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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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O Brasil explicado pela Ponte Rio-Niterói

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 02h39 - Publicado em 14 nov 2014, 18h05

[* Desculpe a demora. Precisei revolver questões burocráticas. Vamos lá:]

Ponte

Você se julga capaz de reconhecer um mérito pontual no seu pior inimigo?

a) Sim: privada e publicamente.

b) Privadamente, sim; publicamente, não.

c) Privadamente sim; publicamente, somente se o reconhecimento não me diminuir em relação a ele.

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d) Não, não sou capaz em hipótese alguma.

e) Meu inimigo não tem méritos.

Se você marcou mentalmente a opção A, e não mente para si mesmo, desafio você a encontrar entre aqueles que querem mudar o nome da Ponte Rio-Niterói de Presidente Artur Costa e Silva para Herbert de Souza, o “Betinho”, alguém que tenha capacidade igual à sua. A presidente Dilma já tinha demonstrado em campanha a sua incapacidade de reconhecer publicamente o DNA peessedebista do Bolsa-Família, conforme admitido na época do lançamento pelo próprio Lula. Agora suas linhas auxiliares do PSOL e do PCdoB seguem seu exemplo.

Em conformidade com a linha do Plano Nacional de Direitos Humanos do governo federal, que estimula a alteração de logradouros públicos com nomes de autoridades ligadas ao regime militar, a Comissão de Cultura da Câmara aprovou a mudança na quarta-feira, sintomaticamente 13. O projeto ainda será votado na CCJ da Câmara e, se aprovado, seguirá direto para o Senado. Muito embora a discussão tenha descambado para o quebra-pau ideológico, os fatos que independem de opinião são os seguintes:

1) Sem Artur da Costa e Silva, por mais monstruoso que ele possa ter sido, não haveria a ponte como a conhecemos hoje. Foi ele que “acertou em bancar, em viabilizar, em sustentar a construção de uma obra que, embora sonhada e ansiada por mais de século, imperador, ditador ou democrata nenhum antes lograra encarar — obra que se tornaria elemento decisivo à integração física não só do Rio, mas do Brasil, marco incontornável da engenharia nacional; obra que ele próprio não veria pronta, morto bem antes; obra, a Ponte Rio-Niterói, que sequer é conhecida pelo nome oficial, mas que o homenageia porque simplesmente não poderia ser de outra maneira”, como escreveu no Globo em fevereiro Carlos Andreazza, editor da Record e neto de Mario Andreazza, o ministro dos Transportes nos governos Costa e Silva e Médici. “Ali não se homenageia a ditadura, o arbítrio, a tortura, mas um indivíduo que, apesar de muitos e tantos erros, acertou, não fossem várias as vezes, ao menos uma.”

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Herbert-Jose-de-Sousa-Betinho2) Betinho, por mais santo que possa ter sido (e já tratarei disso), nada fez pela construção da ponte. Nem sequer é carioca ou niteroiense, mas mineiro de Bocaiuva.

Estes fatos bastam para que qualquer ser pensante com um pingo de moralidade entenda que rebatizar a Ponte trocando o nome de um pelo outro é uma decisão política alheia ao bom senso e que tudo o mais é desconversa cínica.

Não que eu acredite que o autor da proposta Chico Alencar (PSOL-RJ) seja de todo incapaz de reconhecer o mérito pontual do ex-presidente. Ele tanto o reconhece privadamente que, publicamente, quer chamar a obra monumental pelo nome de um esquerdista que ele cultua, a fim não apenas de apagar mas de roubar qualquer vestígio de mérito inimigo para o seu próprio grupo ideológico.

“A escolha do Betinho deve-se à sua incansável luta pelos direitos humanos no período ditatorial e pela sua condição de símbolo dos exilados e da anistia. Retornando ao país, Betinho empenhou-se pela dignidade das populações vulneráveis e foi incansável na luta contra a discriminação aos portadores do HIV”, tentou justificar Alencar no projeto.

O que isto tem a ver com a Ponte? Nada. Em razão da perseguição política sofrida por Betinho durante a ditadura militar, a Comissão de Anistia já concedera à sua família, em 18 de agosto de 2010, uma indenização mensal, além de um montante retroativo. Sua viúva, Maria Nakano, também recebeu o direito a uma pensão vitalícia. Só mesmo socialistas e comunistas para exigir o nome de uma obra alheia como indenização extra.

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A deputada Jandira Feghalli (PCdoB-RJ) lembrou que muitas escolas batizadas com nomes de antigos militares daquele período já mudaram de nome. É verdade. O governador petista Jaques Wagner até celebrou no Facebook a mudança do Colégio Médici para Colégio Marighella, em referência ao chefão de extrema esquerda da ALN (Ação Libertadora Nacional) Carlos Marighella, que defendia abertamente execuções sumárias em seu “Minimanual da Guerrilha Urbana”.

