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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Por que se protesta?

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 2 dez 2016, 16h03 - Publicado em 27 fev 2014, 02h30

Passei a quarta-feira entre burocracias (cartórios, prefeitura, banco…) e reunião da VEJA, mas, em tempo, trago ao menos um resuminho dos protestos na Venezuela, com a imagem que os opositores dispararam nas redes sociais, à qual acrescento algumas informações.

Por que se protesta na Venezuela

Em sentido anti-horário, os motivos:
 
I. CENSURA
 
1) Sem papel, não há jornal.
 
Destaco trechos da matéria da Folha: Falta de papel ameaça jornais na Venezuela
 
“Em menos de dois meses, seremos um país sem jornais impressos, algo que nunca se viu no mundo.” A frase é de Miguel Otero, diretor do “El Nacional”, um dos mais importantes jornais venezuelanos, com sede em Caracas.
 
Na última semana, o “Nacional” anunciou em editorial que, devido a travas burocráticas impostas pelo governo Nicolás Maduro, só tem papel para imprimir jornal nas próximas seis semanas.
 
Desde outubro último, dez diários do interior fecharam, e 21 anunciaram que podem fazer o mesmo caso recursos para a compra de insumos não sejam liberados pela Cadivi (Comissão de Administração de Divisas). O “El Universal”, rival do “El Nacional”, também disse passar pelas mesmas dificuldades.
 
Os jornais venezuelanos dependem de papel importado, principalmente do Canadá (cerca de 80%). Para obtê-lo, as empresas devem pedir ao órgão permissão para comprar dólares.
 
Além disso, é necessário obter uma autorização que justifique a compra de produto importado.
 
“São trâmites demorados, que requerem muita antecedência. O governo demora a liberar a compra. Uma vez aprovada, não libera o recurso. Nessa espera, os jornais fazem reformas, acabam com suplementos, para resistir até quando puderem. Muitos não vão conseguir”, afirmou à Folha Carlos Carmona, proprietário e diretor do jornal “El Impulso”, de Barquisimeto.
 
Desde 2003, há um controle estatal do câmbio que impede a livre compra e venda de divisas, administradas exclusivamente pela Cadivi.
 
Nos últimos meses, o “Nacional” eliminou os suplementos de moda e de literatura. O “Impulso” passou de quatro cadernos para dois. Em editorial, o jornal, o mais antigo da Venezuela, anunciou que só tem como circular até o começo de fevereiro.
 
“É um ataque por via indireta, porém óbvia. Equivale a cortar o suprimento de água de um pequeno vilarejo”, disse em entrevista à Folha o jornalista americano Jon Lee Anderson (autor de “Che “”Uma Biografia”). “Maduro está imitando a China comunista, o stalinismo. Não entendo bem o que quer fazer. Associado ao fato de ser inábil para lidar com a economia, isso não leva a Venezuela a um futuro promissor”, completa. (…)
 
2) Emissora NTN24 foi retirada do ar pela Comissão Nacional de Telecomunicações por transmitir os fatos que aconteceram na marcha do Dia da Juventude, em 12 de fevereiro.
 
Mesmo assim, acrescento eu, a NTN24 continua denunciando na internet as canalhices da ditadura Maduro, como a agressão que Marvinia Jimenez, de 35 anos, sofreu de uma guarda nacional bolivariana chamada Josneidy Nayari Castillo Mendoza [assista à cena aos 2min10seg do vídeo abaixo, ou no vídeo específico sobre o caso – aqui]; e a suposta pressão que a juíza Raclenys Tovar Guillen, que emitiu a ordem de prisão de Leopoldo Lopez, sofreu para condenar o líder opositor sob a ameaça de perder o emprego, segundo revelou sua amiga de infância Gabriela, venezuelana que mora nos Estados Unidos, mostrando aos repórteres da emissora sua conversa com a juíza via Whatsapp.
 
A matéria original está aqui, mas a análise posterior com a comprovação de que o número do telefone da juíza no Whatsapp era dela mesmo segue no vídeo abaixo, aos 9 minutos.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=V8luzfOxALc?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=620&h=349%5D

Veja também na Folha: Maduro desistiu de expulsar CNN, diz emissora
 
II. ESCASSEZ
 
A cesta básica custa 8590 bolívares, quase três vezes o salário mínimo de 3270.
 
Faltam produtos básicos, inclusive papel higiênico.
 
A inflação, vale lembrar, chegou a 56,2% em 2013.
 
III. INSEGURANÇA
 
Foram cerca de 25 mil homicídios em 2013.
 
Em 92% dos casos denunciados, os assassinos permanecem impunes.

Antonio Cermeno pugilista morto Venezuela

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A vítima famosa da semana foi o ex-campeão mundial de boxe Antonio Cermeño, de 45 anos, encontrado morto por agentes policiais nesta terça-feira em estrada do estado de Miranda. Seus familiares, sequestrados junto com ele na véspera, conseguiram fugir quando o bando parou para reabastecer a caminhonete em um posto a caminho da cidade de Guarenas, mas Cermeño foi levado e assassinado, segundo informação do Ministério Público.
 
