* Também publicado no Facebook.
A cultura da pegação, à medida que facilita aos jovens trocarem de par à menor insatisfação, dispensando-os de qualquer esforço de investimento pessoal que contribua para a evolução de seus peguetes, deixa rapazes e moças absolutamente desprovidos do retorno de seus pares quanto aos próprios comportamentos e desempenhos. Como todos se sentem também perfeita e arrogantemente livres para escolher outra opção caso a atual lhe perturbe de alguma forma, a reação diante de qualquer retorno, por mais sutil e educado que seja, é normalmente um ódio mortal a quem o deu, como se o fato de ninguém jamais ter lhe dito antes tais e quais coisas fosse não um sintoma de um carinho sincero da nova pessoa pretendente ou ao menos solidária, mas das virtudes excelsas das demais que partiram sem explicações.
O fato de os jovens enquadrarem negativa e adolescentemente qualquer retorno como “DR” [debater relação], ou de acreditarem na ideia de “tem que gostar de mim como eu sou”, como se “eu” fosse uma coisa assim estanque e incapaz de evoluir, só os inibe ainda mais na hora de dar ou exigir algum retorno, o que resulta na eterna insatisfação geral, recheada de rancores mil.
Se ninguém quer se meter na vida de ninguém, só no corpo, só os corpos mesmo é que podem melhorar.
Felipe Moura Brasil – https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil