No programa Roda Viva da TV Cultura, o ex-Secretário Nacional de Segurança do governo Lula, Romeu Tuma Jr., autor do best-seller “Assassinato de Reputações – Um crime de Estado”, fez com a repórter Cristine Prestes e os jornalistas Mário Cesar Carvalho (Folha), Eugenio Bucci e Fernando Gallo (ambos do Estadão) o mesmo que o PT fez com dinheiro público: botou no bolso.
Mas vamos primeiro às denúncias contra os petistas e seu Estado policial, com destaque para o item II [o vídeo completo está no IV]:
I – A INOCÊNCIA DE TUMA
Tuma contou que foi monitorado com escutas telefônicas durante dois anos pela parte da Polícia Federal “instrumentalizada” pelo PT, que, segundo ele, queria descobrir qualquer coisa – “uma amante que fosse” – para desmoralizá-lo, com o objetivo de tirá-lo do governo.
[Ouviram] “escutas telefônicas de uma conversa que eu tive com um amigo, um conhecido, que era presidente de uma associação da colônia chinesa, e este indivíduo foi preso. Ele era, pra você ter uma ideia, pro telespectador entender: ele era o denunciante naquela época de um esquema de pessoas que vendiam facilidades para o ingresso de chineses no Brasil quando o presidente baixou o decreto da anistia para os estrangeiros. Ele denunciou um esquema. E a Polícia Federal, ao gravar as minhas conversas, os meus movimentos, gravou ele. Ele não era o investigado! Isto precisa ficar claro. A Polícia Federal nunca investigou máfia nenhuma! Nunca existiu máfia chinesa! Até porque, quando você fala que [a PF] investigou a máfia chinesa, eu pergunto: cadê o inquérito? Cadê a organização mafiosa chinesa? Quero as tríades. Qual era essa estrutura piramidal? Quem era o chefe dessa máfia? Não! O investigado era o Tuma!… dentro de um procedimento criminal diverso, o que é uma aberração, uma anomalia que não existe no Código. Polícia faz inquérito. Procedimento criminal diverso é algo que não existe. É um instrumento de polícia de exceção.”
Em seguida, Tuma comentou o que aconteceu após a prisão do seu conhecido:
“Fui prestar meus esclarecimentos na Polícia Federal: este indidíduo foi preso, mas ele é o denunciante daquela verdadeira máfia que vende visto. Este meu depoimento sumiu! Sumiu! Eu, na Polícia Civil de São Paulo, se eu vir alguém jogar fora um documento, vocês todos jornalistas vão me acusar no dia seguinte, eu vou ser preso. Vou pra Corregedoria e vou ser expulso. Vou pra rua. Muito bem. Esta investigação prosseguiu e acabou! Foi arquivada! Não fui denunciado, porque não fui indiciado, e não fui processado. Isso ocorreu depois de dois anos de investigação, em setembro do ano de 2009.”
Tuma contou que falou para o ministro Tarso Genro que iria se afastar em função da investigação abusiva que estava sofrendo, da qual o presidente Lula também sabia, mas foi aconselhado a permanecer no cargo, porque nada havia contra ele. Mas eis que…:
“Em maio de 2010, surge nas páginas de um jornal de São Paulo aquela investigação encerrada! [Ele enuncia a manchete:] ‘O Tuma tem vínculo com a máfia chinesa’. Não tinha inquérito de máfia. Não tinha ninguém sendo investigado por questão mafiosa.”
O apresentador Augusto Nunes, aqui da VEJA Online, tentou agilizar a resposta para girar a roda da entrevista, mas Tuma fez questão de esclarecer:
“Isto é o cerne da questão. Todo mundo fala: ‘O Tuma era ligado à máfia, por isso que ele está atacando o governo’. Não, não! Eu nunca fui ligado à máfia. Não há inquérito que apure máfia, nunca houve! Então precisa acabar essa história, entendeu? Paulo Li [como é conhecido Li Kwong Kwen] não pertence à máfia. Se ele cometeu algum deslize, é problema dele. Aqui não existe no Código Penal que você seja punido e condenado por ser amigo de alguém. Nós estamos todos aqui: neste exato momento, algum parente nosso pode estar cometendo um deslize.”
Nas páginas 498 e 499 do livro, Tuma reproduz o voto do ministro relator Humberto Gomes de Barros – aprovado por unanimidade pelos membros da Comissão de Ética Pública -, que registra inclusive “a má-vontade com que se houveram a Secretaria Nacional de Justiça e o Gabinete do Senhor Ministro da Justiça” para remeter as informações solicitadas, má vontade esta que Tuma atribui a seus substitutos na secretaria, Izaura Miranda e Pedro Abromovay, que “fizeram de tudo para inviabilizar um desfecho favorável a mim naquele caso”.