IV. JUSTIÇA PARA AS PESSOAS ASSASSINADAS DURANTE AS MANIFESTAÇÕES

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Bassil da Costa (24)

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Juan Montoya (51)

Robert Redman

Robert Redman (31)

José Mendez

José Ernesto Mendez (17)

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Génesis Carmona (22)

Asdrúbal Rodríguez

Asdrúbal Rodríguez (25)

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Alejandro Márquez (43)

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Geraldine Moreno (23)

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Jimmy Vargas (34)

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Wilmer Carballo

Wilmer “Jhony” Carballo (41)

…e Arturo Alexis Martínez (58), o caso mais misterioso de assassinato durante os protestos, pelo qual, naturalmente, a dupla de psicopatas Nicolás Maduro e Diosdado Cabello (o presidente da Assembleia Nacional) culpa as “balas fascistas” da oposição. Assista aos vídeos aqui e aqui, se quiser ter uma ideia do jeitinho singelo de ser dos discípulos de Chávez. O site El Impulso.com apresentou o depoimento de uma suposta testemunha que desmentiria a versão oficial – aqui.
 
As acusações do governo de violência por parte dos opositores felizmente ganham também reações debochadas, como o título deste vídeo em que uma manifestante “fortemente armada ataca” a polícia do estado de Falcón. Será que Maduro vai prendê-la também?

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Na Veja.com: Casos de tortura são relatados em meio a repressão na Venezuela

Trechos da matéria: “A tortura é a pior forma de violência do Estado. Os jovens venezuelanos torturados mostram que a máscara de democracia do regime caiu”. Com estas palavras, a deputada opositora María Corina Machado denuncia os casos de tortura relatados na Venezuela desde o início da onda de protestos contra o governo, há mais de duas semanas. A ONG Foro Penal Venezuelano tem documentados dezoito casos. “Todas estas pessoas tiveram seu direito de defesa violado. Não foi permitido que entrassem em contato com seus advogados e foram forçados a assinar um documento reconhecendo que, sim, foram atendidos por advogados”, afirmou o diretor da organização, Alfredo Romero.

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Um dos relatos mais abomináveis é o de um estudante de 21 anos que disse ter sido agredido e violado por um cano de fuzil por integrantes da Guarda Nacional Bolivariana, em Valência, no estado de Carabobo, na noite do dia 13. “Ele chegou em sua casa com muitos hematomas e escoriações após deixar a prisão”, disse a deputada, que conversou com a mãe do jovem.

“Bateram muito em mim, nas costelas, na cabeça. Caí no chão e me chutaram”, contou o jovem em entrevista à imprensa local. “Quando chegamos ao Comando da Guarda Nacional em Tocuyito [cidade vizinha de Valência] passamos por um cão e ordenaram para ele me morder” – prossegue o relato. “Abaixaram minha calça e colocaram o cano de um fuzil em meu ânus”.

(…) Os casos compilados pela ONG incluem um vasto repertório de crueldades: sacos na cabeça, choques elétricos, espancamentos com bastões de madeira.(…)

Serão estas as “melhores intenções” que, nesta quarta-feira, Lula atribuiu em Cuba a Maduro?

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De resto:
 
Maduro antecipou o carnaval para esvaziar os protestos, mas o povo segue firme na luta.

Manifestações por cidade Venezuela

O prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, afirmou que a Venezuela não está para festas: “Maduro, quando [você] disser que NÃO seguirá o modelo de Cuba e que liberará poderes sequestrados e presos políticos, conversaremos”; “Maduro, se [você] clama pela paz, desarme os grupos [chavistas] e detenha a Guarda Nacional que maltrata os cidadãos”; “Com carnaval ou sem carnaval, aqui a escasez continua, a insegurança segue desenfreada. Com carnaval ou sem carnaval, continuamos nas ruas.”

Mortos Venezuela Cartaz Carnaval

O presidente da Federación de Centros Universitarios da Universidad Central de Venezuela, Juan Requesens, segue na mesma linha: “Nós não descansaremos nas jornadas de carnaval, o movimento estudantil se estenderá desde cedo”, disse ele ao El Impulso, indicando que há cerca de 650 detidos, 20 torturados e 500 feridos em decorrência dos protestos dos últimos dez dias. “Olhem, senhor Maduro, Diosdado Cabello, [Jorge] Arreaza, somos estudiantes a pé, nossas armas são os livros: aqui não há, em parte alguma, ninguém pedindo dinheiro.”
 
Eis aí uma das diferenças básicas entre os protestos na Venezuela (contra o socialismo) e no Brasil (em geral a favor de medidas socialistas): os estudantes venezuelanos realmente estudam.
 
PS: Mas para não dizer que não temos exceções…

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=tdUqIj4WhC4?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=620&h=349%5D

Felipe Moura Brasilhttps://www.veja.com/felipemourabrasil
 
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