paixão.

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Secretária
(Secretary, 2002) (- Lionsgate/Divulgação)

À Procura da Felicidade

Onde: Netflix

Na ultrapopulosa categoria dos filmes feitos para a platéia se sentir bem (os feel-good movies), é obrigatório que o protagonista primeiro coma o pão que o diabo amassou e depois encontre uma saída gloriosa para seus problemas. À Procura da Felicidade não modifica a fórmula, mas a emprega com uma decência e uma honestidade que não têm nada de comum no gênero. Will Smith interpreta um personagem verídico: Chris Gardner, um vendedor de equipamentos médicos que, durante um ano péssimo de sua vida, perdeu tudo o que tinha e chegou a viver como sem-teto, com o filho pequeno, enquanto enfrentava um período de teste numa empresa de corretagem financeira. Dirigido pelo italiano Gabriele Muccino e contracenando com o próprio filho, Jaden, Smith consegue aqui uma delicadeza dramática que não revelava desde Seis Graus de Separação. O final feliz: Gardner ficou milionário, e Smith concorreu ao Oscar pelo papel.

À Procura da Felicidade
(The Pursuit of Happyness, 2006) (- Columbia/Divulgação)
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