O relator afirma que “nenhum dos deslizes éticos imputados ao Dr. Romeu Tuma foi comprovado” e que, apenas se comprovado que o Sr. Paulo Li é “o maior contrabandista do Brasil”, “ao manter com ele reconhecido vínculo de amizade, o Dr. Tuma colocou-se em situação de risco. No entanto, o potencial dano não se consumou. Tenho para mim que o indiciado não merece qualquer das sanções cominadas pelo Código de Conduta. Correto seria dirigir-lhe recomendação para que, no futuro, seja mais prudente em suas relações particulares”.
No Roda Viva, Tuma disse que não pediu para sair justamente porque nada tinham contra ele:
“No governo atual, ou nesses dez anos, quem deve pede pra sair. Eu não devia! Por isso que fiz questão de ser mandado embora. Isso eu quero deixar claro. Contrariei até meu pai. Ele falou: “Eles estão querendo que você saia, sai! Sai!”. Eu falei: não saio, porque eu conheço o jogo. Quem deve, quando é pilhado no último das consequências, pede pra sair, que é pra não esbarrar no governo. Não era o meu caso. Eu falei: vocês vão ter que pagar o preço de me mandar embora, porque eu não devo. Então eles sabiam que eu não devia.”
II – A CONFISSÃO DE GILBERTO CARVALHO SOBRE O CASO CELSO DANIEL
Tuma então narrou, a pedido de Ricardo Setti, da VEJA Online, a confissão que ouviu do próprio ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, de que ele levava a propina do esquema de Caixa 2 da Prefeitura de Santo André para o mensaleiro José Dirceu:
18min
TUMA: Quando aconteceu aquilo de eu falar pra ele [Gilberto Carvalho] “Foi a sua turma que matou o cara” [o prefeito Celso Daniel, em 2002], ali mudaram as coisas dentro do governo e eu comecei a ver que, ao invés de me defender, eles começaram a minar a imprensa, a vazar coisas de dentro do Planalto contra mim. E a imprensa, ao invés de falar “Não, [es]pera um pouquinho, vocês estão vazando o negócio, mas nós já investigamos o Tuma. Não tem nada contra ele, esse assunto está encerrado”… Eles começaram a falar pra Polícia Federal: “Instaura outro inquérito.” Então (…) eram quatro inquéritos pra investigar a mesma coisa, e nunca deu em nada. Eu nunca fui indiciado!
Nas páginas 484/5 do livro, Tuma descreve o episódio do “sincericídio”, no qual, convidado para um chope por Gilberto Carvalho para contar o que sabia do caso Celso Daniel até então, respondeu assim: “Ministro, vou dizer ao senhor o que aconteceu no caso Celso Daniel até onde eu pude apurar. A priori, seus amigos de Santo André não queriam matá-lo, mas assumiram claramente esse risco. Planejaram e mandaram executar o sequestro de Celso Daniel para lhe dar um susto. Sentiram-se ameaçados pela voracidade do partido. No caminho, ocorre um acidente de percurso [no Roda Viva, Tuma falou de uma possível perda de comunicação entre o bando e os mandantes] e acabam matando o prefeito. Em resumo, foi isso que aconteceu”. Na mesma página, o autor escreveu: “Também não posso descartar a hipótese de que, ao cometer aquele sincericídio e, sem querer, evitar o chope, tenha escapado de uma emboscada do tipo que vitimou Celso Daniel. Minha morte, ali, ficou restrita ao campo moral, pois, sem perceber, evitei a morte física. Quem pode duvidar hoje, após tudo, de que naquelas vias desertas, à beira-lago de Brasília, eu não seria emboscado e morto numa suposta ‘tentativa de assalto’?”
Sentiu o clima? Então voltemos ao Roda Viva:
TUMA: Aí chega essa [outra] conversa, onde (…) eu começo a chorar e falo: “Pô, eu sou vítima.” Eu dei um murro na mesa e comecei a chorar, pô. De dor e de quem tem vergonha na cara! De quem está sendo vítima! Aí ele chora e fala aquilo que tá no livro.
ENTREVISTADORES: O quê? O que é que ele fala?
TUMA: Isso. Ele falava exatamente aquilo: “Pô, eu sei o que é ser vítima. Eu também fui vítima da imprensa. Veja o que eu fiz, de coração. Eu fui falar com a família do Celso, dizer que o Celso não roubava, que ele não era ladrão, que ele nunca pegou dinheiro para pôr no bolso, que tudo que a gente arrecadava era pro partido.”