“Não cabe mais homenagem a indivíduos que, notadamente, tenham cometido crimes e perpetrado violações de direitos humanos no período da ditadura”, disse cinicamente a comunista Jandira, como se este não fosse, também, o caso de Marighella, cujo grupo assassinou em covardes atos terroristas as seguintes pessoas cujas famílias não recebem pensão alguma nem foram convidadas a visitar o “Museu da Resistência”, de Wagner:

– José de Carvalho
– Guido Boné
– Natalino Amaro Teixeira
– José Getúlio Borba
– Newton de Oliveira Nascimento
– José Armando Rodrigues
– Bertolino Ferreira da Silva
– Sylas Bispo Feche
– Iris do Amaral
– Walter César Galleti
– Mário Domingos Panzarielo
– Sílvio Nunes Alves
– Manoel Henrique de Oliveira

“É necessária a reconstrução da narrativa oficial”, acrescentou Jandira, como se a narrativa oficial nas escolas, universidades e redações deste país já não fosse a de comunistas como ela que reconstroem a história real de acordo com os seus interesses políticos.

Resta evidente a indignação seletiva da esquerda com tiranos: se o tirano é militar, nem o seu mérito pontual pode ser reconhecido; se o tirano é de esquerda, a sua monstruosidade é transformada em mérito por meio de malabarismos verbais.

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O deputado federal Jair Bolsonaro (PP) ironizou Chico Alencar, dizendo que “ele poderia propor colocar o nome de Fidel Castro na ponte” ou “poderiam também propor trocar a estátua do Cristo Redentor por um busto de Fidel”. Não que Betinho tenha sido um ditador ou tirano, um Fidel ou Marighella. Ele foi, na verdade, um estrategista marxista que soube instrumentalizar a caridade, à qual a esquerda tradicionalmente se opunha alegando que ela amortecia a consciência social do proletariado e aplacava a revolta dos pobres. Como escreveu Olavo de Carvalho em março do ano 2000:

“As campanhas de ética e moralidade, que há uma década atiraram o País numa compulsiva e interminável caça às bruxas, não nasceram de nenhum intuito moralmente respeitável. Nasceram de uma perversa e oportunística decisão publicitária das esquerdas, que, cansadas de perder eleições, cederam enfim ao argumento estratégico do sr. Herbert de Souza, o famigerado ‘Betinho’, de que não deviam se opor abertamente aos valores dominantes, mas encapsular seus projetos políticos em slogans gerais e vagos, a que ninguém pudesse se opor sem assumir uma constrangedora aparência de defensor do mal. Assim nasceram as campanhas pela ‘Ética’ e ‘Contra a Fome e a Miséria’. Quem pode ser contra a ética ou a favor da fome e da miséria? Em pouco tempo todos os partidos e instituições, arrastados pela geral hipnose semântica, estavam postos a serviço da operação. Imaginando trabalhar pela moral e pelos pobres, trabalhavam para a glória da malícia esquerdista.

Pelos frutos os conhecereis. Em menos de dez anos, uma metamorfose psíquica obnubilou e inverteu todos os valores. Tão baixo desceu o nosso discernimento moral, que a hipótese de beatificar o estrategista espertalhão foi levada em conta seriamente, e dar dinheiro a um traficante e estuprador para ajudá-lo a estudar guerrilha tornou-se exemplo de conduta nobre. A política não se tornou mais limpa, mas todos os adversários da esquerda estão virtualmente sob suspeita e, nas próximas eleições, de cinco presidenciáveis, quatro estão na esquerda e o quinto a corteja despudoradamente. A operação ‘Betinho’ foi um sucesso.”

Foi um sucesso tão grande que a caça às bruxas baseada no monopólio esquerdista das virtudes parece não ter fim. Agora é conduta nobre dar nomes de terroristas a museus e escolas, e de estrategistas de esquerda à obra de um militar.

“Estão reescrevendo a história”, disse Bolsonaro. “Não basta a Comissão Nacional da Verdade caluniar as Forças Armadas. Agora querem dar o nome da ponte a quem não merece. Sem as obras dos militares, o Brasil não existiria. Os militares fizeram a Usina de Angra, a duplicação da Via Dutra e Itaipu Binacional. Médici negociou com a ONU o aumento do mar territorial brasileiro de 12 para 200 milhas náuticas. Sem isso, não teríamos o pré-sal de hoje. Médici construiu 15 hidrelétricas.”

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Pois é. Mas, publicamente, a esquerda não pode admitir nada disso.

Quem vive para dividir o país jamais aceitará que o inimigo faça uma ponte.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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