Assine VEJA por R$2,00/semana
Impacto Por Jennifer Ann Thomas Respirou, causou. Toda e qualquer ação transforma o mundo ao nosso redor.
Continua após publicidade

Fungo da Antártica pode facilitar reaproveitamento de rejeito de mineração

Grupo de pesquisa da UFMG realizou testes com micro-organismos que têm potencial de separar minérios

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 jan 2020, 07h54
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Há mais em comum entre a Antártica e Minas Gerais do que os pães de queijo servidos durante o lanche no Navio Polar Ary Rongel, que acomodou a reportagem de VEJA na etapa final da expedição ao continente gelado. Desde 2006, o mineiro e microbiologista Luiz Henrique Rosa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), participa do Programa Antártico Brasileiro (ProAntar), no qual desenvolveu o MycoAntar, projeto que estuda a diversidade e a bioprospecção de fungos no continente gelado. Ao longo dos quase quinze anos de trabalho, o grupo de pesquisa identificou espécies da região, descobriu micro-organismos com potencial para serem usados nas indústrias de fármacos, alimentícia, aviação, entre outras, e está empenhado em abrir mais um caminho para a exploração científica na Antártica.

    Publicidade

    Em 2017, a aluna de pós-graduação em microbiologia da UFMG, Bárbara Porto, orientada por Rosa, coletou as primeiras amostras para um novo estudo em áreas chamadas de yellow points (local amarelo, em inglês). A coloração do solo é um aspecto importante porque a tonalidade indica que há enxofre na terra, elemento químico que torna o ambiente mais ácido do que outros. O objetivo é encontrar fungos resistentes a essa característica e, principalmente, que produzam ácido. Além da microbiologia, o estudo é feito em parceria com o geógrafo Fábio Oliveira, da área de geologia da mesma universidade.

    Publicidade

    A relação com o estado mineiro vai além da naturalidade do pesquisador. Quando a espécie ideal for descoberta, ela poderá ser usada para o processo de biolixiviação, o uso de micro-organismos para a obtenção de metais a partir de minérios de baixo teor e rejeitos da mineração – como os que vazaram após o rompimento das barragens das mineradoras Samarco, em 2015, e da Vale, em 2019, no distrito de Bento Rodrigues e em Brumadinho, respectivamente. Nas duas tragédias, 289 pessoas morreram e os rios Doce e Paraopeba foram contaminados. No contexto antártico, o estudo é inédito.

    “Sou nascido e criado em Belo Horizonte. É triste ver as montanhas indo embora. Existe um problema na mineração e a ciência pode contribuir para diminuir o impacto ambiental. Espero encontrar uma alternativa sustentável com a pesquisa antártica e levar uma solução para o Brasil”, explicou Rosa. Os primeiros resultados com rejeitos de mineração foram obtidos no início de janeiro e apresentaram bons resultados, mas, ressalve-se, ainda preliminares.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    A pesquisa identificou uma espécie que extraiu magnésio e, principalmente, manganês. Em comparação com o teste de controle (onde o fungo não foi aplicado), o resultado de obtenção do minério foi o dobro. O fungo passou 28 dias em contato com uma amostra de rejeito da região de Itabirito, onde a mineradora Vale também opera. O nome da espécie ainda não pode ser divulgado, pois o grupo tentará patentear a descoberta, o que poderá, um dia, gerar recursos para o Brasil.

    Segundo a Vale, “o manganês é o quarto metal mais utilizado do mundo. Ele é essencial na fabricação de aço e também de ferroligas, combinações de ferro com um ou mais elementos químicos, como o próprio manganês. Apesar de quase 90% da produção de manganês ser destinada ao setor de siderurgia, suas aplicações incluem ainda a fabricação de fertilizantes, de rações animais e de carros. O Brasil possui 10% das reservas mundiais de manganês, atrás apenas da Ucrânia (24%), África do Sul (22%) e Austrália (16%). A Vale é a maior produtora de manganês no Brasil e responde por cerca de 70% do mercado nacional”.

    Publicidade

    Na mineração, o rejeito é o resíduo do tratamento do material extraído na mineração, que pode ser ferro, cobre, ouro, entre outros. Normalmente, grandes blocos de rocha e terra precisam ser triturados, lavados e peneirados continuamente. Depois de isolar a parte de interesse, o restante se torna uma espécie de lama, por causa do uso de água, que é mantida em barragens. Rosa explicou que ainda há muito material com valor econômico misturado aos rejeitos, como ferro e manganês, e que a biolixiviação com o fungo antártico poderá ser uma forma de reaproveitar o material descartado nas barragens. Além do possível retorno financeiro, um dos objetivos é diminuir o impacto ambiental da mineração. Com o avanço da pesquisa, a expectativa é encontrar espécies que também reajam à presença de ferro, por exemplo, e que poderiam ser usadas para diminuir o estrago causado pelo rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho.

    “Ao retirar mais do rejeito, será possível diminuir a mineração bruta. Não é necessário cavar outro buraco, explorar mais. É uma ideia e quero trazer a Antártica para esse panorama. A partir disso, outros pesquisadores poderão se interessar pelo assunto e fazer o mesmo. Todos ganham”, afirmou. Mesmo ainda em fase de testes, apenas a ciência pode permitir imaginar um horizonte com menos lama e mais montanhas, no qual a solução talvez esteja no caminho para o extremo sul do mundo.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.