Ventos de mais de 100 quilômetros por hora, tempestades e queda de temperatura. As regiões sul e sudeste do Brasil foram impactadas pelo fenômeno chamado de ciclone extratropical, ou “ciclone bomba”. Dez pessoas morreram por causa do evento climático – nove em Santa Catarina e uma no Rio Grande do Sul – e quase 700.000 imóveis ficaram sem luz na região catarinense. Embora o ciclone tenha se afastado, ventos de até 70 quilômetros por hora ainda podem atingir o Sul nesta quarta.
De acordo com o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Mamedes Luiz Melo, a característica de “bomba”, pela alta intensidade, é causada quando ocorre uma queda brusca de pressão.
O ciclone é um intenso sistema de baixa pressão atmosférica. No inverno, é comum que esse tipo de evento ocorra na costa da região sul do Brasil, pois, apesar do frio, a água do mar ainda é mais quente do que a temperatura do continente. “A potência de ‘bomba’ aconteceu por uma queda brusca da pressão no centro do sistema de baixa pressão. É um sinal de que ele está mais forte do que o normal. Quanto mais baixa a pressão, associada a mau tempo, mais intenso será o ciclone”, explicou Melo.
De acordo com o meteorologista, as condições do momento em que ele surgiu facilitaram que ele se tornasse mais intenso. Na Argentina e no Paraguai, onde o ciclone se formou, as temperaturas estavam mais elevadas. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, as temperaturas estavam mais baixas. Pelas condições da atmosfera, foi como se um canal de ventos tivesse empurrado o ciclone em direção ao sul do Brasil. Com a chegada do fenômeno, também formou-se uma frente fria, que influenciou os outros estados brasileiros.
Segundo Melo, este evento específico de “ciclone bomba” não está diretamente relacionado aos efeitos das mudanças climáticas. Contudo, para o pesquisador e biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Philip Martin Fearnside, o aumento da temperatura dos oceanos fará com que os fenômenos de alta intensidade sejam cada vez mais frequentes.
“Com os oceanos mais quentes, isso significa que haverá mais energia e ventos mais fortes. O aumento do nível do mar terá influência sobre qualquer tufão”, afirmou. Além disso, o biólogo destacou como essas consequências estão relacionadas com as ações humanas. “O importante é não pensar nestes eventos como se fossem desastres isolados. Tudo que for relacionado ao aquecimento global é causado pela própria população humana. Precisamos controlar o efeito estufar e não emitir mais gases poluentes”, explicou.