SETTI: “Tudo que A GENTE arrecadava”!?
TUMA: É… “Que eu fui levar o dinheiro pra dar pro Zé Dirceu pra dar pro partido.”
SETTI: Ele mesmo [fala isso]?…
TUMA: É. Ele fala de uma forma que, na hora, eu até fiquei com pena… Eu o senti vítima…
SETTI (ironizando): Coitado, né…
O trecho acima, narrado de memória por Tuma no programa da TV Cultura, está na página 489 de seu livro-bomba, na qual ele ainda completa a confissão de Carvalho, que aliás não o processou até agora, conforme disse que faria:
“Falei aquilo para confortar a família, para testemunhar que o Celso era honesto, e não é que os irmãos dele depois passaram o que lhe contei para a imprensa! Por isso sei o que é uma injustiça, sei o que você está passando.”
No livro, Tuma chama isto de “prova testemunhal irrefutável”, “a última peça que faltava no meu quebra-cabeça” do caso Celso Daniel.
O ex-delegado disse no Roda Viva ter feito fotos do cadáver, mostrando que havia marcas nas costas que sinalizavam tortura, e também que conseguiu desvendar o crime e fez um acordo de delação premiada com o assassino, mas que no dia seguinte ele foi morto na cadeia, antes de prestar depoimento: “Depois disso, fui afastado do caso, sob alegação de que o inquérito seria conduzido por uma delegacia especializada”, ironizou.
E vale lembrar, como escreveu Reinaldo Azevedo tempos atrás:
“Celso foi o primeiro de uma impressionante fila de oito cadáveres relacionados ao caso. O prefeito morto era já o coordenador do programa de governo do então pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. O partido seria o primeiro a ter motivos para desconfiar de alguma motivação política para o sequestro e imediato assassinato. Deu-se, no entanto, o contrário: o partido praticamente exigia que a polícia declarasse que tudo não havia passado de crime comum.
O último morto, por causa desconhecida (!), foi o legista Carlos Delmonte Printes, que assegurou que Celso fora barbaramente torturado antes de ser assassinado. Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado do PT que acompanhou o caso em nome do partido e teve acesso ao cadáver, assegurou à família de Celso, no entanto, que não havia sinais de tortura. O fato é conhecido porque foi denunciado pela família do prefeito.
Gilberto Carvalho, braço direito de Celso na Prefeitura, movimentou-se freneticamente logo após a morte do ‘amigo’ para que prevalecesse a versão do partido: crime comum.”
Não é mesmo maravilhoso viver no Brasil petista?
III – “EU ESCREVI UM LIVRO, NÃO FIZ UM INQUÉRITO”
No Roda Viva, Fernando Gallo, que trouxe as perguntas de casa muito bem anotadinhas para não esquecer a lição, sugeriu que Tuma pudesse estar cometendo calúnias [e a petralhada toda deve ter ficado bem atenta à resposta]:
Gallo: O sr. tem provas do que está falando? Se o sr. não tem provas, o sr. não está fazendo uma denúncia caluniosa?
Tuma: Eu escrevi um livro, não fiz um inquérito. Você [Fernando Gallo] está lendo um livro, você não está lendo um inquérito. No dia que você quiser ver prova, peça o inquérito, nós conversamos. (…) Testemunhal é prova também. A editora também não quis [incluir todas as provas], não é só questão de responsabilidade: não dava pra escrever um livro de quatro mil folhas.
Gallo: Põe na internet.
Tuma: Nós estamos lidando com o crime organizado. As coisas não funcionam assim.
Será que Gallo queria que as provas fossem postadas no Instagram também? Talvez ele curtisse.
Se Lula e Gilberto Carvalho pedirem pelo chat do Face, pode ser que Tuma as apresente também…
IV – “VOCÊ ACHA POUCO!?”
47min25seg
Gallo: Secretário, o sr. fala no livro de uma fábrica de dossiês do governo federal. No livro, o sr. cita um dossiê contra o governador Marconi Perillo, um contra o ex-senador Tasso Jereissati, um contra a ex-primeira-dama dona Ruth Cardoso…
Tuma: E aquele que o Pedro me falou, né… Que a gente comenta aí. Dos aloprados.
Gallo: O sr. ficou três anos e meio como secretário nacional de Justiça. Em três anos, a fábrica de dossiês do governo federal produziu três, quatro dossiês?
Tuma: Você acha pouco!? Eu saber desses? E tomar providência? Se fosse mais e eu estivesse assistindo, eu devia ser preso! O secretário nacional de Justiça soube de três e denunciou, você quer mais!? Se eu estivesse assistindo, eu seria um fabricante também. Aí já tá de brincadeira!… Você quer mais do que isso? UM é muito! UM é muito! Eu cito os casos que eu conheço. (…)
Em seguida, Gallo voltou ao tema das relações de Tuma Jr. com Paulo Li – que virou réu por formação de quadrilha – e tomou mais uma resposta acachapante:
Tuma: Ele VIROU réu. Ele VIROU réu. Você coloca muito bem. (…) Aliás, foi bom você colocar isso: sabe quem virou réu, que trabalhava comigo? Um monte de gente que está na Papuda. O que é que eu vou fazer? Eu tenho alguma culpa nisso?
Gallo: O sr. é amigo do Paulo Li ainda?
Tuma: Nunca mais falei com ele. O cara DESLIZOU, meu amigo. Paciência. Perdeu a confiança. Eu trabalhava com gente que está na Papuda… Eu não tenho responsabilidade [sobre isso]. O que é que eu vou fazer?
IV – MEUS COMENTÁRIOS EM TEMPO REAL
1.
Um jornalista [Mário César Carvalho] diz [aos 36 minutos] que encontrou um agente que desmentiu um trecho do livro “Assassinato de reputações” [sobre os grampos no Supremo]. Romeu Tuma responde: “Vamos aos fatos.” E tira um e-mail da pasta – ausente do livro – para comprovar que o agente mentiu para o jornalista, conforme ele mesmo – o agente – disse que faria. Tuma mostra o e-mail para a câmera e diz: “Eu não assassino reputação.” [“E os caras assassinam…”] Grande momento. A esquerda treme com a pastinha do Tuma!
2.
Traduzo outro grande momento [de Fernando Gallo]:
– Há relatos de moradores da cidade de Unidos da Carochinha que dizem que seu pai ocultava cadáveres…
– E eu preciso provar tudo que eu digo, mas se há relatos de moradores de Unidos da Carochinha, sou eu que preciso provar o contrário também, não é mesmo?…
V – OUTROS TRECHOS
Tuma reiterou que Lula era informante do DOPS e disse que, como tal, ele tinha privilégios, como mostra a foto em que o ex-presidente aparece fumando com a janela aberta do carro de polícia que o levava preso; e ainda falou que o escândalo “Rosegate”, da amiga íntima de Lula, Rosemary Noronha, faria Hollywood parecer brincadeira.
Seguem alguns outros trechos que merecem destaque:
“O grande perigo do estado policial é ter um Estado onde o órgão repressor tem o poder de perícia judiciária. Eles conseguem te violentar judicialmente com elementos que forjam tecnicamente. Eles forjam a prova e te põe na cadeia. Eu era filho de senador da base governista e secretário nacional de Justiça. Imagina o filho de um Zé mané.”
“Eles pegam o inquérito, escrevem o que acham e o seu advogado não pode ter acesso porque tá escrito ‘área secreta’. Num estado democrático de direito você não pode ter acesso a nada do que estão investigando. Você chega lá e não pode entrar onde estão os documentos porque diz que é área de inteligência. Isso é muito grave. Não diga que eu não avisei.”
“O Snowden é um herói nacional, o Tuma está no Roda Viva. Quem fala apanha. [Com] Quem não fala… não acontece nada.”
1min7seg: “A Polícia [Federal] que fala que o cara era chefe da máfia, deixa o cara jantar com o ministro, deixa o cara entregar um presente pro Lula. Porque ela está sendo direcionada para benefício de instrumentalização. Ele está preocupada em investigar adversário político. Ela não está preocupada com a segurança pública.”
“Esse Estado Policial não pode permanecer. (…) Eu não voto nesse governo por conta desse Estado Policial que se mantém nesse sentido técnico-jurídico.”
Mas e agora? Quem será que vai pedir o inquérito? Quem vai ter a coragem de abrir as investigações? Quem fará cumprir a lei no Brasil? Vamos ter de esperar o segundo volume do livro, anunciado por Tuma, para saber mais a respeito?
Eu só não digo que, em um país sério, 10% dessas denúncias abalariam a República, porque a seriedade sempre nos remete aos EUA – e, com a chegada e a permanência de Obama no poder, com todas os escândalos e mentiras de seu governo, já não sei mais se existe no mundo um país realmente sério.
Em todo caso, parabéns a Tuma Jr. por enfrentar com brilho, franqueza e coragem o crime organizado, o Estado Policial petista e a patrulha esquerdista da imprensa. A canalhada pira!
Felipe Moura Brasil – https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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