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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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O Natal e o pum

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 5 jun 2024, 09h34 - Publicado em 24 dez 2013, 21h44

capaNatal

O pum foi tema de uma música de Vinícius de Moraes, Toquinho e Bacalov. Ela se chama “O ar (o vento)” – e foi gravada pelo conjunto Boca Livre no disco de letras e poemas musicados de Vinícius para crianças, “A arca de Noé 2” -, mas não há quem não se refira a ela até hoje, 32 anos depois do LP, como “aquela música do pum”. Em seus shows, Toquinho conta sua reação de estranheza quando Vinícius lhe disse que queria fazer uma música sobre o tema. “Mas o pum, Vinícius?” Sim. O pum. As crianças adoram, acham a maior graça, por que não? Resultado: de todos os puns voluntários e involuntários produzidos pelos compositores populares brasileiros, o de Vinícius é disparado o mais gostoso. Ninguém jamais adocicou o pum como ele.
 
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Mas não foram as rabanadas natalinas que me fizeram lembrar do pum de Vinícius. Foi o igualmente doce e bem-humorado disco “É Natal“, produzido por dois jovens compositores e instrumentistas de São Paulo, Filipe Trielli e Daniel Galli, sócios da Panela Produtora, que convidaram cantores veteranos como Monica Salmaso, Mario Manga e Paulo Padilha, e outros da nova cena musical paulistana como Raíssa Bittar, Vanessa Trielli e Lulina, para interpretar 11 canções inéditas (4 de Filipe, 7 de Daniel) sobre não apenas a festa do bom velhinho, mas a experiência humana real e imaginária que a envolve, com toda a graça que o famigerado disco da Simone não tem. Mas CD de Natal, Panela? Sim. De Natal. As famílias adoram, acham a coisa mais linda, por que não? Nos EUA e na Inglaterra – de Cole Porter a Red Hot Chili Peppers – todo mundo grava alguma coisa; já estava na hora de o Brasil correr (de trenó) atrás.
 
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O resultado é uma crônica natalina em capítulos musicais sempre divertidos, que vão desde o retrato da reunião familiar no blues-rock de abertura “É Natal” (“Tem alguém chamando lá no interfone / Corre pra botar o disco da Simone”, “E aquele primo que você nunca mais viu / vai chegar com fome pra comer todo o pernil”) até a balada de anunciação “Ele já vem” (“Itororó, Itanhaém, Xerém, Tracunhaém, em todos os lugares que imaginares, ele vem”), antes de fechar com a versão instrumental jazz-funk de “Jingle Bells” tocada pela Banda Paralela, no mesmo tom irreverente das inéditas. Destaque para a balada pop “Brilhim” (“O Natal tá cheio de brilhim”, “Brilhim nos olhos do menino / Na roupa do Papai Noel / No brinco da Tia Luzia, Brilhim / Brilhim nas estrelas do céu”), que merecia vaga até na “Arca de Noé” infantil do Vinícius. Nunca mais olharei para a árvore de Natal da Lagoa sem pensar em “Brilhim”.
 
De resto, no Brasil “tá mais de trinta graus / neve aqui, só artifical”, como canta Salmaso na balada “Mais um Natal”, mas o pior é se “A morena de Belém” – como na marchinha que leva esse título – deixa o Papai Noel tão apaixonado que “pode tirar o sapatinho da janela / Papai Noel trouxe presente só pra ela”; ou se você compra aquele brinco na “25” – como diz o samba do repertório -, bota a mesa, acende vela, tasca um CD do Roberto, “mas o negócio tá feio / meia-noite e meia / e você [ela…] ainda não veio”. Pelo menos o risco de confundir as Beléns e ir parar no Pará, como “O quarto rei” do ska que começa “no Império Romano, no ano zero”, ninguém corre, mas a imaginação de Trielli na voz de Maxado leva a nossa pelo mundo e pela história, enquanto os presentes não vêm. Como diz a marcha “Os descendentes“, “nós somos tatatatatatatatatatatatatatataranetos de Noel / trocamos mimos de felicidade / que embrulhamos aos pedaços em pedaços de papel”.
 
É que “depois de tudo que passou”, como resume o foxtrote “Depois de tudo”, “a gente bem que merecia um dia assim”, “um dia assim especial”. “Depois da correria / depois dos resfriados”, “depois das loterias / dos números errados”, mas talvez também antes e durante, a gente bem que precisa, através da doçura bem-humorada de uma arte cada vez mais rara em tempos de histeria, aprender a rir dos nossos fracassos, como as crianças, dos seus puns.
 
Que fique então no ar, depois das rabanadas e para o ano inteiro, menos o cheiro do “vento” do que o espírito deste disco.
 
Feliz Natal.
 
*******
 
Para baixar no iTunes – aqui.
 
Página do CD no Facebook – aqui.
 
Canal da Panela no Youtube – aqui.
 
Matéria na Folha de S. Paulo – aqui.
 
Vídeo-resenha de Chico Marques:
 
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